Dólar recua após dados de inflação dos EUA fortalecerem apostas em corte de juros pelo Fed
Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar recuava frente ao real nesta quarta-feira, com o mercado reagindo à divulgação de dados de inflação dos Estados Unidos que consolidaram ainda mais as apostas de operadores de que o Federal Reserve cortará a taxa de juros na próxima semana, o que favorece a moeda brasileira.
Às 11h59, o dólar à vista caía 0,3%, a 6,0295 reais na venda.
Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha baixa de 0,26%, a 6,041 reais na venda.
O governo norte-americano informou mais cedo que o índice de preços ao consumidor do país registrou alta de 0,3% na base mensal em novembro, acima do avanço de 0,2% do mês anterior, mas exatamente em linha com o esperado por economistas consultados pela Reuters. O ganho anual foi de 2,7%.
No caso do núcleo, a alta também foi de 0,3% no mês, como projetado por analistas, marcando um avanço de 3,3% na base anual.
Apesar de o resultado demonstrar uma estagnação no processo de desinflação dos EUA na direção da meta de 2%, a falta de surpresas forneceu maior certeza aos mercados de que o Fed deve reduzir os juros novamente na reunião da próxima semana.
Operadores colocam agora 94% de chance de um corte de 25 pontos-base nos juros pelo Fed em 18 de dezembro, de 85% antes dos dados.
"O banco central dos EUA perdeu a última chance de justificar uma pausa no ciclo de cortes de juros na próxima semana. O relatório de inflação de hoje poderia ter levado a uma reprecificação gigantesca, mas este não foi o caso, e o dólar está reagindo de acordo", disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.
Após os dados dos EUA, o dólar atingiu a mínima no Brasil, a 6,0145 reais (-0,55%), às 11h20.
A redução dos juros nos EUA tende a levar recursos de investidores estrangeiros para outros mercados, à medida que o dólar se torna menos atrativo devido à queda nos rendimentos dos Treasuries.
O rendimento do Treasury de dois anos -- que reflete apostas para os rumos das taxas de juros de curto prazo -- tinha queda de 4 pontos-base, a 4,114%.
Na cena nacional, o mercado também está focado na última decisão de juros do Copom no ano, que será anunciada após o fechamento da sessão.
A aceleração do ritmo de aperto monetário pelos membros da autarquia, após a alta de 0,5 ponto percentual em novembro, está completamente precificada pelo mercado, com operadores se dividindo entre um aumento de 0,75 e 1 ponto percentual da Selic, atualmente em 11,25% ao ano.
As apostas estão colocando 68% de chance do movimento maior no momento.
Agentes financeiros vêm elevando as projeções sobre o ritmo de aperto devido aos sinais recentes de desancoragem das expectativas de inflação, além de dados que têm mostrado uma atividade econômica superaquecida no Brasil.
"É inevitável um aumento da nossa taxa. A questão é saber o quanto", disse Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.
Na véspera, números do IBGE mostraram que o IPCA desacelerou na base mensal em novembro, mas o ganho anual superou o teto da meta de inflação -- com centro de 3% e uma margem de tolerância de 1,5 percentual para cima ou para baixo -- pelo segundo mês consecutivo.
Também segue no radar a tramitação das medidas de contenção de gastos do governo no Congresso, com o Executivo empenhado em aprová-las ainda neste ano.
O governo publicou na terça uma portaria detalhando procedimentos e prazos para a liberação de emendas parlamentares, instrumento no centro do mal-estar entre o Executivo e o Legislativo.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que vai trabalhar por um consenso para que as medidas do pacote fiscal possam ser votadas ainda nesta semana.
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