Brasil se prepara para questionar subsídios agrícolas dos EUA antes de visita de Dilma a Washington

Publicado em 01/05/2015 19:19
Por Alonso Soto (Reuters)

 

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BRASÍLIA (Reuters) - Depois de finalmente virar a página em relação aos casos de espionagem que prejudicaram as tentativas de estreitar os laços comerciais, Brasil e Estados Unidos podem estar rumando para mais um desentendimento, dessa vez por causa dos subsídios dos EUA à agricultura.

O governo brasileiro está reunindo evidências para mostrar que os Estados Unidos estão aumentando os subsídios destinados a produtores de soja e milho, o que ameaça levar a uma redução ainda maior dos preços de produtos que são cruciais para o Brasil, afetando ainda mais uma economia já em dificuldades, disseram quatro autoridades brasileiras à Reuters.

Embora seja muito cedo para se engajar em uma ampla disputa comercial, o Brasil planeja pressionar Washington ao questionar os programas agrícolas norte-americanos na comissão de agricultura da Organização Mundial do Comércio, segundo as autoridades.

As preocupações do Brasil em relação aos subsídios dos EUA se intensificam no momento em que a presidente Dilma Rousseff prepara sua visita a Washington, a ser realizada em junho. Um dos principais objetivos da viagem é impulsionar as trocas comerciais entre as duas maiores economias das Américas.

Foram necessárias intensas negociações por mais de um ano para Dilma remarcar a visita, que estava prevista para ocorrer originalmente em 2013, mas acabou adiada após ser revelado que Washington havia espionado as comunicações da presidente.

Embora Dilma não pretenda mencionar os subsídios agrícolas diretamente ao presidente dos EUA, Barack Obama, seus assessores planejam levantar a questão em reuniões com representantes norte-americanos antes da visita, disse uma das autoridades brasileiras, que falaram sob condição de anonimato.

"Temos certeza que os subsídios dos EUA vão aumentar, mas precisamos reunir provas durante a próxima safra para montar nosso caso", disse uma outra autoridade envolvida na elaboração de políticas comerciais. "Não descartamos uma disputa comercial, mas estamos nos primeiros estágios."

O governo dos EUA afirma que seus programas destinados à agricultura são transparentes e justos, e não distorcem os mercados de commodities.

"Os novos programas da lei de cultivo têm mínimo efeito sobre a produção e o comércio, e, sendo assim, estamos confiantes de que os programas atendem a nossos compromissos junto à OMC", disse o porta-voz do Departamento de Agricultura dos EUA, Cullen Schwarz, em resposta por email a perguntas enviadas pela Reuters. Ele se referiu à lei de cultivo dos EUA aprovada em 2014.

Uma potência agrária, o Brasil possui larga experiência em disputas agrícolas, tendo vencido, em 2004, um caso emblemático na OMC, relacionado aos subsídios dos EUA ao algodão, disputa que teve seu desfecho somente em setembro do ano passado, com um acordo pelo pagamento de 300 milhões de dólares a produtores brasileiros.

As autoridades brasileiras temem que a queda nos preços mundiais de grãos possa levar os EUA a liberar subsídios ainda maiores para seus fazendeiros, se valendo para isso de mecanismos de seguro previstos na lei de cultivo de 2014.

Em uma apresentação feita no ano passado, quando era presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), a atual ministra da Agricultura, Kátia Abreu, alertou que o Brasil pode perder até 500 milhões de dólares por ano em rendimentos com a exportação de soja, em decorrência das distorções causadas pelos subsídios dos EUA.

As estimativas são provenientes de um estudo feito pela consultoria Agroicone, que estima que tais subsídios sejam responsáveis por reduzir os preços mundiais do milho e da soja em 4 por cento e 3 por cento, respectivamente.

"Se os preços permanecerem nesse nível, vão desencadear mais subsídios aos agricultores norte-americanos, deixando os produtores brasileiros em desvantagem", disse a chefe de assuntos internacionais da CNA, Alinne Oliveira, que criou um grupo para monitorar os subsídios.

Os preços da soja nos mercados mundiais caíram cerca de 35 por cento ao longo do último ano, enquanto o preço do milho caiu quase 60 por cento desde uma alta recorde no final de 2012, de acordo com o índice de futuros CME.

As autoridades brasileiras esperam reunir mais provas sobre as distorções no início do ano que vem para desafiar os EUA. Enquanto isso, representantes do governo dizem que o Planalto pretende pressionar os EUA a ser mais transparente sobre seus subsídios.

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Fonte:
Reuters

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2 comentários

  • Liones Severo Porto Alegre - RS

    Este é o Brasil. Desinformado, desestruturado, atrasado e sem conhecimento. Os Estados Unidos já reavaliou e reformou seu plano de subsídios que tem validade até 2019. Neste momento, o Brasil tem mais a pagar do que receber. Será ninguém tem competência neste governo. Vai arrumar outra sarna para se coçar!!!...

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    • Guilherme Frederico Lamb Assis - SP

      Liones, isso é óbvio, esquerdista não se orienta por mérito/competências, apenas procuram culpados (bodes expiatórios) para os problemas que criam.

      Atacam o efeito do problema, não a causa.

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  • Guilherme Frederico Lamb Assis - SP

    ...engraçado, não se vê toda essa gana desses senhores com as perdas causadas pelos problemas internos no Brasil... a infraestrutura caótica, o custo elevado de frete, a alta carga tributaria, a falta de livre mercado... isso sim são os reais motivos dos nossos problemas, da nossa falta de competitividade...

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    • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

      Lideres e autoridades volta e meia começam com essa conversa de questionamentos a politica economica dos EUA. E é para desviar a atenção dos produtores brasileiros dos verdadeiros problemas. Não precisam resolver nada e ainda posam de interlocutores internacionais. O Brasil também tem subsidios na agricultura, essa é a resposta padrão dos EUA ao Brasil. Cortina de fumaça para dar a impressão de que estão fazendo alguma coisa.

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    • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

      Politica agricola!

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    • Guilherme Frederico Lamb Assis - SP

      Por que esses senhores não dizem exatamente quais são os subsidios "ilicitos" que os EUA praticam e não provam isso com fontes? Com a internet é facil de se levantar isso hoje.

      Eua ja estive nos EUA, conheci varias fazendas e seus proprietarios, conheci a sede da Dow Agroscience, a Bolsa de chicago, unidades de insumos agrícolas, enfim...

      Lá não se houve falar em política de preço mínimo estatal porque não tem, procurem para ver se acham algo sobre estoque publico de produtos agrícolas no EUA para ver se acham algo.

      Isso é coisa de comunismo, tem na China, no Brasil...

      Lá o preço minimo é o que a lei de oferta e demanda produz, na Bolsa de Chicago, NY, Kansas... etc...

      O que há de efetivo é o seguro agrícola por lá, que praticamente todo privado, sendo que o governo subsidia parte do premio quando o produtor contrata, algo em torno de 30 a 40% é pago a seguradora por meio do USDA, o restante o produtor paga.

      O seguro é um seguro real, não essa palhaçada aqui vigente, a seguradore levanta junto ao produtor as medias de produtividade dele nos ultimos 5 anos (existe uma metodologia de eliminar os anos de pico de baixa ou de alta (muito fora da curva)) e com isso determina a media a ser assegurada, sendo que o produtor pode fazer isso separadamente por lotes dentro da mesma propriedade, usando a media de cada um, caso tenha esses dados discriminados. No contrato do seguro se usa o preço base da bolsa de chicago do vencimento dezembro para soja e milho. Com isso esta constituido o valor assegurado ao produtor, soja por exemplo, produtividade media (50 sacas) x preço dezembro em chicago (21,00$ saca) = 1050,00 $ por ha. Por qualquer motivo, climático ou mercadológico, qualquer coisa abaixo dos 1050,00$ por ha o produtor vai receber a diferença que atinja esse valor, sem burocracia, sem demora, sem cálculos e índices mirabolantes como ocorre por aqui.

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    • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

      É uma vergonha, mas já estou supondo algo aqui. Blairo Maggi, o poderoso chefão da Aprosoja, está no inicio de um processo de abandono ao governo petista. Temos no texto citado o nome de Kátia Abreu, ministra da agricultura, como também o teor das supostas discussões secretas, ali vai escrito que é sobre soja e milho, então é obvio que a Aprosoja está envolvida nisso. Será que com o poderoso chefão desembarcando do governo petista, a Aprosoja, depois de ter apoiado explicitamente Kátia Abreu, e consequentemente Dilma, participará na clandestinidade, nas decisões do ministério e apoiará veladamente o governo Dilma, já que o principal argumento das lideranças das Aprosoja, o aperfeiçoamento da infraestrutura, foi para as cucuias?!!

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