Brasil está de olho em "janela" no mercado de cafés suaves
Uma nova quebra na safra de café colombiana deve acirrar a disputa por grãos arábica lavados e suaves de alta qualidade e abrir a chance de o Brasil se inserir como fornecedor desses produtos no mercado internacional. No último relatório mensal divulgado pela Organização Internacional do Café (OIC), a entidade avaliou que as perspectivas de uma retomada da produção da Colômbia para o nível normal, após um fraco desempenho na temporada 2008/2009, são mais uma vez incertas e a produção de janeiro foi muito baixa. Em 2009, as exportações de suaves colombianos já havia registrado queda de 24,07%, para 9,2 milhões de toneladas, uma das menores do país andino em mais de 30 anos.
De acordo com a OIC, a oferta global de cafés suaves ficará sob contínua pressão, já que não há disponibilidade de outras safras para substituição. "As ofertas de arábica da Colômbia, da América Central e do Brasil estão enfrentando dificuldades climáticas e estruturais. A possibilidade de substituição por outras origens parece igualmente limitada", afirmou a entidade.
Segundo Gil Barabach, analista da Safras & Mercado, apesar do quadro de ajuste ser generalizado na oferta de café, é para os tipos de qualidade superior que o mercado tende a se tornar mais interessante, com maior interesse dos compradores e efeito nos preços. "Esses problemas recorrentes na Colômbia podem abrir espaço para o Brasil entrar nesse segmento, mas para isso terá que melhorar questões de qualidade, não é todo mundo que vai chegar nesse patamar de café", avalia Barabach.
O analista destaca que o grande entrave para o Brasil começar a suprir essa demanda de forma significativa é que país também teve problemas na última safra. De acordo com o Instituto de Economia Agrícola (IEA), entre agosto e dezembro de 2009, as floradas apresentaram uma formação bastante desuniforme, provavelmente em função das alterações climáticas observadas no período o que deverá propiciar o comprometimento da qualidade dos grãos, seja pela falta de uniformidade da maturação ou dificuldades na colheita e secagem.
Segundo informações do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), os produtores estão enfrentando dificuldade de alcançar os padrões exigidos pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para o café adquirido nos seus leilões. Alguns agentes consultados pelo Cepea comentam que tiveram seus lotes devolvidos. Após o término das entregas de todos os vencimentos, considerando a adesão de 100% dos produtores, 3 milhões de sacas de café de qualidade estariam fora do mercado. "Esses cafés finos estão valorizados no físico brasileiro, já que a demanda por eles é elevada e a oferta, restrita", destacou Margarete Boteon, pesquisadora do Cepea.
O que deve ocorrer no mercado até o início da próxima colheita no Brasil, que pode começar já em abril, é uma polarização de cenários, onde o vendedor do grão natural terá dificuldade para conseguir bons preços, enquanto o fornecedor de cafés de melhor qualidade será bem remunerado. De acordo com Guilherme Braga, presidente do Conselho de Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), os estoques globais de café já estão há algum tempo no limite e não vinham atuando como fator altista, no entanto, falta produto em segmentos específicos onde é possível observar crescimento. "Nesse mercado (de cafés suaves) é possível obter um diferencial de até 70 centavos na Bolsa de Nova York", disse Braga. Ele ressaltou, contudo, que a escassez de cafés de melhor qualidade não exerce efeito de alta geral sobre os preços do arábica já que existe oferta das exportações.
Segundo o boletim do Escritório Carvalhaes, que avaliou o mercado durante a última semana, os contratos de café na Bolsa de Nova York trabalharam em alta, compensando a valorização do Real e mantendo no mesmo patamar os preços do café em reais no mercado físico brasileiro, onde continuou grande a procura por café arábica de boa qualidade. Ainda de acordo com o relatório, os arábicas de má qualidade e o conilon permaneceram apresentando forte deságio em relação ao arábica de boa qualidade.
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