Aperto no crédito trará dificuldades para setor agrícola ajudar economia do Brasil
Por Reese Ewing
GUAXUPÉ (Reuters) - Quando a economia brasileira esteve fraca no passado, o setor agrícola frequentemente ajudou a amortecer o impacto da crise com um crescimento constante. Mas essa tendência pode não se manter neste ano, em meio a condições mais duras de crédito e menores preços de commodities.
A decisão do governo de conter subsídios para o crédito agrícola, como parte de um pacote de austeridade fiscal, já está pesando sobre indústrias que apoiam o setor, o qual corresponde a cerca de 25 por cento da economia.
Taxas de empréstimos para items como tratores e colheitadeias sob a linha de crédito conhecida como Finame, originária do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), já subiram fortemente e deve quase dobrar até julho frente aos níveis do início de 2015.
Fornecedores de equipamentos dizem que a demanda por alternativas ao aperto do mercado de crédito estão aumentando, como trocas ou consórcios. Para um setor que tem dependido pesadamente de empréstimos subsidiados nos últimos anos, essa desaceleração pode ser dolorosa.
“Isso terá um grande impacto”, disse José Eduardo Santos Jr., chefe de desenvolvimento da maior cooperativa de café do Brasil, a Cooxupé, em uma recente feira agrícola na cidade de Guaxupé. “Tudo depende de crédito no setor agrícola.”
As vendas nacionais de maquinários agrícolas tiveram queda de 20 por cento no primeiro trimestre de 2015, de acordo com a associação de montadoras Anfavea.
Já sofrendo com uma queda global nos preços dos grãos, grande produtoras de equipamentos como a Case, John Deere, Massey Ferguson e outras esperam uma queda nas vendas de até 40 por cento neste ano. No melhor dos casos, as anêmicas vendas do ano passado vão se repetir, de acordo com uma recente pesquisa conduzida pela Anfavea, por cooperativas pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
“Produtoras de maquinário e equipamentos serão as mais atingidas (pelo aperto do crédito) neste ano”, disse Amaryllis Romano, um economista da consultoria Tendências.
Insumos agrícolas como agroquímicos e fertilizantes também estão perdendo força.
Executivos locais da maior fornecedora de fertilizantes do Brasil, a norueguesa Yara, disseram que as vendas estão bem atrás das do ano passado, e eles esperam realizar trocas para serem mais atraentes do que os canais de crédito, especialmente com produtores de grãos.
“CONSÓRCIOS”
Não há índices que registrem as negociações de trocas no setor, mas a Cooxupé espera que os fazendeiros troquem mais grãos por fertilizantes e equipamentos em 2015.
Gabriel Pires Gonçalves, diretor financeiro da fabricante de equipamentos Jacto, disse: “Os sinais do crédito mais caro já estão aparecendo. Vemos mais interesse em consórcios.”
Os consórcios vieram à tona nos anos 1960 como uma maneira para que consumidores de veículos, apartamentos e tratores fizessem um grupo com pagamentos mensais, realizando uma loteria regular. Um dos sortudos participantes desse grupo receberia a entrega antecipada, a cada período de saque.
“Esses tipos de financiamento são úteis, mas não podem compensar o cenário mais difícil de crédito”, disse José Carlos Hausknecht, economista da consultoria MB Agro.
Por enquanto, a produção dos principais produtos para exportação, como soja, açúcar e café não devem ser afetados, mas os lucros dos produtores e as vendas das indústrias de apoio ao setor devem passar por um ano difícil.
As fortes tomadas de crédito no passado, no entanto, levaram a perdas nos rendimentos e na produtividade.
O governo ainda está calculando os números finais do orçamento agrícola anual, mas taxas mais altas já estão em andamento e devem subir novamente em julho.
VANTAGEM CAMBIAL
Exportações agrícolas irão, no entanto, se beneficiar dos recentes ganhos do dólar, que acumula alta de 39 por cento sobre o real no último ano. Mas o enfraquecimento dos preços das commodities prejudicaram a maioria desses ganhos para produtores locais.
“Os preços das commodities caíram mais do que o esperado”, disse Hausknecht. “A área plantada para algumas colheitas pode cair na próxima safra.”
Os preços dos futuros de açúcar permanecem perto da mínima de seis anos, ao passo que a soja está pouco acima do menor nível em cinco anos alcançado no fim de 2014.
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