A demanda mundial de proteína animal

Publicado em 23/11/2009 15:52 e atualizado em 07/03/2020 16:18
A demanda mundial por alimentos deve aumentar em 100% até 2050, impulsionada pelo aumento da população mundial para mais de 9 bilhões de pessoas e pelo crescimento econômico, principalmente da China, Índia, Europa Oriental e América Latina. Aproximadamente vinte por cento deste aumento da demanda por alimentos pode vir da maior mobilização de terras destinadas à produção, no entanto, as preocupações ambientais e o uso de terras para a produção de bio combustíveis devem desafiar esta oportunidade. Outros dez por cento pode vir do aumento do número das safras agrícolas. 

 Os 70 % restantes devem ser provenientes de uma maior eficiência gerada pelo uso da tecnologia. O desafio será atender essa enorme demanda de alimentos de maneira sustentável (ecologicamente correta, socialmente responsável, economicamente viável e comprovada cientificamente). 

Historicamente temos sido capazes de realizar grandes avanços na tecnologia agrícola e permitir a produção contínua de alimentos seguros e acessíveis em grandes quantidades. No entanto, a redefinição das tecnologias pré-existentes e a descoberta de novas serão fundamentais para melhorar a produtividade no futuro. 

Há enormes desafios que reduzem a nossa capacidade de atingir essas metas (demandas de consumo, grupos de ativistas, regulamentações governamentais, economias pobres em produção agrícola, necessidades de financiamento para pesquisa e desenvolvimento, alinhamento da agricultura em seus pontos críticos para manter a ciência no quadro de decisões da política alimentar). 

 A produção animal se estabelecerá em países com clima favorável, terra disponível, água disponível, recursos naturais, recursos humanos, tecnologias de produção, baixo custo de produção e padrões internacionais de qualidade. A INDúSTRIA DE ALIMENTAçãO ANIMAL VAI SOFRER UMA CONSOLIDAçãO CONTíNUA CONFORME A DEMANDA DOS CONSUMIDORES SE CONSOLIDA E SE ALTERA. 

 O crescimento e a rentabilidade serão desafiados pelos preços e disponibilidade das matérias-primas, desenvolvimento de novas tecnologias, segurança dos alimentos, demandas dos consumidores, questões regulatórias, influências políticas e mão-de-obra qualificada.

 INTRODUçãO  

 

Nos EUA e em outros países desenvolvidos é difícil compreender totalmente os desafios mundiais para alimentar uma população crescente, por causa da abundância relativa de alimentos seguros e acessíveis nestes países. Estima-se que quase 1 bilhão de pessoas passa fome hoje no mundo (UN - FAO, 2008a). Com as projeções de crescimento demográfico atuais, a população mundial deverá ultrapassar 9 bilhões em 2050 contra os atuais 6,7 bilhões.

Juntamente com este aumento da população vem o aumento no poder econômico que se espera das regiões como China, Índia, Europa Oriental e América Latina (Hines, 2008). 

Este aumento do poder econômico mostrou-se ligado ao aumento do consumo de alimentos. Uma elevada percentagem deste crescimento ocorre com o aumento do consumo de proteína animal - carne, leite e ovos - (Steinfeld et al., 2006). Essas mudanças nos padrões da população e do consumo alimentar indicam claramente que precisaremos de 100% a mais de comida em 2050 (Green et al., 2005) (Tilman et al., 2002). Isto significa um enorme aumento que dependerá essencialmente do desenvolvimento e aplicação de tecnologia.

 Estima-se que 70% terão de vir da tecnologia que determina um desafio e oportunidade única para a agricultura vencer esta tarefa.

A INICIATIVA PRIVADA LIGADA AO AGRO NEGóCIO E OS óRGãOS GOVERNAMENTAIS ENVOLVIDOS COM A POLíTICA AGRíCOLA E INSTITUIçõES DE ENSINO DEVEM TRABALHAR JUNTOS PARA CUMPRIR ESSE PAPEL IMPORTANTE NA PRODUçãO DE ALIMENTOS NO FUTURO.

 

QUESTõES GLOBAIS QUE AFETAM A INDúSTRIA DE ALIMENTAçãO ANIMAL 

 

• População em crescimento;

 

• Demanda por mais proteína animal e alimentos; 

 

• Sustentabilidade no fornecimento de alimentos:

 — Responsabilidade ambiental;

 — Responsabilidade social;

 — Viabilidade econômica;

 — Comprovação científica. 

 

• Manter a ciência nas discussões;

 

• Comunicação com o consumidor; 

 

• Influências Políticas; 

 

• Respostas individuais às mudanças;

 

CADA UMA DESTAS QUESTõES APRESENTA DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A INDúSTRIA DE ALIMENTAçãO ANIMAL, CONFORME O SETOR SE ESFORçA PARA FAZER A SUA PARTE EM ATENDER AS DEMANDAS DA CRESCENTE POPULAçãO MUNDIAL. Os economistas classificam o nosso mundo em três grupos

socioeconômicos:

 

• Primeiro Mundo (M1): Grande poder econômico, regiões e nações industrializadas, incluindo EUA, Europa Ocidental, Japão, Coréia do Sul e Austrália. 2008, a população de 1 bilhão 

 

• Segundo Mundo (M2): Países onde o principal desafio é equilibrar os recursos e as necessidades: China, Índia, Europa Oriental e América Latina. 2008, a população de 3-4 bilhões 

 

• Terceiro Mundo (M3): Países que estão constantemente em apuros, como o Bangladesh, Haiti e a maior parte da África. 2008, a população de 1-2 bilhões (Hines, 2008). 

 

O crescimento populacional está relacionado ao crescimento econômico e à demanda de alimentos:

 

• Quase 1 bilhão de pessoas sofreu com a fome em 2008 (ONU FAO, 2008a);

 

• 42% destas pessoas que sofrem de fome crônica vivem na Índia e na China (ONU FAO, 2008b); 

 

• Uma em cada quatro crianças de países do M2 e do M3 está abaixo do peso para sua idade (ONU FAO, 2008c); 

 

• O aumento esperado na população para 2050 será caracterizado pelo crescimento da riqueza das nações do M2, levando a um aumento histórico do consumo de carne, leite e ovos (Hines,

2008) (Simmons, 2009). 

 

Projeta-se que a demanda mundial de alimentos vai aumentar em 100% até 2050 (Green et al., 2005) (Tilman et al., 2002). Isso exigirá que a produção mundial de proteínas provenientes da carne e do leite dobre até 2050 (Steinfeld et al., 2006). A FAO ainda estima que 70% desse adicional de alimentos devem ser provenientes do uso de tecnologias que melhorem a eficiência (Simmons, 2009). Tendências a longo prazo (2005-2050) no consumo de carne mostram claramente que a América Latina e a Ásia terão os maiores aumentos esperados (América Latina - 28 a 47 milhões de toneladas; Ásia - 116 a 153 milhões de toneladas) (Roppa, 2007). 

 

O PAPEL DA SUSTENTABILIDADE PARA ALCANçAR AS FUTURAS DEMANDAS POR

ALIMENTOS  

 

Sustentabilidade pode ser definida de diversas maneiras, mas a maioria concorda sobre o seguinte: responder às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades. Existem muitos fatores que estão desafiando a nossa capacidade de produzir alimentos suficientes para sustentar a vida: 

 

• A população mundial deverá ultrapassar os 9 bilhões até 2050;

 

• A demanda por alimento produzido organicamente, sem agrotóxicos e com redução do uso de fertilizantes e de combustíveis fósseis;

 

• A procura de alimentos produzidos localmente para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis para o transporte;

 

• Ativistas de bem-estar animal pressionando a legislação a fim de interromper a produção animal, promovendo o fim do consumo da carne;

 

• Regulamentações internacionais que restringem as mais recentes tecnologias científicas, especialmente relacionadas à OGM;

 

 

• Diminuição das terras disponíveis para a produção e as preocupações ambientais com o desmatamento e com a destruição das florestas tropicais. 

 

Comer é fundamental para a nossa sustentabilidade. Diferenças econômicas, culturais e religiosas afetam as necessidades alimentares em diferentes partes do mundo. Existem grandes preocupações referentes à segurança alimentar, produção e distribuição de alimentos. 

 

Os consumidores estão mais conscientes em relação à saúde e segurança alimentar. Nós todos vimos o crescimento dos produtos orgânicos e cultivados localmente como tendências na escolha do consumidor, mesmo a preços mais elevados.

 

Ativistas que defendem os direitos dos animais continuam fortalecendo as suas bases financeiras e o número de adeptos enquanto atacam a produção animal em várias frentes (institutos de pesquisa, varejo de alimentos, reuniões empresariais como acionistas, frente política, mídia, materiais educativos para crianças, etc.).

 Os efeitos e as oportunidades gerados pelo aquecimento global para a agricultura, referentes aos créditos de carbono e a iniciativa comercial estão sendo desenvolvidos ativamente.

  Se a tecnologia deve ajudar a fornecer 70% da demanda de alimentos projetada para 2050, devemos trabalhar juntos e de maneira sustentável, tendo em mente que os nossos esforços devem ser:ecologicamente corretos, socialmente responsáveis, economicamente viáveis e cientificamente comprovados. 

 

MANTENDO A CIêNCIA NA TOMADA DE DECISõES VAI EXIGIR UM ESFORçO

COORDENADO DE TODOS OS PARTIDOS AO LONGO DA CADEIA DE ALIMENTOS.  

 

O PAPEL DA TECNOLOGIA NO SéCULO 21 RELACIONADO à ECONOMIA DOS ALIMENTOS E ESCOLHA DO CONSUMIDOR 

 

Simmons (2009) descreveu este assunto em detalhes quando ele mostrou porque a agricultura precisa de tecnologia para atender uma demanda crescente por alimentos seguros, nutritivos e acessíveis. 

 Ele salienta que impulsionado pela eficiência da produção, a agricultura pode alcançar uma grande vitória para os consumidores do mundo todo, trazendo: acessibilidade, abastecimento, segurança alimentar, sustentabilidade e vasta oferta de grãos para biocombustíveis. 

 Ele aponta três conceitos principais que seriam o caminho para este sucesso: colaboração, opção e tecnologia.

 

IMPLICAçõES PARA A INDúSTRIA DE ALIMENTAçãO ANIMAL 

 

Abaixo estão listados alguns dos fatores que surgirão do aumento da procura por proteína animal e das mudanças na produção de carne, leite e ovos: 

 

• Consolidação do público alvo;

 

• As preocupações quanto ao desenvolvimento de novas tecnologias; 

 

• Amplas oscilações nos custos das matérias-primas; 

 

• Escassez de matérias-primas; 

 

• Preocupações com a segurança dos alimentos para animais;


• Questões regulatórias e políticas; 

 

• Demandas do Consumidor; 

 

• Pessoal qualificado; 

 

• Expectativas Financeiras.

 

COMO A INDúSTRIA DA ALIMENTAçãO ANIMAL VAI RESPONDER A ESSES FATORES DEPENDERá DE SEU TAMANHO, SEGMENTAçãO DE OFERTAS, COMPROMISSO COM A PESQUISA, OTIMIZAçãO DOS ATIVOS FíSICOS, CAPACIDADE DE ENCONTRAR E MANTER PESSOAS DE QUALIDADE, SOLIDEZ FINANCEIRA E ACESSO A MATéRIAS-PRIMAS E TECNOLOGIA DO MUNDO INTEIRO.

 Independentemente da suas respostas, todos os envolvidos na cadeia de alimentação animal devem ser eficientes e focados na qualidade, agregando valor em alguma etapa do processo.

 

ONDE OS ANIMAIS SERãO CRIADOS?  

 

É evidente que há muitos fatores que influenciarão onde os animais serão criados, de modo que essa crescente demanda por carne, leite e ovos, seja atingida. Estes fatores são: 

 

• Clima favorável;

 

• Disponibilidade de terra e água;

 

• Uso consciente da terra;

 

• Recursos humanos;

 

• Tecnologias de produção;

 

• Capacidade para produzir um produto seguro e de alta qualidade;

 

• Baixo custo de produção (Roppa 2007).

 

Nós certamente podemos adicionar elementos condicionantes ambientais, tais como as influências políticas e regulatórias como aqueles fatores que irão desempenhar um papel importante para decidir onde os animais serão produzidos. 

 

Estudos europeus mostram claramente que os custos da produção animal serão influenciados por fatores como: preocupações ambientais, saúde pública, direitos de produção, planejamento do território e bem-estar animal. 

 

Uma pesquisa feita por produtores em 2003 projetou que os maiores desafios para a indústria de carne suína nos EUA nos 5 anos seguintes seriam: regulamentação da qualidade do ar - 65%; regulamentação da qualidade da água - 39%; restrições sobre o uso de antibióticos - 35%; ações civis contra as unidades de produção - 74%; questões sobre direitos dos animais - 61%; concentração de mercado - 4%, integração vertical - 4%; excesso de oferta de suínos - 100%; rastreabilidade - 9% (U.S. Pork Industry Structure Study, 2003). 

 

Quando olhamos para estas preocupações atualmente podemos perceber que esta pesquisa foi bastante precisa.

 

REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS  

 

Green, R. E., S. J. Cornell, J. P. W. Scharlemann, and A. Balmford.

2005. Farming and the fate of wild nature. Science 307.5709:550-555.

 

 

Hines, A. 2008. Consumer trends in three different worlds. The

Futurist: July/August 2008. 

 

Roppa, L. 2007. Personal communication. 

 

Simmons, J. 2009. Technology's role in the 21st century: food economics and consumer choice. Elanco Animal Health, Greenfield, IN.

 

 

Steinfeld, H., P. Gerber, T. Wassenaar, V. Castel, M. Rosales, and Cees de Haan. 2006. Livestock's long shadow: environmental issues and options. Executive summary. United Nations Food and Agriculture Organization, Rome. 

 

Tilman, D., K. G. Cassman, P. A. Matson, R. Naylor, and S. Polasky.

2002. Agricultural sustainability and intensive production practices.

Nature 418.6898:671-677. 

 

UN FAO. 2008(a). Number of hungry people rises to 963 million. 

 

UN FAO 1. 2008(b). The state of food insecurity in the world 2008.

United Nations Food and Agriculture Organization, Rome. 

 

UN FAO 2. 2008(c). Goal 1: eradicate extreme poverty and hunger.

 

U.S. Pork Industry Structure Study. 2003.

Artigo apresentado DURANTE O _MIDWEST SWINE NUTRITION CONFERENCE__ _em Indianápolis, Indiana, EUA em 10 de setembro de 2009.


A tradução e distribuição deste artigo foram gentilmente autorizadas pelo seu autor:

 

W. DWIGHT ARMSTRONG - JDA CONSULTING, LLC, KEY BISCAYNE, FL, EUA

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W. DWIGHT ARMSTRONG

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