Com cheias no RS, perdas na safra de soja no Brasil podem ser as maiores da história; fotos e vídeos
Com cheias no RS, perdas da soja no BR podem ser as maiores da história
A tragédia que assola o Rio Grande do Sul está em curso e ainda não permite que as perdas na agropecuária do estado sejam estimadas com precisão. Os níveis da água ainda estão muito elevados e nem mesmo as propriedades podem ser acessadas para que uma avaliação possa ser feita de uma forma mais detalhada.
"No levantamento total das áreas que foram inundadas e podem sofrer mais perdas de agora em diante, chegamos a um total, até agora, de 2,4 a 2,8 milhões de toneladas de soja sob esta ameaça", explica o diretor da Pátria Agronegócios, Matheus Pereira, em entrevista ao Bom Dia Agronegócios, no Notícias Agrícolas, nesta quinta-feira (9). "Talvez na segunda-feira que vem, quando as chuvas mais uma vez darão uma trégua, podemos chegar a números maiores".
No vídeo acima, entenda como a consultoria alcançou estes números.
Pereira afirma que muitos clientes da Pátria fizeram relatos de grãos de soja sujos de barro dentro das vagens, vagens que se abriram, grãos ardidos, germinados, muitos volumes perdidos. Assim, o tempo ainda será necessário para mostrar números mais claros e seus impactos sobre a oferta real de soja 2023/24 do Brasil.
"É um corte quem vem para subtrair da oferta total aqui no Brasil, uma oferta que já era deficitária, que sofreu com perda de produtividade na região central com seca (...), a Pátria está tentando finalizar um levantamento apurado, mas podendo nos aproximar dos 140 milhões de toneladas produzidas no Brasil. Ainda é cedo para cravarmos este número", detalha Pereira.
Com mais estas perdas, o Brasil poderia registrar sua maior perda de safra da história, superando a maior quebra até o momento, registrada em 2022, de 25 milhões de toneladas, entre potencial produtivo e resultado final.
"É um fator a ser considerado, o mercado está reagindo a isso, vimos altas sendo empilhadas não só em prêmios aqui no Brasil, mas também em Chicago, já que reduz a oferta total sul-americana, a oferta mundial de soja, trazendo mais nitidez ao mercado internacional de que esta é uma safra deficitária", afirma o analista.
AS IMAGENS DO CAMPO
A sojicultura gaúcha está toda em suspenso neste momento. Com as propriedades rurais estão ainda ou alagadas, ou com os solos encharcados, ou podendo voltar pontuamente a colher, é completamente impossível fazer qualquer estimativa sobre o futuro da produção de soja no Rio Grande do Sul. Números preliminares já apontam para perdas de três a cinco milhões de toneladas e para o professor Dr. Elmar Floss, engenheiro agrônomo, fisiologista, as projeções são factíveis frente à tragédia que, ainda em curso, está assolando o estado.
"Já faz três semanas que os produtores não conseguem colher. Estão desesperados. E agora, as áreas estão inundadas, não tem como se entrar com as máquinas. Não tem como colher", detalha o especialista. "Há várias regiões que, desde ontem, já está chovendo novamente e a previsão é de chuva até terça-feira, então, ninguém vai entrar em lavoura".
Há alguns locais no Rio Grande do Sul, todavia, que os trabalhos de campo, mesmo atravancados, puderam ser realizados. As imagens do resultado destas colheitas, porém, são estarrecedoreas. São volumes imensos da oleaginosa completamete apodrecidas, grãos germinados e uma oferta muito comprometida.
"Essa soja tem desconto altíssimo, porque a maioria é grão avariado, grão ardido. Não tem nenhum valor comercial", explica o professor. "Talvez uma parte desta soja vá direto para ração, mas com um valor muito mais baixo". Para Floss, não é possível mais esperar que uma produção de soja no Rio Grande do Sul acima de algo entre 17 e 18 milhões de toneladas, uma vez que as projeções iniciais eram de uma safra de 22 milhões.
O professor acredita ainda que, em rendimento, esta poderia ter sido a melhor safra de soja da história do Rio Grande do Sul, depois de tantos anos difíceis que os produtores gaúchos amargaram em função da estiagem, reflexo de uma sequência de três La Niñas. "Neste momento há uma incerteza geral", relata.
"Soma-se a isso aos desastres que o Rio Grande do Sul vem sofrendo. Houve uma seca na safra 2019/20, aí uma boa safra 2020/21 - que até o momento é a melhor safra do Rio Grande do Sul - depois dos anos de estiagem, os preços caíram, despencaram. Em 2022, o produtor apostou no trigo e foi muito bem, tivemos o melhor ano de trigo no RS, de aveia branca, cevada, preços excepcionalmente altos, o período em que a soja chegou a R$ 180,00, o trigo aos R$ 127,00 - hoje está um pouco mais que a metade, o milho a R$ 110,00/R$ 115, hoje bem abaixo. Aí vem aquela chuvarada de meados de setembro até quase dezembro que resultou naquela primeira grande enchente, já histórica, e levou esse trigo. Temos armazéns de cooperativas e cerealistas cheios desse trigo e não tem o que fazer com ele", detalha Floss.
E agora, este cenário devastador para a soja.
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