Melhoramento genético produz novas espécies de braquiária
No rastro histórico da pecuária e do ensino agronômico de qualidade no oeste paulista, plenamente inseridos no agronegócio brasileiro, ocorre a produção de novos materiais para possível lançamento de cultivares de Urochloa brizantha, também conhecido como o capim braquiária. Esse é o resultado de oito anos de trabalhos científicos realizados na Unoeste, iniciados com 12 mil plantas para a seleção de 360 mudas. Através de processos criteriosos de apuração em melhoramento genético, os números foram afunilando de 21 para cinco e, finalmente, três que chamam a atenção pela quantidade de massa fresca, tolerância à seca e valores proteicos.
O próximo passo é colocar o boi em cima da pastagem com os novos cultivares para avaliar a sua resistência ao pisoteio e se brota bem, além do principal: o ganho de peso do animal. A intenção é de que esse ganho seja maior aos das pastagens com outras gramíneas forrageiras, em tempo menor. Quanto mais rápido, mais vantagem, seja para o abate ou a entrada em confinamento. Outra questão vantajosa é a maior taxa de lotação que, caso seja alcançada, representa menor área para maior de quantidade de gado.
Esses benefícios sinalizados por melhoramentos genéticos desenvolvidos na Unoeste que oferece formação agronômica de qualidade em níveis de graduação e pós-graduação, incluindo especializações, mestrado e doutorado. Seus ambientes experimentais estão instalados no campus 2 e na Fazenda Experimental localizada em Presidente Bernardes (SP). Essa região concentra o maior rebanho bovino do estado de São Paulo, com 1,9 milhão de cabeças, conforme o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e que já chegou a ter R$ 2,5 milhões.
Parceria com a Aprosem
Sobre os experimentos desenvolvidos na Unoeste, em arrendamento da Associação Nacional de Produtores de Sementes (Aprosem) e na área experimental da empresa LatinSem, o pesquisador doutor em domesticação e melhoramento de plantas Nelson Barbosa Machado Neto conta que o primeiro deles ocorreu em 2014, na época em conjunto com o seu colega Dr. Luiz Gonzaga Esteves Vieira, mais conhecido como Santista. Outros foram ocorrendo sucessivamente e há cinco anos nasceu a parceria com a Aprosem, que arca com custos de bolsas e de análises
Conforme o Dr. Nelson existem diferenciais da Unoeste na produção de novos materiais de plantas forrageiras para pastagem, por conta que a grande maioria dos experimentos brasileiros são de iniciativa governamental e as empresas que desenvolvem pesquisas fazem coletas de sementes em outros países para fazer melhoramento genético. Medida que gera a necessidade de autorização do governo brasileiro e do país cedente, assim como a divisão de royalties caso seja gerado novo material; conforme recomendação do Protocolo de Nagoya sobre acesso a recursos genéticos.
Registro e proteção
A previsão é de três anos para obter os resultados dos experimentos, com a expectativa de poder requerer o Registro Nacional de Cultivares (RNC) junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o que consiste em medida de proteção para que a multiplicação e comercialização de sementes sejam exclusivamente para quem tenha autorização. Todavia, há a possibilidade de registro imediato para utilização das novas plantas no sistema produtivo Integração Lavoura, Pecuária Floresta (ILPF), com as sementes de capim ocorre e de soja plantadas ao mesmo tempo.
Feita a colheita da soja, o capim está pronto para o consumo do gado durante cerca de dois meses. Após isso, ocorre a desseca, com a massa fresca se transformando em massa seca que disponibiliza nutrientes para a cultura sucessória: o milho. A diferença entre a área exclusiva de pastagem para o sistema integrado está na perenidade de uma e na sazonalidade da outra. A expectativa do Dr. Nelson é de que pelo menos uma nova planta vá para o mercado como produto de exportação. Os experimentos são desenvolvidos com a contribuição da Dra. Ceci Castilho Custódio, também vinculada à Unoeste.
Apresentação de dados
Estão envolvidas duas alunas do mestrado pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Agronomia da Unoeste Estela Gonçalves Danelon e Sandra Regina Ferreira. Os dados sobre produtividade e bromatologia foram apresentados pelos pesquisadores em visita ao campo no dia 29 de maio, quando foram apresentados os materiais genéticos obtidos por mutação e que apresentam alta capacidade produtiva e de diferenciais importantes para o setor agropecuário.
“Além da produção de massa seca superior ou similar ao capim-marandu, os novos cultivares apresentam ainda tipos de crescimento distintos, alguns com tempo de produção de sementes mais tardio, e algumas outras características interessantes como tolerância a déficit hídrico. Os materiais vêm sendo observados desde 2014 e após serem aferidos como estáveis fenotipicamente, estão sendo avaliados há pelo menos dois anos, para produção de matéria fresca, matéria seca e outras características”, explica do Dr. Nelson.
Mais promissores
Diz também que dos cinco materiais, dois foram considerados menos promissores e os três mais promissores serão encaminhados para o próximo passo que será a avaliação de pastejo. “Para isso as sementes estão sendo colhidas nas duas áreas e serão semeadas para formar piquetes que serão avaliados para produção a campo e ganho de peso animal”, pontuou após a apresentação de novos materiais para possível lançamento de cultivares de Urochloa brizantha como novas opções para os criadores que no Brasil representam a segunda maior produção mundial de carne bovina.
O Brasil é o maior exportador do produto, com 25% de market share do comércio global em 2020, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Dados do Rally da Pecuária, de 2011 a 2019, são de que a produtividade média das fazendas visitadas pelo projeto aumentou 186%, como resultado da revolução tecnológica para a atividade pecuária, sendo que os avanços na genética bovina, na nutrição e no manejo explicam grande parte desse crescimento. A região de Prudente está inserida nesse contexto pela produção em si e pelo ensino superior de qualidade na formação de profissionais de ciências agrárias pela Unoeste.
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