Taxas futuras de juros viram para o negativo após governo antecipar reunião sobre corte de gastos
Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - A simples antecipação de um encontro de ministros do governo Lula para discutir ações na área fiscal, na tarde desta terça-feira, foi suficiente para as taxas dos DIs migrarem para o território negativo, em meio à expectativa dos investidores pelo anúncio de medidas de cortes de gastos.
A queda das taxas no Brasil ocorreu a despeito de, no exterior, os rendimentos dos Treasuries terem voltado a subir, com agentes se posicionando novamente para eventual vitória do republicano Donald Trump na eleição presidencial dos EUA.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2025 -- que reflete as apostas para a Selic no curtíssimo prazo -- estava praticamente estável, em 11,342%, ante 11,323% do ajuste anterior. Já a taxa do contrato para janeiro de 2026 marcava 12,83%, em baixa de 5 pontos-base ante 12,883%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 12,91%, ante 12,975%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 12,82%, ante 12,888%.
Até o início da tarde as taxas dos DIs a partir de 2026 sustentaram ganhos, com alguns vencimentos com elevações superiores a 10 pontos-base. O movimento estava em sintonia com o exterior, onde os yields avançavam com investidores vendo chances maiores de vitória de Trump sobre Kamala Harris, após na véspera a expectativa de vitória da democrata ter ganhado força nos negócios a partir de uma pesquisa eleitoral em Iowa que mostrou vantagem para a vice-presidente no Estado que é tradicional reduto republicano.
O cenário mudou quando surgiu a informação de que uma reunião na Casa Civil do governo em Brasília, para discutir cortes de gastos, havia sido antecipada das 16h00 para as 14h10. O encontro reuniu o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, e a ministra da Gestão e da Inovação, Esther Dweck.
Embora a Casa Civil tenha informado que não haveria entrevista no fim do encontro, o mercado gostou da antecipação.
Profissionais ouvidos pela Reuters ponderaram que, considerando a ansiedade pelo anúncio de medidas concretas, quaisquer notícias -- ainda que simples, como uma antecipação de reunião -- têm impactado os preços dos ativos.
Na esteira da antecipação, o dólar renovou as cotações mínimas do dia ante o real e as taxas dos DIs passaram a cair. Às 15h12, a taxa do DI para janeiro de 2033 marcou a mínima de 12,80%, em baixa de 9 pontos-base ante o ajuste da véspera.
Na segunda-feira, as taxas dos DIs já haviam despencado após Haddad cancelar viagem à Europa e indicar que as novas medidas fiscais do governo devem ser anunciadas nesta semana.
No trecho curto da curva brasileira os movimentos foram mais limitados, com investidores à espera de uma elevação de 50 pontos-base da taxa básica Selic na decisão de quarta-feira do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.
Perto do fechamento a curva precificava 96% de probabilidade de alta de 50 pontos-base, contra 4% de chance de elevação de 75 pontos-base. Na segunda-feira os percentuais eram de 95% e 5%, respectivamente. Atualmente a Selic está em 10,75% ao ano.
No exterior, os rendimentos dos Treasuries curtos seguiam em alta no fim da tarde, com investidores se preparando para os desdobramentos da eleição norte-americana. Os longos estavam mais próximos da estabilidade.
Às 16h38, O rendimento do Treasury de dois anos -- que reflete apostas para os rumos das taxas de juros de curto prazo -- tinha alta de 4 pontos-base, a 4,212%. Já o retorno do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- estava estável, a 4,305%.
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