BB afirma que não há crise no agro e que trabalha para estabilizar inadimplência no segmento
Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - A presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, afirmou nesta quinta-feira que a piora na inadimplência na carteira rural não é generalizada, após o resultado do terceiro trimestre mostrar forte deterioração no segmento, fazendo o banco elevar significativamente suas provisões.
A maior parte do aumento "está relacionada com a cultura de soja, especialmente na região Centro-Oeste", afirmou a executiva em videoconferência com analistas sobre o balanço do banco divulgado na noite de quarta-feira. "Não existe crise no agronegócio brasileiro", reforçou.
Medeiros chamou a atenção para o que chamou de "algo novo", que é um aumento de pedidos de recuperação judicial do produtor rural, apesar de ainda ter uma representação mínima nos resultados do banco. "É um instrumento utilizado por poucos, mas que traz efeitos negativos a todos".
"A RJ do produtor rural inviabiliza o acesso ao crédito, compromete a confiança na cadeia do agro, cria uma ruptura na atividade econômica das mulheres e dos homens no campo, e impacta o custo para todo segmento", reforçou.
O vice-presidente de Gestão Financeira do BB, Marco Tobias, reforçou que há muitos produtores "caindo nesse canto de sereia da advocacia predatória" e afirmou que "se efetivamente ele vai por essa linha de RJ, ele fica esterilizado" no sistema financeiro.
Ele destacou que a atuação do banco já está mostrando resultados. "Nesse último mês, não tivemos elevação na quantidade de clientes entrando com a RJ", acrescentou.
No terceiro trimestre, as provisões para créditos de liquidação duvidosa (PCLD) do BB cresceram 34,2% ano a ano, com a linha de risco de crédito aumentando 26,9%, explicado principalmente pela elevação da inadimplência no segmento agro. O índice acima de 90 dias passou a 1,97%, de 0,71% um ano antes.
Nesse contexto, o BB elevou sua estimativa para a PCLD ampliada para entre 34 bilhões e 37 bilhões de reais no ano, versus projeção anterior entre 31 bilhões e 34 bilhões. No terceiro trimestre, essa linha somou 10 bilhões, acumulando em nove meses 26,4 bilhões de reais.
A presidente do BB afirmou que o banco está realizando um mapeamento detalhado, conversando com clientes, aplicando inteligência analítica, entre outras ações, e que traçou um plano para reabilitar o perfil saudável de crédito.
"Neste momento, é essencial ajustar o fluxo de caixa de alguns produtores, adotando uma análise individualizada na concessão e na regularização do crédito", afirmou.
De acordo com o vice-presidente de Controles Internos e Gestão de Riscos do BB, Felipe Prince, a maior parte da pressão sobre provisão já aconteceu. "O nosso desafio agora é estabilizar essa inadimplência e, obviamente, trabalhar na recuperação", acrescentou.
Ele destacou que se trata de uma carteira que tem mais de 95% de garantia vinculada, o que traz uma recuperação mais elevada.
Ainda no segmento agro, Medeiros também afirmou que, após um começo mais desafiador, o BB já recuperou a velocidade de desempenho no Plano Safra 2024/2025, com o total já desembolsado somando 97 bilhões de reais até 4 de novembro.
Em julho, o Banco do Brasil anunciou 260 bilhões de reais para o financiamento da safra 2024/2025, o maior de sua história.
Apesar das declarações dos executivos do banco, as ações do BB recuavam cerca de 3% na bolsa paulista nesta quinta-feira, entre os piores desempenhos do Ibovespa, que mostrava elevação de 0,3%.
Analistas do Goldman Sachs destacaram que, embora já se esperasse um efeito de questões relacionadas aos preços das commodities, custos de produção e eventos climáticos -- que afetaram principalmente os produtores de soja na região Centro-Oeste --, "a magnitude das provisões foi uma surpresa".
VISÃO PARA 2025
O vice-presidente de Gestão Financeira do BB ponderou que o banco ainda não está falando sobre o guidance para 2025, mas afirmou que um retorno sobre patrimônio líquido (ROE) girando em torno de 20% é "bastante saudável e sustentável para o Banco do Brasil". No terceiro trimestre, o ROE ficou em 21,1%.
Tobias também disse que ainda está muito cedo para falar sobre a previsão de crescimento do lucro do BB no próximo ano, com o banco ainda em processo de finalização do orçamento. Mas adiantou que o BB tem condições de entregar uma expansão de lucro de "single digit" (um dígito).
"Não gostaria de assumir ou dizer que vai ser um "high single digit" (um dígito alto), porque ainda temos que ter bastante cautela, exatamente porque vamos ter que passar por esse momento de equacionamento da questão de particular da provisão ligada ao agro", acrescentou o executivo.
Para 2024, a previsão do banco é de que o lucro líquido ajustado fique entre 37 bilhões e 40 bilhões de reais, após ter fechado 2023 com lucro líquido de 35,6 bilhões de reais.
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