A omeleta da presidenta não contenta. Ou: “Isso é sal?”

Publicado em 02/03/2011 14:12 e atualizado em 02/03/2011 18:59

Dilma já tentou, quando candidata, fazer omelete no programa de Luciana Gimenez, na Rede TV. Falhou! No de Ana Maria Braga, ontem, quase conseguiu. A omelete “liinda”, segundo a apresentadora, seduziria certamente aquelas fomes que levaram o primeiro homem a comer a primeira ostra… A presidente, mais uma vez, conseguiu quebrar os ovos, inclusive os da língua portuguesa, mas, à diferença de Stálin, não fez a omelete.

Nota à margem: lembro de novo que a famosa frase “Não se pode fazer omelete sem quebrar os ovos” não é do ditador soviético. Trata-se de uma crítica a ele feita por Nadejda Mándelstam, mulher do poeta Ossip Mándelstam, assassinado a mando do ditador. No livro em que fala da culinária do mega-homicida, ela afirma sobre o verdugo bigodudo: “Cada nova morte era justificada com a desculpa de que construíamos um notável mundo novo”. Vale dizer: o futuro (a omelete) pedia a “quebra dos ovos” (as mortes). Está na página 114 do livro “Stálin - A Corte do Czar Vermelho”, de Simon Sebag Montefiore. Sigamos com Dilma. Peço a vocês que vejam um trecho de sua performance no programa de Ana Maria. Eu mesmo só vi este. Certamente descobrirei preciosidades nos outros.

Voltei
Ok. Tem lá a sua graça ver Ana Maria a exaltar os dotes culinários da presidente — que, visivelmente, não tem nenhum. Ao contrário! Ela é muito atrapalhada. Nunca antes na história da culinária, a cebola da omelete foi posta antes para fritar na frigideira… Pô! Custava ter treinado um pouco para não dar vexame? Ana Maria acusou o golpe: “Ah, a senhora mistura lá (na frigideira), então, a cebola!? Nós vamos aprender a fazer um omelete diferente…” Ô!!!

O ponto alto da pauta gastronômica se deu com a seguinte pergunta de Dilma: “Esse aqui é sal?” Sem ver o potinho que a presidente pegava, Ana Maria confirmou. Dilma, então, meteu a mão no pó branco e salpicou a sua gororoba. O que se seguiu entra para a história dos programas de culinária. No céu, Ofélia deve ter dado uma gargalhada. Constata a apresentadora segundos depois: “Não, esse não é sal! Eu vou estragar o seu omelete, mas vai ficar ótimo, sabe por quê? Porque, colocando um pouquinho de bicarbonato de sódio…” Dilma emenda: “Ele fica melhor!”

Quem mais, neste vasto mundo, confundiria as texturas do sal e do bicarbonato? Um, por mais refinado que seja, é grão; o outro é pó! E quero aqui deixar uma coisa muito clara: Dilma não tem obrigação nenhuma de saber cozinhar só porque é mulher! Eu mesmo já rompi essas supostas obrigações de gênero há muito tempo, feminista que sou! Nunca liguei um carro, por exemplo. Não guio. Mas não me atrevo a dar aula de direção!

Batendo um papinho enquanto Dilma descobria o que era um ovo, Ana Maria quis saber se ela ia para a cozinha, se gostava de fazer comidinhas e tal.
— Meu negócio é sopa!
— A senhora faz sopa pronta ou sopa…
— Não! Eu faço sopa desde o início!

A “sopa desde o início” não é uma categoria ontológica nova, leitor! É, assim, uma espécie de Nossa Senhora de Forma Geral das Sopas!

A língua apanhou bastante, coitada! Ana Maria quis saber, também ela com uma apreensão bastante particular do idioma: “A senhora chega a fazer alguma ida na cozinha?” Dilma demonstrou que a fronteira entre os pronomes do caso oblíquo e do caso reto está superada e mandou bala na inculta e bela: “Agora não tem tempo mais pra mim ir lá na cozinha, não!” Pois é… Ali pelos 50 segundos, falando sobre a perda de peso  — a presidente disse estar seis quilos mais magra —, a apresentadora quis saber: “Mas a senhora se esforça para isso”. E ela “Se esforço…

Tudo isso é mera pegação no pé? Não! É cumprimento de uma obrigação. Uma presidente da República fazendo uma omelete num programa de variedades da principal emissora do país está fora do lugar. No que concerne ao poder, é uma operação de marketing político. Trata-se de um esforço de popularização da imagem. O meu papel é analisar seu desempenho.

CPMF
Podemos, claro!, ir para questões bem mais sérias. Como vocês puderam notar, Dilma já não nega mais de pés juntos que esteja pensando em recriar a CPMF — como, aliás, informei aqui precocemente. De fato, ela admite a possibilidade, depois de ter o “diagnóstico” do setor, que estaria sendo feito agora. Agora? No NONO ano do governo petista? Entendo! Esse é o governo quer cortar R$ 6,5 bilhões em fraudes praticadas no governo do… PT!

Uma questão aparentemente irrelevante, mas que dá conta do estado das artes: a imprensa noticiou com estardalhaço que Dilma cumpria uma promessa de campanha ao anunciar a distribuição gratuita de remédios para hipertensão e diabetes. Escrevi aqui: “Esses remédios já são gratuitos”. Muita gente deve ter achado que eu estava maluco — até porque sozinho na afirmação. No vídeo acima, é Dilma quem diz que eles já eram distribuídos pelo SUS. Ela só mudou  o local de distribuição. Ah, bom!

Ok. Dilma não sabe fazer omelete, mas não vai mesmo ser chefe de cozinha. Tudo bem! Tropeça nos pronomes, mas não vai mesmo ser chefe da Fundação Casa de Rui Barbosa.  Tudo bem! Ela preside o Brasil, ao qual prometeu que não recriaria o imposto da Saúde.

É aceitável que uma política não saiba a diferença entre sal e bicarbonato de sódio. Mas é imperioso que saiba a diferença entre a verdade e a mentira.

PS - “A” omelete, como escrevo, ou “o” omelete, como querem as duas? Ambos. É substantivo comum de dois gêneros em português. Em francês, “omelette” é feminino. Aliás, alguns puristas consideram que esse é um galicismo inaceitável em nossa língua e defendem a palavra “omeleta”. Já imaginaram? “A omeleta da presidenta!”

Por Reinaldo Azevedo

Uma propaganda do governo federal para supostamente homenagear AS mulheres acaba homenageando UMA mulher: é personalismo oblíquo. Agora, dizem lá, elas podem ser tudo o que quiserem ou sonharem — ou algo assim. Ao telespectador cabe emendar: “Inclusive presidente da República”. Dilma deixa de ser presidente mulher, o que é republicano, para ser mulher-presidenta, o que introduz na universalidade da disputa democrática o viés de gênero. Amplia-se o escopo da luta particularista e se reduz o da política, que se torna menos universalista.

Esse é o mal essencial de todos os particularismos: em vez de ampliar o universo das possibilidades — e isso é democrático —, estreita-o em nome da reparação. Quem compreende isso que escrevo acaba provando um biscoito fino; que não entende jamais entenderá. Há uma outra perversidade nessa história: se Dilma fizer um governo aplaudido, terá sido por suas notáveis qualidades particulares; se o contrário, tratava-se, afinal, de um governo de mulheres, com suas fragilidades genéricas. O discurso das minorias tem um inequívoco horizonte obscurantista. Sigamos.

MST e Via Campesina resolveram entrar no espírito da coisa. Agora que as mulheres podem ser tudo o que sonharem, nada melhor do que demonstrar que também podem se comportar como vândalos — obedecendo a uma pauta que está longe das disputas de gênero. Anteontem, 70 mulheres ligadas ao MST invadiram a superintendência do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) em Recife (PE). Com paus e pedras, botaram literalmente para quebrar. Seis salas foram depredadas. É a forma de o MST comemorar o Dia Internacional da Mulher — 8 de março. Para Jaime Amorim, coordenador do MST em Pernambuco, ações como aquela são “normais do conflito”. Falo sobre este rapaz daqui a pouco.

No Rio Grande do Sul, as comandadas de João Pedro Stedile — mas de sua outra empresa ideológica, a Via Campesina — invadiram uma unidade da Brasken, em Triunfo, para protestar contra o plástico verde, produto da empresa feito à base de cana. Na Bahia, o alvo foi uma plantação de eucaliptos, em Eunapolis. Em Aracaju, mil mulheres acamparam numa praça. Como se vê, elas podem ocupar qualquer papel, inclusive o de agentes da truculência, do atraso e da estupidez.

Jaime Amorim
Visto tudo de perto, nada pode ser mais antigo do que a pauta desses movimentos que sobrevivem à custa do dinheiro público, alimentados por cestas básicas que contêm a comida barata produzida pelo agronegócio, com o qual eles querem acabar! Arre! Não há questão de gênero que consiga esconder esse fato.

Amorim, que é, na prática, o nº 2 do MST, é um dinossauro truculento. Em 2006, contei aqui quem é esse catarinense exportado para Pernambuco para gerenciar o padrão de qualidade do MST naquele estado. Ele conseguiu o prodígio de fazer a seção mais violenta do movimento. Está na “luta” faz tempo. Em 2000, invadiu e ameaçou atear fogo num navio de bandeira liberiana porque carregado com milho transgênico. Terrorismo! Em Pernambuco, carros do Incra já foram incendiados. No governo FHC, os sem-terra do Estado, sob seu comando, jogaram cocô — sim, cocô — na caixa d’água do Incra. Ele cuida ainda de um aparelho do MST em Caruaru, onde revela a agricultores os mistérios de Marx, Che Guevara e Lênin. Não estou brincando nem exagerando.

Foi em Pernambuco que dois policiais foram feitos prisioneiros num assentamento dos sem-terra. Um deles foi barbaramente torturado e morto em fevereiro de 2005. Como era só um pernambucano pobre e não se chamava Dorothy Stang, ninguém acendeu velas por ele, e Dom Tomás Balduíno, amigo de Amorim, não encomendou a sua alma. Escrevi sobre isso à época — se quiser ler, está aqui. É compreensível que ele ache “normal” a depredação de um prédio público.

Encerro
A “mulher presidente”, as “mulheres do MST”, as “mulheres isso-e-aquilo” são fantasias destinadas a criar um ruído marginal no que é essencial. Dilma é só a face mais visível do poder petista, que não é novo. As mulheres do MST são só uma expressão de gênero de uma velha truculência, que não tem sexo. Haverá, por acaso, uma utopia especificamente feminina num corte de Orçamento ou numa invasão da propriedade alheia?

É claro que as chamadas “questões de gênero” existem. Mas elas devem servir para aclarar as dificuldades de mulheres e homens, não para obscurecer a política.

Por Reinaldo Azevedo

Isto é que é aperto: Gastos da União com viagens sobem 32%!

Por Marta Salomon, no Estadão:
Aumentaram nos primeiros dois meses de 2011 as despesas com viagens - passagens e diárias - no governo federal, primeiro alvo do ajuste fiscal anunciado pela equipe econômica. No caso das passagens, os pagamentos em janeiro e fevereiro foram 32% maiores do que no mesmo período de 2010: já saíram dos cofres públicos R$ 80,4 milhões.

Anteontem, ao fornecer detalhes da “consolidação fiscal”, a ministra Miriam Belchior (Planejamento) insistiu que os gastos com diárias e passagens seriam reduzidos à metade em 2011. Nas áreas de fiscalização, o corte seria menor, 25%.

Para tornar mais efetivo o controle, as autorizações de viagens de servidores serão transferidas ao alto escalão dos ministérios, ou, de preferência, aos próprios ministros. As viagens de servidores foram apontadas como um dos focos de desperdício de dinheiro público.

O primeiro anúncio de restrição nas diárias e passagens foi feito em 9 de fevereiro, embora ainda se aguarde a publicação de decreto da presidente Dilma Rousseff para tornar a medida oficial. Não há data para edição desse decreto, assim como do que detalhará o limite de gastos dos ministérios.

A análise do comportamento das contas públicas no bimestre dá a dimensão da dificuldade em fazer com que o anúncio seja mais do que um discurso. Os números foram pesquisados pela ONG Contas Abertas com base em dados lançados pelo Tesouro Nacional até 28 de fevereiro no Siafi (sistema de acompanhamento de gastos da União).

Pendências. O estouro maior ocorre na compra de passagens e demais despesas com locomoção dos servidores. No primeiro bimestre de 2011, o governo gastou 32% a mais que o mesmo período de 2010. Além dos R$ 80,4 milhões já pagos, há uma conta pendente deixada pelo governo Lula que supera o dobro desse valor: R$ 163,3 milhões. E mais R$ 130 milhões já comprometidos pelo governo Dilma até 28 de fevereiro e ainda não pagos.

Nos pagamentos de diárias, o aumento das despesas foi de pouco mais de 4%, abaixo da inflação, mas bem aquém da meta lançada pelo governo, de corte pela metade. Nos dois primeiros meses de 2010, diárias de servidores civis e militares consumiram R$ 75,2 milhões. Neste ano, alcançaram R$ 78,2 milhões. Aqui

Por Reinaldo Azevedo

Dilma reage às críticas recebidas ao corte orçamentário

Por Vera Rosa, no Estadão:
A presidente Dilma Rousseff reagiu hoje, em Salvador, às críticas recebidas ao corte de R$ 50 bilhões no Orçamento e disse que fará de tudo para manter a inflação sob controle e acelerar o crescimento econômico. “Nós não teremos contemplação com a inflação”, insistiu ela. “A inflação é como um câncer, que corrói o tecido econômico e social”, acrescentou.

Ao participar da cerimônia de anúncio do Terminal de Regaseificação da Bahia, obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que terá recursos de US$ 706 milhões, Dilma disse não ver contradição entre os investimentos programados e a tesourada nos gastos. A uma plateia composta por empresários e políticos, ela lembrou que, na próxima quinta-feira, anunciará até mesmo a prorrogação do Programa de Sustentação do Investimento.

“Não é contradição com o nosso corte de despesas. Nós estamos cortando o custeio administrativo, não estamos cortando os investimentos”, afirmou a presidente. Em nenhum momento de seu discurso Dilma mencionou o programa Minha Casa, Minha Vida, que sofreu corte de R$ 5,1 bilhões.

Por Reinaldo Azevedo

Cândido Vaccarezza, o líder do governo na Câmara, revela a economia poética que une a cachaça ao Bolsa Família

Quando não há o que dizer, o melhor é ficar calado. Leiam o que informa a Agência Estado. Volto depois:

O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), afirmou hoje que o Bolsa Família é positivo, mesmo se os recursos forem usados pelos beneficiários para a compra de cachaça. Questionado sobre as afirmações da oposição de que o anúncio do reajuste do benefício tem o objetivo de esconder más notícias, Vaccarezza defendeu o programa.

Ele destacou que o dinheiro não tem intermediação política e, por isso, o beneficiário pode comprar o que precisa. Foi aí que o líder do governo incluiu até a cachaça no tema.

“É um dinheiro que não tem intermediação política; o cidadão vai ao banco e pega seu dinheiro, compra pão para sua família, compra os gêneros de primeira necessidade. Eles (a oposição) brincavam antigamente dizendo que o chefe de família ia lá e comprava cachaça. Nós não vamos incentivar isso, mas mesmo que uma família compre uma cachaça por mês são 11 milhões ou 12 milhões de garrafas de cachaça. Isso ajuda toda a economia”, disse Vaccarezza.

Voltei
Não que um líder petista fazendo a poética da cachaça seja algum paradoxo se a gente considerar as referências intelectuais e morais do partido. Eu até compreendo. Mas é preciso repor a verdade histórica.

Quem temia que o pobre comprasse cachaça ou alguma outra coisa “não essencial” com os recursos do assistencialismo era o PT, não a oposição. Essa foi uma das razões do naufrágio do programa Fome Zero. José Graziano, aquele gênio, queria direcionar a compra do pobre.

Vaccarezza conta uma mentira ao atribuir a suspeita da cachaça à oposição. Tanto é assim que, no governo FHC, cinco milhões de famílias tinham direito a dinheiro, como é hoje, com cartão magnético e tudo. Lula só rebatizou os programas.

Dilma castiga PDT e exclui partido de reunião com líderes

Uma coisa é política, outra é birra. Uma coisa é cobrar claramente fidelidade de um partido aliado; outra é fazer uma espécie de terror. Vejam o que na Folha Online. Volto no post seguinte:

Por Breno Costa:
Integrante da base do governo, mas rebelde na votação do salário mínimo na Câmara, o PDT foi excluído da lista de convidados para a primeira reunião da presidente Dilma Rousseff com líderes de partidos aliados, no Palácio do Planalto. Ao todo, líderes de 15 partidos participam da reunião, na manhã desta quarta-feira (2). À Folha, o líder do PDT, Giovanni Queiroz (PA), disse ter ficado “muito confortável” com o fato de não ter sido convidado para a reunião com Dilma.

“Se fosse convidado, eu não iria mesmo. E seria indelicado recusar um convite da presidente”, afirmou o deputado, citando a pressão exercida pelo Planalto para que o partido fechasse voto a favor do salário mínimo de R$ 545, que acabou aprovado apesar da posição contrária do PDT.

Queiroz disse ter ficado sabendo da reunião de líderes pela imprensa, e disse não saber quem montou a lista. Apesar da situação, o deputado afirmou que a ausência do PDT no encontro no Planalto não significa que o partido está fora da base aliada do governo. “Nós somos aliados, não subordinados”, afirmou.

Crédito
Na chegada ao Planalto, o único a falar com a imprensa foi o líder do PP, Nelson Meurer. Ele nega que a reunião servirá para cobrar da presidente explicações ou providências em relação ao anunciado corte nas emendas parlamentares. Segundo ele, a reunião servirá apenas para “ouvir a presidente”. “A presidente merece crédito. Em julho, vamos conversar”, disse Meurer, em referência à tesoura nas emendas. O Ministério das Cidades, controlado pelo seu partido, foi um dos mais afetados pelos cortes.

Por Reinaldo Azevedo

O tamanho do Estado, no Brasil, faz com que o Congresso seja um ajuntamento de negociantes

Já escrevi aqui que considero razoável e esperado que o governo cobre fidelidade de sua base de apoio etc e tal. Mas há modos e modos de fazê-lo. Antes que entre nessa especificidade, cumpre fazer uma digressão sobre o que se entende por “base de apoio” no Brasil. Os Estados Unidos têm dezenas de partidos, mas só dois contam: o Democrata e o Republicano. Alternam-se no poder. Têm, sim, muitas diferenças entre si e as exercem com clareza. Por lá, governo é governo, e oposição, oposição, o que não quer dizer que o partido que está no poder funcione como ordem unida. Obama teve de negociar o seu programa de Saúde mais com os democratas do que com os republicanos. Os esforços para fechar Guantánamo — de qualquer modo, não teria dado mesmo — encontraram resistência também numa ala muito organizada dos… Democratas. Como Obama poderia retaliar a sua base? Não podia!

O que isso quer dizer? Nos EUA, o Executivo tem o seu domínio, mas ele não se estende de maneira imperial sobre o Parlamento. Aliás, é comum os analistas dizerem sobre esta ou aquela pretensões presidenciais: “Isso não passaria no Congresso”. O que está na raiz dessa independência? Resposta: o tamanho do Estado! Como é pequeno, como não tem um penca de estatais e autarquias para distribuir cargos e manipular verbas públicas, os congressista se  atêm à sua tarefa de representação. “Ah, falam em nome de lobbies!” E daí? Os nossos parlamentares, por acaso, representam só idéias caídas do céu? Ora…

Esse atrelamento do Legislativo ao Executivo, por aqui, é uma perversidade: distorce a democracia. O governo usa os milhares de cargos de que dispõe não para compor uma sólida frente e, enfim, aplicar o seu programa, mas para subordinar o Congresso. A tal base vira um saco de gatos das mais variadas cores. Não se tem debate, mas moeda de troca: “Ou me obedece e vota como quero, ou perde o cargo”. Ora, comparem: nos EUA, Obama teve de negociar com seus aliados no Congresso algumas de suas pretensões; no Brasil, do Parlamento, espera-se uma única coisa: que diga “sim”.

De volta ao PDT
O PDT tem patriotas como Carlos Lupi — o sobrenome desperta em mim algumas tentações etimológicas! — e Paulo Pereira da Silva. Conhecemos a firmeza ideológica dessa gente. Não importa. O fato é que, se o governo está descontente com o partido, que chame seus líderes para uma conversa. A “exclusão” da reunião sem aviso prévio enseja o ritual da humilhação. Agora é preciso que pedetistas graduados busquem refazer as pontes com o Planalto — para que o partido não caia em desgraça — na condição de devedor. E dele se cobrará, então, manifestações explícitas de subordinação.

O PDT é o que é, eu sei. Mesmo assim, o método escolhido caracteriza uma agressão ao Congresso, deixando claro que não há lugar ali para qualquer forma de diálogo que não seja na base do “eu pago e exijo a mercadoria” — ou, para ser mais claro: “Vocês têm o Ministério do Trabalho e estão obrigados a votar como eu quero”.

Por Reinaldo Azevedo

O estatismo e o atraso da democracia

É claro que o ritual de humilhação a que Dilma submete o PDT expressa o espantoso atraso da democracia política no Brasil. É como se o Congresso fosse nada além de uma casa homologatória. Ou melhor: ele, com efeito, não passa disso, mas não deveria ser. E é por quê? O motivo essencial está explicitado no post abaixo. Até que o Estado brasileiro tenha o tamanho que tem, não existirá Congresso dono do próprio nariz — ou, melhor, obediente ao nariz dos eleitores.

Em suma: quanto mais estado, menos cidadão; quanto mais estado, “menas” vigilância! O “menas” é uma das homenagens que farei hoje a Emir Sader!

Ora, chega a ser engraçado ver os esquerdopatas a defender com unhas, dentes e cauda (Emir Sader escreveria “calda”) o gigantismo estatal em nome do povo. Ele tem servido, na verdade, para alijar o povo das decisões.

Por Reinaldo Azevedo
Por Reinaldo Azevedo

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (Veja)

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