Nottus: Primavera deve favorecer safra de grãos 2024/25, com possível novo recorde
Por Alexandre Nascimento, sócio-diretor e meteorologista da Nottus
A temperatura no planeta vem batendo recorde em cima de recorde desde o final do ano passado. Isso se deve à soma dos efeitos do aquecimento global com o El Niño de 2023/24. As altas temperaturas fortalecem os eventos extremos, potencializando as secas, as ondas de calor, as enchentes, entre outros fatores.
Os efeitos no Brasil foram severos para diversos segmentos, inclusive para a agricultura, com quebra na safra de grãos na temporada 2023/24 de cerca de 7%, quando comparado com o período anterior, o que representou um pouco mais de 22 milhões de toneladas a menos. A quebra foi resultado exatamente das condições climáticas adversas, com excesso de calor e falta de chuva no centro-norte do país e excesso de chuva no Rio Grande do Sul durante o período de outubro a dezembro de 2023. No Paraná, no Centro-Oeste e no Sudeste a chuva demorou para chegar e houve diversas interrupções (períodos longos sem chuva), provocando mais de um replantio em algumas áreas, como em Goiás, que teve registro de replantio até em dezembro daquele ano. E mesmo durante as fases de desenvolvimento e enchimento de grãos, a chuva foi insuficiente, o que trouxe queda de produtividade na soja e no milho primeira safra no Brasil.
Para 2024, o sinal do aquecimento global ainda permanece o mesmo. No entanto, a ausência do fenômeno El Niño e a possibilidade de formação de uma La Niña fraca melhoram a estimativa de chuva para o último trimestre do ano, se comparado com o ano passado. A chuva deve ser mais espalhada, chegando perto do momento correto e vindo dentro de uma normalidade, sem ficar concentrada como ocorreu em 2023 (praticamente só choveu no Sul do país). Os modelos numéricos de previsão do tempo vêm indicando essa projeção para o último trimestre deste ano já há alguns meses.
Vemos abaixo os mapas de previsão de chuva para os meses de outubro, novembro e dezembro/24 estimados pelo centro europeu neste começo de setembro.
A chuva chega de forma irregular no final de setembro, e de forma lenta e gradativa vai se consolidando durante o mês de outubro em áreas importantes onde o vazio sanitário já está liberado, como no Paraná, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Ainda em outubro a chuva vai “subindo” e pegando os municípios de São Paulo, Goiás, do centro-sul de Minas Gerais e de Rondônia. As rodadas indicam que a chuva avança pelo restante das regiões produtoras em novembro e dezembro de 2024.
Com essa expectativa de chuva se concretizando, há grande possibilidade de produtividades bem melhores do que no ciclo anterior. As primeiras estimativas para a safra de soja 2024/25 indicam aumento de 11 a 15% em comparação com a safra anterior, que teve a quebra em relação ao período 2022/23 (que havia sido recorde). A produção da safra de grãos 2022/2023 atingiu a marca histórica de 322,8 milhões de toneladas, alta de 18,4% ou 50,1 milhões de toneladas a mais em comparação com a safra de 2021/22. Na safra 2023/24 houve a quebra, por causa do clima, mas se a chuva deste ano se confirmar a estimativa para a safra 2024/25 será de um novo recorde.
PONTO DE ATENÇÃO: Um outro ponto de atenção para o setor é o escoamento da safra pelos rios. Caso a safra de verão não possa ser escoada por eles, os custos com a logística aumentariam ainda mais. Atualmente, o nível dos rios do Norte é o menor do histórico e as condições de vazão também estão desfavoráveis na hidrovia Tietê Paraná. No entanto, ainda há um período para usar as hidrovias. Caso a chuva esperada se confirme neste próximo trimestre, teremos recuperação de ambas as bacias e vai dar tempo para a logística usá-las.
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