Retenciones menores oficializadas nesta 2ª na Argentina; apesar de aliviar margens, medida alivia margens, mas ainda é insuficiente
O governo de Javier Milei oficializou nesta segunda-feira (27), por meio do decreto 38/2025, a diminuição das retenciones e a eliminação do tributo nas chamadas 'economias regionais' até o meio deste ano. A oficialização com a publicação no Diário Oficial se deu após a declaração, em uma coletiva de imprensa, da equipe do ministro da Economia, Luis Caputo, no final da última semana.
Para a soja, a alíquota caiu de 33% para 26%; para farelo e óleo de soja de 31% para 24,5%; trigo, cevada, sorgo e milho de 12% para 9,5% e o girassol de 7% para 5,5%. No biodiesel permanecem os 23%.
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"Os objetivos do Governo Nacional, ligados à transformação da política econômica, exigem a adoção de medidas que permitam otimizar a utilização dos recursos do Estado para apoiar o programa de estabilização macroeconômica", traz o decreto. "Um dos objetivos da gestão é promover a inserção internacional da Argentina, acompanhada do aumento das exportações agroindustriais que hoje representam mais de 60% do total exportado pelo país e que em 2024 terão apresentado um desempenho positivo com um crescimento em valor de mais de 25% em relação ao ano anterior".
Em linhas gerais, com o que mais traz o decreto publicado no início desta manhã, o objetivo do governo argentino é garantir que os produtores tornem-se mais competitivos, em especial porque já estão sendo - mais uma vez - acometidos por adversidades climáticas que deverão reduzir o potencial produtivo de suas safras, gerando ainda mais preocupações e fragilidade financeira. As medidas valem até o dia 30 de junho.
O BRASIL PODE SENTIR O IMPACTO?
Sim. A comercialização brasileira do complexo soja pode sentir o impacto das mudanças entre as retenciones na Argentina, como explica o analista do complexo soja da Agrinvest Commodities, Eduardo Vanin, em entrevista ao Bom Dia Agronegócio nesta segunda. Os principais afetados poderão ser os derivados.
"O produtor argentino tem cinco meses para conseguir ganhar um ágio, um prêmio na sua soja de US$ 0,80 por bushel, considerando o preço FOB na Argentina, referência da última sexta-feira. Se fizermos uma conta vamos a R$ 11,00 por saca, da noite para o dia, o que ninguém esperava", detalha o especialista. "A ideia é um novo 'soy dollar', mas de forma mais diluída, de cinco meses, incluindo a safra nova".
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Assim, contabilizando apenas a soja, e olhando para a safra velha que ainda tem algo como 27% para ser comercializada, há uma oferta de 10 milhões de toneladas, aproximadamente, e mais o volume da safra nova. "Soja esta que o produtor consiga colher, vender e embarcar até o final de junho", explica Vanin. "Então, este é o ponto: quanto de farmer selling a mais vai trazer para o mercado, e uma parte dele pode ir para a exportação e uma parte grande para o esmagamento, trazendo mais oferta de farelo".
O analista afirma ainda que cálculos preliminares de simulação apontam para a possibilidade da Argentina ofertar uma volume de dois milhões de toneladas a mais de farelo, pressionando ainda mais as cotações, que já sentem a pressão de maiores ofertas também dos EUA e do Brasil.
E embora haja atenção para a formação dos preços no Brasil e o destino do derivado nacional, a Argentina compete mais com os Estados Unidos quando o assunto é o farelo, já que têm produtos semelhantes para mercados que dividem como a Ásia, Norte da África e Oriente Médio, enquanto a maior parte do farelo de soja exportado pelo Brasil tem como foco central a Europa. E é esse quebra-cabeça que justifica uma perda intensa nas últimas sessões na Bolsa de Chicago do farelo. Nesta segunda, os futuros do derivado perdem mais de 1% entre os contratos mais negociados na CBOT.
COMO FICAM AS MARGENS DO PRODUTOR ARGENTINO?
De acordo com uma reportagem do jornal local La Nacion, a decisão do governo de Milei pela baixa das retenciones se efetivou, principalmente, depois da divulgação dos balanços negativos que os produtores argentinos vinham reportando. Os cálculos de Néstor Roulet, ex-vice presidente da CRA (Confederação Rural Argentina) mostravam que o produtor vinha registrando um prejuízos de US$ 80,00 por hectare no atual cenário de mercado e com o pagamento das retenciones como estavam.
Ainda assim, mesmo com retenciones menores, os produtores argentinos ainda amargam dias difíceis. Considerando a tonelada da soja em US$ 386,00 em março de 2025, o retorno finaceiro seria de US$ 1351,00 por hectare. Assim, com a redução da tarifa, o empregado pelo produtor para o pagamento de tributaçã passaria de US$ 445,83 para US$ 351,26 por hectare.
"Apesar dessa redução, os custos continuam altos. Isso inclui US$ 362,44 em insumos, US$ 62,50 em mão-de-obra e US$ 117,05 em frete, além de outras despesas, como arrendamento com US$ 348. Nesse contexto, a margem bruta melhora para US$ 89,43, contra os negativos de US$ 51,44 de antes", apontam os cálculos do La Nacion.
Já para o milho, considerando uma referência FOB de US$ 221,00 por tonelada e com o rendimento bruto alcançando US$ 1600,00 por hectare, a baixa das retenciones resultariam em algo de US$ 212,16 para US$ 167,96. Nesta conta, a margem dos produtor para o milho seria de US$ 112,44 por hectare.
O alerta maior, porém, está para o produtor que arrenda suas terras. Afinal, para ele, mesmo com retenciones mais baixas, as margens continuam se apresentando negativas.
"A redução das retenciones é um bom sinal para o setor, que gera 7 em cada 10 dólares de exportações. Entendemos as mudanças geradas pela política nacional e as comemoramos, mas o campo e as pessoas ao seu redor serão realmente beneficiados quando as retenciones forem 0 (zero) para todos os níveis de produção", afirma ao La Nacion Dante Garciandía, produtor rural e comerciante em Carlos Tejedor.
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