Recebimento de cacau nacional recua 23% nos nove primeiros meses de 2024

Publicado em 08/10/2024 10:47
No mesmo período, a indústria brasileira processou cerca de 10,8% menos, na comparação com os três primeiros trimestres de 2023

Nos nove meses decorridos de 2024, foi registrada uma queda de 23,3% no volume recebido de amêndoas nacionais, pela indústria processadora de cacau. Foram 124,9 mil toneladas recebidas, em contraste com as 162,9 mil toneladas recebidas no mesmo período de 2023, de acordo com os dados compilados pelo SindiDados – Campos Consultores, e divulgados pela Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC).

Se compararmos o volume de recebimento do terceiro trimestre de 2024 com o volume do mesmo período do ano anterior, tivemos um recuo de 4,3%, passando de 69,6 mil toneladas para 66,6 mil toneladas de cacau recebidas pelas indústrias. Em comparação com o segundo trimestre de 2024, no entanto, o recebimento nacional no terceiro trimestre teve um aumento de 67,9%, saindo de 39,6 mil toneladas, no segundo trimestre, para 66,6 mil toneladas no terceiro trimestre. De acordo com Anna Paula Losi, presidente executiva da AIPC, “o recebimento melhorou em relação ao semestre passado, mas ainda é inferior ao do ano passado. Fortalecendo a tendência de queda neste ano, em parte por questões climática e perdas consideráveis para pragas, como vassoura-de-bruxa e principalmente podridão parda”.

Recebimento por estado

A Bahia foi responsável por pouco mais de 50,6% do volume total de amêndoas de cacau nacionais recebidas pela indústria processadora no decorrer dos nove primeiros meses de 2024, totalizando 63,2 mil toneladas. Em comparação com o mesmo período do ano anterior, quando o volume fornecido pelo estado foi de 91 mil toneladas, houve um recuo de aproximadamente 30,5%.

O Pará, por sua vez, foi responsável por 45,6% do volume recebido, totalizando 56,9 mil toneladas, uma queda de quase 13,5% em comparação com o mesmo período do ano anterior, quando o recebimento foi de 65,8 mil toneladas.

Espírito Santo (3,7 mil toneladas) e Rondônia (1,1 mil toneladas) foram responsáveis por 3,9% do volume total recebido no primeiro semestre do ano de 2024, representando uma queda de 18,4%, frente aos valores de 2023.

Segundo Losi “vários investimentos têm sido feito para melhorar a produtividade das áreas existentes, bem como em novas áreas, mas são projetos que levam tempo para dar resultado, e os extremos climáticos deste ano tem afetado o resultado consideravelmente das áreas tradicionais”.

Moagem

Já a moagem de cacau no País teve um recuo de 10,8%, frente aos números do mesmo período de 2023. O volume industrializado de amêndoas de cacau foi de 169,7 mil toneladas nesses nove primeiros meses de 2024, frente as 190,4 mil toneladas do ano anterior.

Se compararmos a moagem do terceiro trimestre de 2024 com o mesmo período de 2023, também houve uma redução de 13,5%, ou seja, passamos de 64 mil toneladas para 55,3 mil toneladas. De acordo com a presidente-executiva da AIPC, “a moagem caiu por dois motivos: baixa qualidade nas amêndoas recebidas, que estão vindo com muita sujidade, o que tem atrapalhado o processo industrial, e por queda na demanda, em razão da instabilidade no mercado”.

Importação x Exportação

A importação de amêndoas de cacau apresentou queda de 47,7% nestes três trimestres de 2024, quando comparada com o mesmo período do ano anterior. Entre janeiro e setembro deste ano, o volume importado de amêndoas de cacau foi de 22,5 mil toneladas, ante 43 mil toneladas importadas no mesmo período de 2023. Não houve importação de amêndoas de cacau no terceiro trimestre de 2024. Anna Paula afirma que “o cenário atual continua muito instável, mas diante dos números apresentados pela safra brasileira muito provavelmente será necessário importação de cacau neste próximo trimestre e no primeiro trimestre de 2025, para que seja possível cumprir com todos os compromissos de exportação”.

Já a exportação de amêndoas de cacau nos nove primeiros meses de 2024, foi de 399 toneladas, ainda um volume baixo frente a produção nacional. A exportação de derivados de cacau ficou estável, passando de 35,5 mil toneladas para 36,6 mil toneladas, mas com uma tendência de alta se comparados os dados dos dois últimos trimestres.

Análise do mercado internacional

Caio Santos, do departamento de mercado da StoneX, afirma que a temporada de 2024/25 deve registrar o primeiro excedente global de oferta de cacau em quatro anos, influenciada tanto por uma recuperação na produção (impulsionada pelos altos preços ao longo de 2023 e 2024), quanto por uma retração na demanda, resultado da tendência da indústria de substituir produtos derivados do cacau, devido ao forte aumento dos preços em 2024.

A StoneX projeta um excedente de 166 mil toneladas no balanço de oferta e demanda de cacau em 2024/25, uma melhora significativa após o déficit de quase meio milhão de toneladas na temporada 2023/24. “Também projetamos um aumento de 12,1% na produção da Costa do Marfim, o maior produtor mundial, para 1,95 milhão de toneladas em 2024/25. Já a produção de Gana, o segundo maior produtor, deverá crescer 33%, chegando a 600 mil toneladas. Para o Brasil, a expectativa é de uma recuperação de 20,6%, com a produção alcançando 205 mil toneladas, caso as condições climáticas se normalizem no ciclo 2024/25”, afirma o especialista.

De acordo com Santos, a redução da demanda, devido aos altos preços, fará com que a relação estoque/uso — um indicador-chave de oferta que serve como importante marcador de tendência de preços — aumente para 31,7% em 2024/25, em comparação com 27,2% em 2023/24, o nível mais baixo desde 1976/77. Ele também analisa que “os preços do cacau em Nova York subiram 61% em 2023 e acumulam uma alta adicional de 65% até o momento em 2024”.

Desde o início do ano, a negociação de cacau nas bolsas de Nova York e Londres tem sido marcada por um baixo volume de transações. Atualmente, os players mantêm uma baixa exposição nas bolsas, e alguns fatores sugerem que os próximos meses podem atrair mais vendedores. Entre esses fatores estão a entrada da nova safra, a perspectiva de ampliação da oferta e a possibilidade de adiamento da implementação da EUDR (Lei Antidesmatamento da União Europeia), que poderia facilitar a entrada de mais cacau na UE. Esses fatores provavelmente aumentarão o volume de vendas do setor comercial nos próximos meses, potencialmente pressionando os preços nas bolsas.

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Fonte:
AIPC

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