Os cubanos libertados dispensam a falsa alegria de quem lhes negou socorro
O presidente fora-da-lei reage ao cartão vermelho com mais pontapés nos juízes
Não existem brasileiros acima da lei. Existem os cumpridores da lei e os fora-da-lei. Ao colecionar delinquências que afrontam o cargo que ocupa e o Tribunal Superior Eleitoral, o presidente da República se incluiu acintosamente na segunda categoria e reduziu a contraventores aprendizes os governadores cassados por safadezas eleitoreiras. É preciso detê-lo agora. Ou o Judiciário enquadra Lula ou Lula desmoraliza o Judiciário. Não existe uma terceira opção.
A debochada reincidência desta terça-feira sublinha com tinta vermelha essa advertência feita pela coluna no começo de junho. De volta de mais uma viagem inútil, o presidente fora-da-lei começou a entender o que é um mandato em seu ocaso. Há trinta anos no palanque, enfim vai descobrindo que precisa pensar em algum emprego. Daqui a 170 dias, acordará longe do Palácio da Alvorada e sem direito a entrar sem bater no gabinete que já não será seu.
Devolvido ao Brasil real ─ sem ajudantes-de-ordens, sem agentes de segurança, sem carregadores de mala, sem o exército de empregados, assessores e secretárias, sem a multidão de áulicos, sem cartões administrativos, sem plateias amestradas, sem helicópteros, sem o Aerolula, sem intérpretes e, sobretudo, sem poder ─, Lula logo entenderá por que o general Golbery do Couto e Silva vivia dizendo que, no País do Carnaval, nasce capim na porta da casa de todo ex-. Os visitantes começam a rarear no primeiro mês e desaparecem no segundo. Há endereços mais lucrativos a frequentar.
Se Dilma Rousseff perder a eleição, Lula vai tentar a volta a Brasília no sereno, num Brasil que terá percebido o logro imenso da Era Lula. Se Dilma vencer, vai sonhar com o retorno já transformado em ilustração da regra sem exceção: toda criatura esquece que houve um criador e ocupa inteiramente o espaço político que herdou. Como a segunda hipótese é menos aflitiva, o chefe de governo se reduziu a chefe de campanha. E faz o que pode, e a lei não permite, para eleger a sucessora que inventou.
A fábrica de mentiras em funcionamento desde janeiro de 2003 passou a trabalhar em três turnos depois da constatação feita pela FIFA: falta tudo para a Copa do Mundo de 2014. Nos últimos três anos, nada saiu do relatório que desenhava um Brasil com cara de Europa. “Precisamos construir estádios, estradas, o sistema de telecomunicações, aeroportos e ver mesmo se há capacidade suficiente em hotéis”, alarma-se o secretário-geral da entidade, Jerome Valcke. No caso, a primeira pessoa do plural é uma licença esportiva. Os cartolas internacionais estão fora desse “nós”, restrito aos pais-da-pátria que se metem em aventuras bilionárias e a nós, brasileiros comuns, que pagamos a conta.
“As providências estão impressionantemente atrasadas”, confirma o relatório do Tribunal de Contas da União. “Potencializa-se o risco de que o governo federal assuma custos não-previstos”, avisa o ministro Valmir Campelo. Confrontado com a onda de sinais de alerta, um estadista faria uma análise sóbria do quadro preocupante. Surpreendido pelo cartão vermelho da FIFA, Lula reagiu com mais pontapés nos juízes: fez outro comício criminoso.
Ao usar como pretexto a inauguração do lançamento do edital de um trem-fantasma, conseguiu superar-se. Há oito anos no poder, transferiu a culpa pelo que não fez para os presidentes dos 25 anos anteriores. No fim do segundo mandato, depois de ter agravado sensivelmente a situação falimentar do transporte ferroviário, prometeu que o trem-bala chegará antes da Copa do Mundo. Daqui a quatro anos.
Em junho de 2007, o Ministério dos Transportes informou que a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, estava em Roma para concluir a montagem do grupo de investidores estrangeiros ansiosos por embarcarem na maravilha sobre trilhos. A viagem entre o Rio e São Paulo duraria uma hora e 25 minutos. Pelo prazer de cruzar o Vale do Paraíba a 360 quilômetros horários, os passageiros pagariam US$ 60 por cabeça. Orçado em US$ 9 bilhões, o colosso mobilizaria dúzias de canteiros de obras durante oito anos. Mas valeria a pena: sem que o governo gastasse um só tostão, o Brasil inauguraria o primeiro trem-bala do subcontinente em 2015. Palavra de Dilma Rousseff.
Nesta terça-feira, Lula elogiou-se pela autoria da ideia, elogiou Dilma pela execução e avisou que a locomotiva estará apitando na curva em 2014. Sem maiores explicações, o que começará três anos mais tarde ficará pronto um ano mais cedo.
É cinismo demais e vergonha de menos. É muita vigarice.
O Primeiro Árbitro e o bandeirinha risonho
O advogado Ricardo Lewandowski chegou aonde chegou sem que se averiguasse se é provido ou não de notável saber jurídico. Não precisou disso para subir na vida: alguns amigos influentes e muita sorte foram suficientes para transformá-lo em desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo e, depois, em ministro do Supremo Tribunal Federal, posto que no momento acumula com a presidência do Tribunal Superior Eleitoral.
O círculo de amizades o ajudou a convencer o eleitorado de que o doutor formado pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo merecia ocupar a vaga de juiz reservada aos bachareis. O voto de uma amiga da família bastou para que que fosse instalado no STF. Vizinhas em São Bernardo do Campo, Marisa Letícia Lula da Silva vivia ouvindo da mãe de Lewandowski elogios ao filho estudioso, inteligente e muito capaz. Assim que apareceu uma toga sem dono, a primeira-dama indicou o menino, o ministro Márcio Thomaz Bastos topou assumir a paternidade da ideia e Lula nomeou mais um.
Não tem motivos para arrepender-se. Disposto a cometer qualquer ato ilegal para eleger Dilma Rousseff, o padrinho conta com a brandura do afilhado incumbido de presidir a temporada eleitoral. Em 18 de abril, Lewandowski recorreu a uma espécie de imagem muito cara ao presidente para justificar a cumplicidade por omissão: “Se o árbitro toda hora apita impedimentos e pênaltis, a partida não anda. Quanto menos a justiça intervier, mais bonita será a eleição”. Comparou-se a um juiz de futebol para ensinar que o presidente da República só quer embelezar o espetáculo da corrida às urnas com uma vistosa sequência de crimes.
Só faltava o registro visual do compadrio que desmoraliza o Poder Judiciário. Não falta mais nada, informa a foto acima. Numa cerimônia no Itamaraty, Lula fingiu desculpar-se pela delinquência da véspera para reincidir no pecado. “É que fiquei com a obrigação moral de dizer que quem começou o trem-bala foi a companheira Dilma”, fantasiou o palanqueiro irrecuperável. “Foi ela que começou, trabalhou, organizou”.
Confiram a imagem que capturou o presidente em flagrante delito. Com a falsa seriedade de quem se sabe culpado, Lula capricha na pose de Primeiro Árbitro. O sorriso abobalhado de Lewandowski é o do bandeirinha que concorda com todas as bandalheiras do juiz de araque a quem deve o emprego.
0 comentário
Wall Street fecha em baixa no primeiro pregão de 2025; Tesla pesa
Copercampos supera meta orçamentária de 2024 com faturamento de mais de R$ 4,2 bilhões
Abertura de mercado no Vietnã para peles salgadas de bovinos
Mapa celebra renovação do PACIC e reforça parceria com o México para exportação de alimentos essenciais
Gabinete da Índia aprova pacote para subsidiar fertilizantes à base de fosfato
T&D - Íntegra do programa de 01/01/2025