PROTESTOS: CONSTA QUE PLANALTO SUSPIRA ALIVIADO. ENTÃO É MAIS BURRO DO QUE PARECE!

Publicado em 12/04/2015 21:08
por Reinaldo Azevedo, de veja.com

12 DE ABRIL 1 – MUITOS MILHARES VÃO ÀS RUAS, NO BRASIL INTEIRO, CONTRA O GOVERNO DILMA, O PT E AS ESQUERDAS. CONSTA QUE PLANALTO SUSPIRA ALIVIADO. ENTÃO É MAIS BURRO DO QUE PARECE!

A Avenida Paulista tomada por milhares de brasileiros: green and yelow blocs

A Avenida Paulista tomada por milhares de brasileiros: green and yelow blocs

Há mais de uma semana o governo decidiu pautar a cobertura da imprensa, que, com raras exceções, aceitou gostosamente a orientação. Com variações, a cobertura destaca que há menos pessoas nas ruas neste 12 de abril do que naquele 15 de março. Assim, fica estabelecido, dada essa leitura estúpida, que um protesto político só é bem- sucedido se consegue, a cada vez, superar a si mesmo. Isso é de uma tolice espantosa, na hipótese de não ser má-fé. A população ocupou as ruas em centenas de cidades Brasil afora. Mais uma vez, PT, CUT, ditos movimentos sociais e esquerdas no geral levaram uma surra também numérica. Mais uma vez, o verde-e-amarelo bateu o vermelho da semana passada. E é isso o que importa.

De resto, é impossível saber o número de manifestantes deste domingo. Algum veículo de imprensa mandou jornalista cobrir o protesto em Januária, em Minas; em Orobó, em Pernambuco, ou em Ourinhos, em São Paulo? Haver menos gente na Avenida Paulista ou na orla de Copacabana, no Rio, não tem nenhuma importância. Num levantamento prévio, dá para afirmar que o “fora Dilma” foi ouvido em cidades de pelo menos 24 Estados e no Distrito Federal (ainda falta atualização). E — daqui a pouco chego lá — contem com o PT para turbinar os próximos protestos.

Consta que o governo respirou aliviado com o número menor, embora o Palácio do Planalto, ele mesmo, tenha, desta vez, resolvido se calar. Parece que não haverá Miguel Rossetto e José Eduardo Cardozo para cutucar a onça com a vara curta. A boçalidade ficou por conta da militância virtual e paga (farei um post a respeito). Respirou aliviado por quê?

Protesto em Belém: faixa do Movimento Brasil Livre pede a saída da Presidente Foto: Jairo Marques/Folhapress)

Protesto em Belém: faixa do Movimento Brasil Livre pede a saída da presidente (Foto: Jairo Marques/Folhapress)

Respirou aliviado no dia em que o “Fora Dilma” se faz ouvir de norte a sul do país?
Respirou aliviado no dia em que o Datafolha aponta que 63% apoiam o impeachment da presidente?
Respirou aliviado no dia em que a pesquisa revela que 60% consideram o governo ruim ou péssimo?
Respirou aliviado no dia em que essa mesma pesquisa evidencia que 83% acreditam que Dilma sabia da roubalheira da Petrobras e nada fez?
Respirou aliviado no dia em que esse mesmo levantamento demonstra que a crise quebrou as pernas de Lula, pesadelo com o qual o petismo não contava nem nos momentos mais pessimistas?

Por que, afinal de contas, suspira aliviado o governo? Com que jornada futura de boas notícias e alívio dos sintomas da crise ele espera contar? Sim, a indignação com a roubalheira é um dos principais fatores de mobilização dos milhares de brasileiros que foram às ruas. Mas há muito mais do que isso. Há a crise econômica propriamente dita e a sensação, que corresponde à realidade, de que o governo está paralisado.

Acontece que esse mal-estar só vai aumentar porque o pacote recessivo ainda não surtiu todos os seus efeitos. Mais: ninguém nunca sabe quando a operação Lava Jato vai chegar a um fio desencapado, como é o caso de André Vargas, por exemplo. Consta que o ex-vice-presidente da Câmara e petista todo-poderoso, ora presidiário, está bravo com o partido, do qual havia se desligado apenas formalmente.

Acabo de chegar da Avenida Paulista. Havia menos gente do que no dia 15 de Março? Sem dúvida! Mas também sei, com absoluta certeza, que, desta feita, o protesto se deu num número maior de cidades no Estado. No dia 15, encontrei verdadeiras caravanas oriundas de cidades do interior e de outras unidades da federação. Aquele foi uma espécie de ato inaugural. Havia nele a vocação de grito de desabafo, era um enorme “Chega!”. A partir deste dia 12, a tendência é que haja mesmo uma diminuição de pessoas em favor de uma definição mais clara da pauta.

Mas é evidente que se trata de um erro cretino imaginar que menos gente na rua implique que está em curso uma mudança de humor da opinião pública. Não está, não! E que se note: se o protesto do dia 15 tivesse reunido o número de pessoas deste de agora, muitos teriam, então, se surpreendido. Acontece que aquele superou expectativas as mais otimistas. Tomá-lo como régua de um suposto insucesso dos atos deste dia 12 é coisa de tolos ou de vigaristas. Mas o governo e o PT têm direito ao autoengano.

Vejo a coisa de outro modo: os eventos deste domingo, 12 de abril, comprovam o que chamo de emergência de uma nova consciência. Até torço para que o Planalto e o petismo insistam que os atos deste domingo foram malsucedidos. É o caminho mais curto da autodestruição. Esses caras ainda não perceberam que os que agora protestam não querem apenas o impeachment de Dilma. Essa é a pauta contingente. Eles falam em nome de uma pauta necessária, que é apear as esquerdas do poder, ainda que esse esquerdismo, hoje em dia, não passe de uma mistura de populismo chulé com autoritarismo.

Tenham a certeza, petistas e afins: a luta continua!

Por Reinaldo Azevedo

 

Datafolha 1 – Pesquisa evidencia o naufrágio de Lula. Ou: Lembram-se do tempo em que Gilberto Carvalho dizia que o PT contava com “um Pelé” no banco de reservas? Ou ainda: Abaixo do capeta!

Datafolha abril Lula-Aécio

Aí, ai… No terceiro dia do primeiro mandato de Dilma Rousseff, Gilberto Carvalho, nomeado, então, secretário-geral da Presidência, concedeu umaentrevista à Folha. Com a modéstia habitual que caracteriza os petistas quando julgam estar acima da carne-seca, afirmou
“(…) Acho que o governo da Dilma será de muita competência. Se Deus quiser, faremos um belíssimo governo, e ela será reeleita. É evidente que, se não der certo, temos um curinga. Estou dizendo para a oposição: ‘Calma. Não se agitem demais. Temos uma carga pesada. Não brinca muito que a gente traz. É ter o Pelé no banco de reservas’”.

Carvalho estava se referindo, claro!, a Lula. E olhem que, reitero, a entrevista foi publicada no terceiro dia do primeiro mandato. Nem se sabia ainda que comportamento adotaria, então, a oposição. Mas o chefete petista já estava lá, ameaçando com a  “volta do Lula”… Pois é. Parece que o Super-Homem se encontrou com a kryptonita da realidade, não é mesmo? Segundo pesquisa Datafolha publicada na Folha deste domingo — os infográficos que aparecem nos posts foram extraídos do jornal —, se a eleição fosse hoje, este seria o resultado do primeiro turno.

Como se vê, o tucano Aécio Neves largaria na frente, com 33% dos votos. Lula, acostumado a ver o seu nome liquidar os adversários logo no primeiro turno (embora ele não tenha logrado esse feito nas duas vezes em que venceu), agora amarga um segundo lugar, com 29%. Marina Silva e Joaquim Barbosa obteriam, cada um, 13%; deram outras respostas 9%, e 3% disseram não saber. Dada essa distribuição, é evidente que o Apedeuta perderia numa simulação de segundo turno.

Sim, é bem verdade que ele ainda é apontado como o melhor presidente do Brasil, com 50% das menções, seguido por FHC, com 15%. Getúlio Vargas obtém 6%. A importância desse ranking é próxima de zero. O que sabem os atuais eleitores sobre presidentes do passado remoto? Espantoso, isto sim, é que, na lista, Dilma obtenha os mesmos 2% de Juscelino e Sarney…

A crise e a roubalheira, e isto preocupa os petistas de modo especial, estão sendo desastrosas também para a imagem e a reputação de Lula. Não por acaso, nos protestos de rua, ele é tão execrado como Dilma. E, mais do que a ambos, há o repúdio ao PT.

Faz sentido? Faz, sim! Tanto o partido como o Babalorixá de Banânia reagiram de modo furioso e desastrado ao descontentamento das ruas. Vejam, por exemplo, o incrível João Vaccari Neto. Afogado num mar de denúncias, o homem continua nada menos do que tesoureiro do PT. É ele quem cuida das finanças do partido. E só continua no posto porque, até agora, Lula banca a sua permanência.

Para lembrar: um terço do eleitorado é o que o PT costuma ter no país, ainda que o capeta seja o candidato. Lula ficou um pouco abaixo: 29%. Abaixo do capeta.

Por Reinaldo Azevedo

 

Datafolha 2 – Larga maioria apoia o impeachment de Dilma: 63%; só 33% são contra

Datafolha abril impeachment vice

A pior de todas as notícias para Dilma Rousseff nesta pesquisa Datafolha de abril é a opinião dos brasileiros sobre o impeachment: nada menos de 63% dos entrevistados acham que, considerando tudo o que se sabe até agora sobre o petrolão, a Câmara dos Deputados deveria, sim, abrir um processo contra a presidente. O número é compatível com os 57% que dizem que ela sempre soube dos desmandos na estatal e nada fez e com os 26% que acreditam que, mesmo sabendo, ela não tinha como intervir.

Assim, até agora ao menos, os esforços feitos pela presidente para se descolar dos descalabros descobertos na estatal têm sido em vão. A população brasileira não acredita na sua inocência. E, convenha-se, não se pode achar que ela está sendo excessivamente rigorosa. Dilma era a gerentona da área nos oito anos do governo Lula — foi presidente do Conselho da estatal — e seguiu como o farol, a seu modo, da área energética em seu próprio mandato.

Os brasileiros sabem o que acontece se Dilma cair? Vinte e nove por cento afirmaram que “o vice” assume — sem citar o nome. Estão certos; outros 13%, “Michel Temer”. Somados os dois números, chega-se a 42%. Considerando que o impeachment de Collor e a ascensão de Itamar Franco já estão bem distantes da memória, que o vice-presidente, até havia pouco, tinha uma atuação discretíssima e que esse não é um tema frequente na imprensa, especialmente na TV aberta, o número me parece excelente.

Num dos textos da Folha, Mauro Paulino e Alessandro Janoni, escrevem:
“Também é característica do “Fora Dilma” a baixa taxa de conhecimento sobre o que acontece em caso de impedimento da presidente. No total da amostra, são apenas 12% os brasileiros que defendem a abertura do processo, sabem que o vice é quem assumiria e identificam corretamente Michel Temer (PMDB) como o virtual ocupante do cargo. A maioria, porém não sabe que o vice assume em caso de impedimento ou, quando sabe, desconhece Temer.”

Parece haver a sugestão de que os que pedem “Fora Dilma” são meio ignorantes. Eles também não devem ter lido Schopenhauer… “Ah, mas o filósofo não teria importância para o futuro político do Brasil”, dirá alguém. É verdade. Haver, no entanto, 42% que dão a resposta correta me parece muito auspicioso. Afinal, conhecer a regra sucessória, indicando o nome do substituto, não qualifica descontentamento. Ou qualifica? Não é preciso fazer vestibular para ir às ruas, certo? Nem para ser presidente da República, como se sabe…

E que se note: a imprensa toca muito pouco nesse assunto. E, quando o faz, é quase sempre para destacar que não haveria justificativa para o impedimento. Imaginem se adotasse o padrão da cobertura dispensada ao Collorgate… Naquele caso, havia uma espécie de ordem unida em favor do impeachment. E olhem que o escândalo era estupidamente menor. E, claro, não havia ninguém cobrando que os manifestantes recitassem de cor a Constituição.

Datafolha Abril impeachment dois

Dilma quer uma discretíssima notícia positiva? Embora a esmagadora maioria defenda o afastamento de Dilma (63%), número quase idêntico acha que isso não vai acontecer (65%). Só 29% acreditam nessa possibilidade. Serve de consolo. 

Por Reinaldo Azevedo

 

Datafolha 3 – Não há boa notícia para Dilma na pesquisa; expectativas dos brasileiros são extremamente negativas

Datafoloha Abril 2014

É bobagem os petistas tentarem forçar a mão. Não existem boas notícias para a presidente Dilma Rousseff na mais recente pesquisa Datafolha sobre a popularidade do seu governo e a percepção que têm os brasileiros da crise. A formulação de baixa voltagem da primeira linha da manchete da Folha deste domingo — “Reprovação a Dilma estaciona” não consegue compensar o desastre de opinião pública expresso na segunda: “maioria apoia o impeachment” (leia texto a respeito). O levantamento traz ainda uma péssima notícia adicional para o PT e para Lula: o prestígio do Babalorixá de Banânia também está indo para o ralo (leia post).

Sim, a reprovação estacionou, mas em que patamar? Há três semanas (16/17 de março), 62% consideravam seu governo “ruim ou péssimo”; agora, são 60% — uma variação dentro da margem de erro, de dois pontos para mais ou para menos. Os que o veem como regular passaram de 24% para 27%, e os mesmos 13% dizem que é “ótimo ou bom”. Não é possível, obviamente, ver aí um tendência de melhora. Até porque a avaliação de áreas da administração, que se traduz também nas expectativas da população, segue catastrófica.

Há três semanas, 77% diziam que a inflação iria aumentar; agora, são 78% — em linha, note-se, com a contínua elevação do índice. Os mesmos 6% afirmam que ela vai cair. Acham que a situação econômica do país vai piorar 58% dos entrevistados, contra 60% há três semanas. E oscilaram de 15% para 14% os que apostam que vai melhorar. O pessimismo com o desemprego, tudo indica, está em alta. Os que estão convictos de que a taxa vai aumentar passaram de 69% para 70%, e os que fazem fé de que vá diminuir oscilaram de 12% para 10% — percepção que também está em consonância com a realidade.

Corrupção

Datafolha abril problemas
Entre os problemas do país, a saúde segue sendo o principal. Em março de 2011, a “corrupção” não aparecia entre os cinco mais citados. Nas jornadas de junho, já ganhava o terceiro lugar, posição mantida em julho de 2014, nos protestos da Copa. Agora, está tecnicamente empatada com aquele que é o principal flagelo dos brasileiros. E isso ajuda a explicar o péssimo desempenho de Dilma na pesquisa.

A Petrobras segue a lhe pesar nos ombros. Nada menos de 83% acreditam que ela sabia, sim, das lambanças na Petrobras. Para 57%, sabia e nada fez, e 26% dizem que sabia, mas não tinha como evitá-la. Só 12% acreditam na ignorância específica da governanta.

A estatal deve publicar em breve seu balanço, e é possível que a empresa inicie uma tímida trajetória de recuperação — vai demorar muito até que entre nos eixos. Há aí para Dilma um fiapo de esperança. A questão é saber como a presidente vai, digamos, injetar um pouco de ânimo nos brasileiros. Afinal, até as pedras sabem que os efeitos do necessário ajuste recessivo ainda não se fizeram sentir em sua plenitude. E recessão nunca serviu para alavancar popularidade de governantes.

Por Reinaldo Azevedo

 

12 DE ABRIL 2 – PM fala em 275 mil na Paulista. Qual será o número do Datafolha? Ou: As quantidades que interessam são outras!

 Vejam esta foto de Alexsandro Quadros. Volto a ela depois.

Protesto Jacareí

Vamos ver. Na manifestação do dia 15 de março, a Polícia Militar de São Paulo estimou em um milhão os manifestantes da Paulista, e o Datafolha em 250 mil — um quarto, portanto. Desta feita, a PM fala em 275 mil. Caso o instituto mantenha a proporcionalidade, apontará 68.750 pessoas. Indago: é essa a questão relevante? Qual é o número do conforto para a presidente Dilma? Dada a situação do país, a resposta é esta: não existe.

Se a questão é lidar com quantidades, só duas interessam: o movimento de hoje reuniu algumas vezes mais gente do que aquele convocado pela CUT, PT e movimentos sociais, tendo Lula como um de seus incentivadores. Quando movimentos que acabaram de nascer — como Vem pra Rua, Brasil Livre e Revoltados Online — juntam mais gente do que os aparelhos tradicionais do estatismo-esquerdismo, dá para apostar que algo de novo está em curso. E olhem que esses grupos são formados basicamente por jovens, que despertaram e despertam para a política livres do assédio moral das esquerdas.

Mais uma vez, no Brasil inteiro, vimos pessoas de verde-e-amarelo se manifestando em paz, com alegria, com entusiasmo. Nem sombra de violência, nada! Os protestos se dão num clima de absoluto respeito aos patrimônios público e privado. As Polícias Militares apenas acompanham os atos, entre um selfie e outro, porque não precisam recorrer ao uso legal e legítimo da força para conter baderneiros.

Sei que esse clima de respeito às leis, à institucionalidade e à Constituição mexe com os piores instintos dos esquerdistas, que fazem do rancor, da violência e do ódio o combustível de suas mui particulares concepções de justiça social.

Contra os fatos e contra a história, as esquerdas reivindicavam o monopólio do humanismo, da alegria e até do bom humor. Hoje, escondem-se atrás do teclado para demonizar o povo, pelo qual sempre nutriram profundo desprezo.

A foto
A foto lá do alto foi enviada à Folha por Alexsandro Quadros. Trata-se de um flagrante da manifestação de protesto na cidade de Jacareí, no interior de São Paulo, que tem pouco mais de 200 mil habitantes. Um Brasil de todas as raças, que compõem a raça humana (a única que existe), ali se manifesta. E come coxinha para tirar uma onda da cara dos petistas.

Jacareí acabará não entrando na conta do Palácio do Planalto. Mas Jacareí e outras centenas de cidades existem e abrigam brasileiros que foram às ruas.

As vozes se multiplicam país afora, e o PT, felizmente, se nega a reconhecer o óbvio. Que continue a errar. O Brasil agradece.

Por Reinaldo Azevedo

 

12 DE ABRIL 3 – A “Marcha a Brasília” e a “Pauta dos 50”. A oposição surgida na sociedade se manifesta e cobra a outra, a do Parlamento  

Kim Kataguiri  (no protesto do dia 15): ele anuncia a

Kim Kataguiri (no protesto do dia 15): ele anuncia a “Marcha a Brasília”

Rogério Chequer (no dia 15 passado): o próximo passo é a

Rogério Chequer (no dia 15 passado): o próximo passo é a “Pauta dos 50″

O Movimento Brasil Livre anunciou neste domingo que dará início, no próximo dia 17, a uma “Marcha a Brasília”. A turma sairá da Praça Panamericana, em São Paulo. Segundo Kim Kataguiri, 19 anos, um dos coordenadores do MBL, o objetivo é chegar à capital federal no dia 17 de maio e lá promover uma grande manifestação.

O “Vem Pra Rua” também vai para o Planalto. Rogério Chequer, um dos coordenadores, diz que representantes de 50 movimentos que se opõem, vamos dizer, ao “statu quo” apresentarão a pauta das ruas ao Congresso Nacional nesta quarta, dia 15.

Tenho insistido neste aspecto, como sabem: uma das novidades, desta feita, é haver um “depois”. Tão logo se desocupam as ruas, há pessoas planejando o momento seguinte. E uma das boas notícias é que elas não se orientam segundo a lógica da oposição formal. Esse não formalismo, no entanto, não esbarra em práticas ilegais e violentas, como é o corriqueiro entre as esquerdas.

Neste domingo, note-se, a oposição também foi alvo de críticas na Paulista. Kataguiri disse que ela não pode continuar com uma “postura frouxa”. Renan Santos, também do MBL, cobrou uma presença maior do senador Aécio Neves (PSDB-MG) no debate e disse que ele “sumiu”. Os manifestantes exortaram ainda os senadores tucanos Aloysio Nunes e José Serra, ambos de São Paulo, e os presidentes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Renan Calheiros (PMDB-AL), a encaminhar o pedido de impeachment de Dilma.

Eis mais um sinal da, como posso chamar?, salubridade desses movimentos de protesto. Sua pauta tem mesmo de ser mais ampla e mais radical do que a das oposições formais. Eles têm de ser para o oposicionismo, em alguma medida, o que os ditos “movimentos sociais” são para o petismo, mas com uma diferença: os grupos militantes são meras franjas do PT ou de partidecos de esquerda; dependem, para existir, do suporte dessas legendas e, com frequência, do estado. Já as forças que se organizam contra o lulo-petismo são, de fato, independentes. Não têm nenhum vínculo formal e doutrinário com os tucanos.

“Ah, então o MBL ou o Vem Pra Rua não reconhecem o papel institucional da oposição?” Tolice! Se não reconhecessem, não estariam fazendo cobranças. O que eles estão dizendo é que fatias crescentes do Brasil têm um nível de urgência que ainda não foi percebido pela oposição institucional.

Tratei desse assunto na minha coluna de sexta na Folha, que segue abaixo, reproduzida na íntegra. Notem ali que afirmo que o PSDB também terá de se reinventar se não quiser ser tragado junto com o PT.
*
Trabalhadores sem partido, uni-vos!

Um amigo, Felipe Nogueira, me sugeriu o tema desta coluna. Há uma nova consciência se formando no país. Ela não sabe direito quais são os pressupostos do PT. Também não tem muito claros os fundamentos do PSDB. Uma coisa é certa: essa turma não é mais refém dessa dualidade que, a seu modo, só interessava aos litigantes, como em “Os Duelistas”, o excelente filme de estreia de Ridley Scott. As personagens de Harvey Keytel e Keith Carradine passam a vida tentando matar um ao outro. Até o dia em que o desequilíbrio acontece, e um deles morre.

Bem, e aí? Aí o filme acaba em melancolia. Não estou dando spoiler nenhum. Por óbvio, haveria a hora em que um dos dois cometeria um erro. Aconteceu. E o outro pôde experimentar, então, a verdadeira solidão.

Há um novo lugar na política brasileira que, até agora, não foi ocupado por ninguém. Os milhares, ou milhões, que saíram às ruas no dia 15 de março são órfãos de partido, são órfãos de representação, são órfãos de porta-vozes. A maioria conservadora do país –que excita o tédio e a fúria pretensamente elegantes e inequivocamente persecutórios da revista “Piauí”– não encontra seus representantes na política institucional.

É crescente o número de pessoas dessa maioria a perceber que os tucanos, por exemplo, continuam, com as exceções de praxe, com medo “do povo que há” porque demasiadamente preocupados “com o povo a haver”. Peessedebistas, em suma, ainda privilegiam em seu discurso uma população, digamos, escoimada de suas supostas impurezas.

Vários movimentos que se opõem ao atual estado de coisas convocaram um protesto para este domingo, dia 12. Talvez reúna menos gente do que o do dia 15 de março. Superar aquele marco não é relevante. Nenhuma sociedade, a menos que viva uma convulsão pré-revolucionária, se mantém permanentemente na rua contra o “statu quo”.

O sintoma que interessa ao futuro é outro. Mesmo liderando uma máquina ainda poderosa e organizada, CUT e PT protagonizaram um vexame na terça passada. Nem os companheiros compareceram ao enterro da última quimera de Luiz Inácio Lula da Silva. Quem apostaria, até outro dia, que a prontidão de mulheres e homens comuns, sem o abrigo de bandeiras, superaria a da militância organizada? Mas hoje é assim.

Os procuradores da velha ordem ainda insistem em ouvir no alarido dessa rua sem pedigree o sotaque daquela dualidade que interessava a oportunistas e picaretas. Acabou. Não há mais. Quando a esquerda financeira da revista chique para botocudo faz pouco caso da direita-sem-banco que produz, bate panelas e se nega a financiar o PT, a gente tem de concluir que algo de efetivamente novo está em curso no país. Para a tristeza dos dinossauros de punhos de renda.

E essa novidade não depende nem da adesão nem da bênção daqueles que se queriam os donatários da legitimidade das causas. A tão sonhada, pelas esquerdas, “democratização” dos meios de comunicação se realiza na prática e leva à praça a voz dos que trabalham e arrecadam impostos. E isso parece insuportável aos ouvidos dos distributivistas do fruto do trabalho alheio –desde que o spread bancário financie a boa consciência, é claro!

Tucanos versus petistas? Que coisa velha, santo Deus! Também o PSDB terá de se reinventar, e haverá de ser à direita, se não quiser ser banido, junto com o PT, do universo de referências desses que ora despertam. 

Por Reinaldo Azevedo

 

12 DE ABRIL 4 – A população na Paulista: segundo a PM, 275; segundo o Datafolha, 100 mil

Huuummm. Diminuiu a desproporção entre os números da Polícia Militar e do Datafolha em relação ao protesto da Paulista. No dia 15 de Março, a PM apontou um milhão, e o Datafolha, 210 mil — 21%. Desta feita, a mesma PM fala em 275 mil; se o instituto mantivesse a proporção, apontaria 57.750. Mas não. Viu quase o dobro: 100 mil. Atenção! A petezada, já chego lá, está berrando na Internet que, fiquemos com o número menor, 100 mil pessoas só na Paulista são um índice de insucesso. É mesmo? Por que o PT e a CUT, então, não tentam colocar ao menos 101 mil? Ora…

Comparações com protestos em favor das diretas ou mesmo com atos não-políticos, como a marcha evangélica ou a parada gay são despropositadas. Os primeiros só existiram no centro-sul do país, e, atenção!, uma única cidade — São Paulo, Rio ou Belo Horizonte — juntava brasileiros oriundos de todo os lugares. O mesmo se diga sobre as outras duas manifestações.

Agora, é diferente! Estima-se que houve protestos em pelo menos 400 cidades.

Por Reinaldo Azevedo

 

12 DE ABRIL 5 – Desafio o PT, a CUT e Lula a pôr nas ruas 240.001 pessoas de verdade; Ou: Mobilizar fantasmas, picaretas e robôs nas redes sociais é fácil

Eu adoro a frase com que Talleyrand definiu os Bourbons, e eu a vivo repetindo para sintetizar a prática dos petistas: “Não aprenderam nada, não esqueceram nada”. Por que digo isso? Se o Planalto, desta feita, se comportou com prudência e não mobilizou ministros para falar besteira sobre as manifestações, os petistas, como de hábito, não se contiveram.

Enquanto milhares de pessoas estavam nas ruas para protestar contra o governo e para pedir o impeachment de Dilma, a militância paga do partido emplacava no Twitter o “#AceitaDilmaVez”. É… Não deixa de ser uma ótima provocação para excitar os próximos protestos. Na sua página na Internet, o PT nacional publicava um texto verdadeiramente estupefaciente, intitulado: “Protestos regridem e militância toma as redes sociais”. Reproduzo um trecho em vermelho.

Enquanto os protestos minguavam nas ruas, neste domingo (12), simpatizantes de Dilma Rousseff e militantes do PT mobilizaram as redes sociais e tornaram a hashtag #AceitaDilmaVez a mais comentada no País. O tema ocupou lugar de destaque nos trending topics (TT) do Twitter no Brasil a partir das 13h e chegou a ser o segundo tema mais debatido no mundo.
A mobilização dos internautas foi tão intensa que, no fim da tarde, cerca de 100 novos tweets por minuto foram lançados ao microblog em apoio à presidenta. Por outro lado, nas ruas a mobilização reuniu cerca 240 mil pessoas, segundo estimativas das polícias militares. O total representa um décimo do número de pessoas registradas pelas polícias militares em 15 de março.
O vice-presidente nacional e coordenador das redes sociais do Partido dos Trabalhadores, Alberto Cantalice, parabenizou em seu perfil os usuários que apoiaram o partido pelo microblog. “Militância do PT e apoiadores do Governo Dilma deram uma grande contribuição à democracia atuando intensamente nas redes”, afirmou.”
(…)

Retomo
O texto acima demonstra que, felizmente, o PT realmente está perdido. Tudo indica, para o bem do Brasil, que o quadro é mesmo irreversível. Ou, então, vejamos:
a: ainda que o número divulgado pelo partido — 240 mil — estivesse certo, isso colocaria os atos deste domingo entre as maiores manifestações do país;

b: comparar o berreiro na Internet com a população real, gente de carne e osso, que está efetivamente nas ruas, que dedica o dia de descanso ao protesto político, é sinal de desespero;

c: o protesto deste domingo deve ter reunido, deixem-me ver, umas 15 vezes mais pessoas do que o organizado pela CUT, pelo PT e por Lula no dia 7;

d: em São Paulo, só para se ter um ideia, os vermelhos mobilizaram 400 pessoas no dia 7; a turma do verde-e-amarelo, 275 mil (segundo a PM) ou 100 mil (segundo o Datafolha);

e: o PT nunca admitiu que os protestos do dia 15 juntaram 2,4 milhões; agora, assume esse número para dizer que os atos deste domingo reuniram um décimo daquele total;

f: o PT, como se vê, pretende enfrentar a população real, de carne e osso, com a turma treinada no chamado “MAV”: Mobilização em Ambientes Virtuais, uma das maneiras empregadas pela legenda para aparelhar também a Internet.

Ao aderir a esse tipo de provocação, das mais tolas que há, o PT dá um estímulo e tanto a futuros protestos.

Pois é… Os petistas sempre se orgulharam de estar ao lado do tal “povo”, que eles decidiram privatizar. Digamos que tenham sido mesmo 240 mil os manifestantes deste domingo em todo o país. Desafio o PT, a CUT e Lula a pôr nas ruas 240.001 pessoas em defesa do governo e do partido.

Mobilizar fantasmas e robôs na Internet é fácil. Basta ter muito dinheiro e pouco caráter. Quero ver é o partido juntar muitos milhares de mulheres e homens reais, a exemplo do que se fez neste domingo. O protesto não custou quase nada. Exigiu pouco dinheiro e muito caráter.

Texto publicado originalmente às 21h24 deste domingo

Por Reinaldo Azevedo

 

12 DE ABRIL 6 – Temer faz a coisa certa e, à diferença dos petistas, não demoniza manifestantes

Então vamos lá. O peemedebista Michel Temer, vice-presidente da República e novo coordenador político do governo, compareceu neste domingo ao velório de Paulo Brossard (é claro que ainda escreverei a respeito), no Rio Grande do Sul. E falou sobre os protestos. Em vez de hostilizar os manifestantes, como é prática no petismo, fez o contrário, informa a Folha:
“Nós temos que estar muito atentos a essas manifestações. O governo está prestando atenção a essas manifestações. Elas revelam, em primeiro lugar, e vou dizer o óbvio, uma democracia poderosa. Em segundo lugar, o governo precisa verificar quais exatamente são as várias reivindicações e atender a essas reivindicações. E é isso que o governo está fazendo.”

Nem vou entrar no mérito se está fazendo ou não — acho que não, mas essa é outra questão. Estamos de tal sorte desacostumados a manifestações de massa contra o governo central que não nos escandalizamos quando partidos políticos, autoridades e jornalistas as tratam como se fossem pregação golpista.

Temer ainda fez uma boa associação entre Brossard e o protesto deste dia 12:“Ele representa aquilo que hoje está nas ruas. A democracia foi devolvida, em grande parte, pela atuação extraordinária do professor, do ministro Paulo Brossard, no PMDB, no MDB de antigamente.”

É isso. Um governante responsável, numa democracia, não demoniza o povo, quando este se manifesta, como tem sido o caso, nos limites estritos da democracia e do estado de direito.

Se Temer tivesse dito alguma porcaria, iria apanhar aqui. Como disse a coisa certa, então eu o elogio. É assim que funciona.

Ah, sim: ainda escreverei um texto comparando o comportamento da imprensa em três momentos: campanha das diretas, impeachment de Collor e protestos contra Dilma e o PT. 

Texto publicado originalmente às 22h27 deste domingo

Por Reinaldo Azevedo

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Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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2 comentários

  • victor angelo p ferreira victorvapf nepomuceno - MG

    Sem falar nos "cortes" de imagem, quando a câmera se fixava numa faixa com dizeres contra o govêrno, não dava tempo pra ler ...Onde está a imparcialidade de informação?

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  • victor angelo p ferreira victorvapf nepomuceno - MG

    Esta moça fanhosa da Globo, dando as notícias do Jornal Hoje, fixando-se somente em quantidade de manifestantes, sempre destacando os levantamentos da PM a menor nos calculos, como se isto fosse o principal da notícia... A gente nota a parcialidade favoravel ao governo deixando antever o conluio ente esta emissora e o PT... Podem colocar 100 milhões na rua que eles vão falar que o Brasil tem mais de 200 milhões de habitantes, e assim por diante...

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