PIB tem queda recorde, mas agro mantém resultado positivo
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil sofreu uma queda histórica de 9,7% no segundo trimestre de 2020, em comparação com o mesmo período do ano, devido aos impactos da pandemia do novo coronavírus. Mesmo com a queda acentuada, algumas atividades foram menos impactadas, como exportações e agropecuária, únicos setores que registraram resultados positivos, com alta de 1,8% e 0,4%, respectivamente. O resultado foi divulgado nesta terça-feira (1º) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“O crescimento é devido à própria essencialidade do setor, que passa, praticamente, inatingido. O funcionamento e a logística da produção de alimentos foram assegurados desde o início da pandemia, o que garantiu a manutenção do agronegócio para atender as demandas de consumo. Isso também foi importante para os resultados positivos das exportações, que tem sua base no agro”, destaca o técnico do Departamento Técnico Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR, Luiz Eliezer Ferreira.
Segundo Ferreira, a alta nas exportações está relacionada à cotação do dólar favorável e às commodities agrícolas produzidas pelo Brasil, principalmente carnes, soja e milho, além de petróleo e minérios. Apesar da pequena participação da agropecuária no cálculo do PIB – cerca de 5% –, o setor demonstra expressiva relevância para a economia brasileira, principalmente quando se engloba a cadeia de insumos, transporte, comercialização e agroindústrias – neste caso, podendo chegar a 21%.
Para o técnico do Sistema FAEP/SENAR-PR, esse envolvimento com outros setores ajudou a minimizar os impactos, mantendo o agronegócio com desempenho positivo e também contribuindo para amenizar o abalo no panorama geral. Além disso, a perspectiva de safra recorde e a alta demanda da China pela soja brasileira colaboraram para que o setor do agronegócio fosse menos atingido.
“A safra 2019/20 já está toda comercializada e as vendas antecipadas da safra 2020/21 têm crescido bastante, principalmente devido à atratividade dos preços por conta do dólar. Ainda, a estimativa do VBP [Valor Bruto de Produção] de 2020 também é de recorde, ultrapassando os R$ 700 bilhões”, elenca Ferreira. “Uma safra cheia em momento de crise foi fundamental para preservar o agro”, acrescenta.
Outros setores
O resultado do PIB coloca a economia brasileira oficialmente em recessão técnica, caracterizada por dois trimestres consecutivos com encolhimento do nível de atividade. Em valores correntes, o PIB do segundo trimestre totalizou R$ 1,653 trilhão. Apesar da queda histórica, o resultado veio de acordo com projeções de mercado e do governo federal.
Os setores mais atingidos pela crise foram indústria e serviços, com quedas recordes de 12,3% e 9,7%, respectivamente. Outros segmentos com resultados negativos incluem a indústria de transformação (-17,5%), comércio (-13%), construção civil (-5,7%) e indústria extrativa (-1,1%).
O consumo das famílias, considerado o principal motor do PIB há anos, marcou outro recorde negativo, com queda de 12,5%, enquanto o consumo do governo recuou 8,8%. As incertezas sobre a duração da pandemia e o baque no caixa das companhias provocado pela crise sanitária também tiveram impacto direto nos investimentos no país, que caíram 15,4% no segundo trimestre.
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