Dilma reaparece zombando da inteligência alheia, por RICARDO NOBLAT
De que adiantou a presidente Dilma ter ficado quase dois meses sem responder a perguntas de jornalistas para ao fim e ao cabo romper seu silêncio dizendo um monte de sandices? Perdeu uma oportunidade de ouro de permanecer calada.
A maioria dos brasileiros não a perdoa por ela ter mentido tanto durante a campanha que a reelegeu. Tudo o que ela disser daqui para frente será recebido com desconfiança. Pois bem: assim que pôde, Dilma voltou a zombar da inteligência alheia.
O que resta demonstrado depois de tantos meses de investigação sobre a roubalheira na Petrobras? Que diretores e gerentes, alguns nomeados ainda por Lula, montaram uma formidável máquina de arrancar dinheiro de empreiteiras para financiar partidos.
Quando tudo isso começou? No primeiro governo Lula. Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras, confessou ter sido subornado por uma empresa holandesa ainda no período de Fernando Henrique Cardoso na presidência. Mas esse foi um fato isolado como ele mesmo reconheceu.
A corrupção organizada e envolvendo funcionários e empreiteiras a serviço da Petrobras só deu sinal de vida na Era PT. Daí... Daí como é possível que Dilma cometa o descaramento de atropelar a verdade para tentar repartir a culpa do PT com o PSDB de FHC?
Isso só tem um nome: desonestidade intelectual.
Como na campanha, Dilma imagina sair no lucro repetindo mentiras até que elas acabem aceitas como verdades. Não é por que o truque deu certo antes que dará certo outra vez.
Pedagogia da catástrofe, por Cristovam Buarque
Aparentemente estamos em um tempo em que argumentos não têm papel pedagógico; só as catástrofes convencem. O mundo parece ter apenas duas cores e estar parado no tempo ((Cristovam Buarque - é professor emérito da UnB e senador pelo PDT-DF)
Chama-se “pedagogia da catástrofe” o conjunto de lições tiradas de tragédias geralmente anunciadas e desprezadas. A população de São Paulo está passando por um aprendizado desse tipo.
Depois de anos desperdiçando água e sujando rios, investindo em asfalto e estádios, em vez de reservatórios, sem incluir nas escolas o respeito à água e demais preocupações ambientais, a população começou a conservar água.
A pedagogia da catástrofe funcionou para o povo, mas os governos, aparentemente, não aprenderam e continuam resistindo a fazer as necessárias políticas de investimento e de educação, e a população segue de olhos fechados para outros problemas.
Estamos esperando a destruição da Petrobras para só então aprendermos o risco do aparelhamento do Estado e da corrupção ligada ao financiamento de campanha por empreiteiras.
Por anos, o governo federal caminhou a passos firmes na direção da atual crise fiscal e a estagnação econômica.
Muitos alertamos para os riscos da baixa poupança, do excesso de gastos, da preferência pelo consumo, da falta de base educacional, mas o governo preferiu caminhar até o ponto da pedagogia da catástrofe.
Para conseguir a reeleição, o governo federal prometeu o que não ia cumprir, sem considerar as consequências da desconfiança criada pelo divórcio entre o discurso do marqueteiro na campanha e a fala dos ministros depois da posse.
Tudo indica que precisaremos da catástrofe de um engarrafamento absoluto para percebermos o erro da opção da indústria e do transporte com base no automóvel privado; e de uma guerra civil em todas as ruas das cidades para admitirmos a violência que criamos com um modelo de desenvolvimento centrado no crescimento econômico, concentrando a renda, relegando a busca de educação da cidadania e a construção de harmonia social.
A crise ecológica talvez só seja enfrentada quando o aquecimento global já tiver provocado todos os desastres planetários que se avizinham, mas que população e líderes se negam a ver.
Aparentemente estamos em um tempo em que argumentos não têm papel pedagógico; só as catástrofes convencem. O mundo parece ter apenas duas cores e estar parado no tempo; as análises que procuram mostrar as diferentes nuances dos problemas e prever suas consequências são recusadas.
Há uma clara preferência pelas ilusões instantâneas no lugar da realidade em movimento, até que a pedagogia da catástrofe desperte a consciência, corrigindo os erros quando o preço já é muito alto.
É pouco provável que as próximas eleições mostrem que o povo aprendeu com seus erros eleitorais e consequentes opções de desenvolvimento, tanto quanto a população de São Paulo aprendeu com o desprezo pela água. Mesmo assim, é preciso insistir nos alertas, ainda que não sejam ouvidos, porque não tentar convencer seria uma catástrofe pessoal.
Petrolão - Nisman: Laços Brasil-Argentina
Os governos Dilma, aqui, e Cristina Kirchner, às margens do Rio Da Prata, nesse encrespado começo da Quaresma (por Vitor Hugo Soares -- É jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitor_soares1@ terra.com.br )
"O juiz teme jornalista que não conhece os procedimentos da justiça"
A frase é de Cláudio Andrada, jornalista argentino especializado em informação judicial, com passagens marcantes na cobertura de grandes escândalos políticos-criminais em seu país. Está na entrevista a Teódulo Dominguez, publicada no livro "Entre Periodistas” (Entre Jornalistas). Leitura mais que recomendável para profissionais de imprensa, advogados, juízes, ministros do Supremo ou da Justiça – nos governos Dilma, aqui, e Cristina Kirchner, às margens do Rio Da Prata, nesse encrespado começo da Quaresma.
O livro não é novo. A edição em espanhol que tenho é de 1993 e foi adquirida em Buenos Aires em 1994, ano do atentado contra a sede da mutuária judaica AMIA, que arrasou um quarteirão inteiro no bairro Once, centro comercial da capital portenha: 85 pessoas mortas, centenas feridas de todas as idades, algumas com sequelas graves (físicas e psicológicas), que carregam até hoje.
Passa o tempo, mas um fato permanece: a atualidade da coletânea de entrevistas deste livro de referência para mim (jornalista curtido nos trancos e solavancos dos dois lados da fronteira, em diferentes períodos de atividade profissional nas redações de A Tarde, Jornal do Brasil e revista VEJA). Em especial a de Andrada, sobre as históricas desconfianças e ruídos constantes que permeiam as relações profissionais entre os homens da imprensa e os da justiça. Isso vale tanto para nós, diante de coberturas factuais e análises opinativas de escândalo do tipo Mensalão e do Lava Jato (ou Petrolão, se preferirem) e seus segredos mais tortuosos que não cessam de brotar na aparentemente inesgotável teia de corruptos, corruptores e afins.
Também, ou principalmente, para eles. Os vizinhos, na terra do Caso AMIA, que corre impune há 21 anos. Mais tenebroso ainda depois que o promotor Nisman foi encontrado morto, há um mês, com um tiro de revólver na cabeça. Ele era o encarregado geral (por nomeação do ex-presidente Nestor Kirchner) da apuração do caso. A notícia da sua morte chocou a nação, na véspera do dia em que ele anunciara que iria denunciar formalmente a presidente Cristina Kirchner, por suposto envolvimento em negociatas vultosas e manobras com o governo dos Aiatolás, para encobrir a participação direta de iranianos no planejamento e execução do terrível atentado no bairro Once.
A impunidade ao longo de mais de duas décadas, seguida da morte de Nisman, agora começa a levantar os argentinos em multitudinárias manifestações. A exemplo das realizadas em várias cidades de diferentes regiões do país, na última quarta-feira, 18. A "Marcha do Silêncio" reuniu, só em Buenos Aires, debaixo de chuvas pesadas, quase meio milhão de participantes. O fato e suas poderosas imagens da multidão silenciosa e indignada marchando nas ruas da grande cidade sul-americana, debaixo de guarda-chuvas abertos, emocionou a Argentina. Mais que isso, mexeu com sentimentos e nervos de sociedade democráticas do mundo, sedentas de justiça e contra a impunidade, principalmente de poderosos da política, dos negócios e dos governos metidos em escandalosos conluios.
Precisei, infelizmente (ou não?) abrir uma picada no meio da selva destes dias iniciais da Quaresma. Mas chego a duas situações relevantes (e relacionadas) desta agitada semana também no Brasil: Primeiro, a reportagem da VEJA, "Feitiços e Feiticeiros", assinada por Daniel Pereira e Robson Bonin, que abriu as cortinas do sigiloso e estranho encontro em Brasília, de advogados de poderosos empresários corruptores, presos na Operação Lava Jato. Na conversa, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, chefe maior da Polícia Federal, tranquiliza empreiteiras ao garantir que investigações da Lava-Jato sofrerão uma reviravolta depois do Carnaval", denuncia a revista semanal. O encontro foi confirmado pelas partes envolvidas.
Sobram contradições, no entanto, a confirmar, sobre o exato conteúdo das conversas "en catimini", como qualificou o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, ministro relator do histórico processo do Mensalão. Ele condenou duramente os encontros, em segredo, entre partes envolvidas na causa criminal, e até pediu a demissão de Cardozo pela presidente Dilma Rousseff. Tudo isso na saraivada de mensagens sobre o assunto disparada pelo magistrado no Twitter. Este é o outro fato relevante, além da matéria da VEJA. Destaco três mensagens de Joaquim Barbosa que considero essenciais no caso: "Explico: o processo judicial cuida de interesses ferrenhamente contrapostos. Tem de ser transparente, dar igualdade de chances às partes", anota na primeira. "No processo judicial não devem existir encontros "em catimini”, às escondidas, entre o juiz e uma das partes. Igualdade é o lema”, diz na segunda. E mais uma, crucial: "Se você é advogado num processo criminal e entende que a polícia cometeu excesso/deslizes, você recorre ao juiz. Nunca a políticos!”.
Este é o ponto fundamental que cobra respostas éticas, verdadeiras e responsáveis. O mais são penduricalhos, para desviar a atenção e desguiar os olhos da sociedade do que efetivamente importa: a verdade dos fatos, doa em quem doer. Por fim um registro: a expressão "em catimini” do tuite de Joaquim Barbosa, reconduziu-me a memória aos bancos da Faculdade de Direito da UFBA, nas aulas do saudoso professor de Direito Romano, Adalício Nogueira, igualmente brilhante ex-ministro baiano do Supremo Tribunal Federal.
Fez-me ir buscar no dicionário francês, a origem contraditória da locução adverbial surgida na segunda metade do século XIV, mas de origem incerta. A mais provável faz ligações com "caixas de segredos” (caixas pretas?). A expressão nasceu na mesma época do verbo "catir", substituído por "cacher", que trocou a expressão "faire le catinus”, por "faire l'hypocrite” (jeito hipócrita de fazer as coisas.) Precisa mais?
O tíbio e a cara de pau, por RUY FABIANORuy Fabiano é jornalista de O GLOBO
O que o PT tem de cara de pau o PSDB tem de tíbio. Daí a desastrosa equação histórica a que o país está submetido
A rejeição crescente ao governo petista – e que gerou 51 milhões de votos para Aécio Neves nas eleições presidenciais - não se traduz necessariamente na escolha do PSDB como seu antípoda.
Aécio, que não é neófito em política, sabe que foi beneficiário de uma circunstância. O PSDB, idem. Saber aproveitá-la pode somar à carreira de ambos, mas, até que isso aconteça, o descrédito do sistema partidário coloca a todos no mesmo balaio.
Recente pesquisa do Datafolha mostrou que mais de 80% da população não se sentem representados por nenhuma sigla - e desconfiam de todas. Romper esse estigma depende de algo mais do que contar com a incompetência e o desgaste do adversário.
Depende de determinação e audácia, que têm faltado aos tucanos. Desde as eleições de outubro, o personagem que com mais firmeza enfrentou o PT é da própria base governista: Eduardo Cunha, do PMDB, que tem sido bem mais audaz que Aécio.
O PSDB, ao contrário, tem se mostrado negligente. No imediato pós-eleição, pôs em dúvida o sistema de apuração (chegou a ingressar no TSE com um pedido de auditagem das urnas) e denunciou o uso indevido (criminoso, diga-se) dos Correios em Minas Gerais, comprovado por diversos vídeos e pela confissão do deputado Durval Ângelo (PT-MG), na presença do presidente daquela estatal, Wagner Pinheiro, numa reunião do partido.
Nenhuma dessas denúncias, gravíssimas, prosperou. Não mais delas se falou, o que leva muitos a crer que, mesmo fundamentadas, talvez não o estivessem o suficiente. Ou, então, pior, teriam sido objeto de negociação com os infratores.
Há dias, Aécio disse: "Olha, eu não sou golpista, sou filho da democracia. (...) Não acho que exista nenhum fato específico que leve ao impeachment”. E condenou as manifestações de rua, que bradavam por aquela causa, deixando implícito que eram golpistas.
Os depoimentos até aqui conhecidos da Operação Lava-Jato mostram que a Petrobras não apenas foi saqueada numa escala sem precedentes, como seus recursos teriam financiado a campanha da presidente reeleita nas duas eleições (2010 e 2014).
Mesmo assim, o PSDB mede as palavras para se posicionar diante do escândalo. Com isso, os petistas ficam mais ousados – e, reconheça-se, jamais pecaram por tibieza. São peritos, ao contrário dos tucanos, em tomar iniciativas e em exercer o descaro.
Um exemplo: o ex-gerente da Petrobras, Pedro Barusco – o tal que se dispôs a devolver 100 milhões de dólares que recebeu como propina ao longo dos governos Lula e Dilma -, informou que o PT, pelas mãos de seu tesoureiro, João Vaccari Neto, levara 200 milhões de dólares de comissão em algumas obras.
Barusco era assessor de Renato Duque, diretor de Serviços da Petrobras, nomeado por indicação de José Dirceu. Os três – Vaccari, Duque e Dirceu - estão soltos.
O PT negou, ameaçou processá-lo e desqualificou-o moralmente como informante. Mas bastou que Barusco dissesse que também recebeu propina da empresa holandesa SBM Offshore ao tempo em que o PSDB era governo – mesmo ressalvando que se tratava de transação direta entre ele e a empresa corruptora - para que, subitamente, o PT e a presidente da República passassem a lhe dar crédito.
Dilma, depois de um longo sumiço, valeu-se da declaração de Barusco para afirmar, com uma cara de pau espantosa, que a culpa do que hoje ocorre na Petrobrás – com seus 88,6 bilhões de rombo decorrentes da corrupção, em 12 anos de petismo (Graça Foster diz que é mais) – é responsabilidade, vejam só, dos tucanos.
Se o PSDB, disse ela, tivesse investigado em 1997 aquela gorjeta de que falou Barusco, nada disso teria ocorrido. Ora, e o que, quanto a isso, fez o PT, em seu 12º ano no governo?
Não apenas não investigou, como montou uma estrutura criminosa, sistêmica e explícita, que sugou a empresa numa escala inédita na história humana, segundo o The New York Times.
O que o PT tem de cara de pau o PSDB tem de tíbio. Daí a desastrosa equação histórica a que o país está submetido.
As ruas já o perceberam. Já constataram que, se o país depender da virilidade tucana, nada acontecerá. Vencerá mais uma vez a cara de pau, como aconteceu ao tempo do Mensalão.
A ideia de que impeachment é golpe decorre de um de dois fatores: ou inapetência política em arrostá-lo ou ignorância jurídica - ou ambas. Não pode ser golpe algo que está previsto na Constituição e circunstanciado na legislação ordinária, já tendo sido acionado pelo próprio PT e PSDB contra o governo Collor, sem que o país tenha abdicado da democracia.
Aécio parece mais preocupado em zelar pela imagem de bom moço, rejeitando apoio conservador – embora desse segmento tenha recebido grande parte de seus votos -, que em correr os riscos que o momento histórico impõe. Não só ele, mas seu partido.
A História é implacável com os que não a percebem. Oferece oportunidades, mas é cruel com os que não as aproveitam.
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