Campos Neto cita dependência de dados e reforça centro da meta de inflação como alvo
Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reafirmou nesta quarta-feira que, apesar de a atividade econômica forte no Brasil ter criado novas incertezas, o processo de desinflação não está interrompido, ainda que a instituição esteja um pouco mais dependente de dados do que gostaria.
Em apresentação exibida durante palestra em evento do Bradesco BBI, em São Paulo, Campos Neto pontuou que os indicadores recentes de atividade no Brasil sugerem um dinamismo ligeiramente maior que o esperado, especialmente em serviços e comércio.
Para ele, com a revisão do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, ficou difícil imaginar um crescimento abaixo de 2% em 2024, o que tem motivado revisões de projeções entre os economistas.
Ao mesmo tempo, ele defendeu durante sua palestra o estrito cumprimento da meta de inflação no Brasil, cujo alvo central é de 3% para este e os próximos anos.
"A meta é a meta e temos que cumprir a meta", disse Campos Neto. "É importante perseguir a meta", reforçou, citando que há entre algumas pessoas um entendimento de que a meta não seria "uma meta de fato".
Os comentários de Campos Neto surgem em um momento em que, pelo relatório Focus, a projeção mediana do mercado para a inflação em 2024 é de 3,75% e em 2025 de 3,51%.
Estes percentuais estão dentro da margem de tolerância para cumprimento da meta, de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos (inflação entre 1,50% e 4,50%), o que tem levantando questionamentos, no mercado, sobre se o BC poderia ser mais brando em sua política monetária ainda que as projeções apontem para um resultado pouco acima do centro da meta.
Campos Neto, por sua vez, tem procurado salientar a necessidade de se perseguir o alvo central. Em sua palestra desta quarta-feira, ele afirmou que um "incômodo grande" do BC é a expectativa de inflação de longo prazo, "que não tem convergido para a meta".
Ao avaliar o cenário mais recente, Campos Neto afirmou que o processo de desinflação no Brasil vem ocorrendo "mais ou menos dentro do esperado" pelo BC, embora "na ponta" a instituição tenha visto uma "ligeira piora".
Segundo ele, a inflação no Brasil mantém trajetória de queda, com itens menos voláteis se aproximando da meta, mas a inflação de serviços está acima do patamar pré-pandemia, mostrando-se mais resiliente nos itens mais ligados ao mercado de trabalho.
Por outro lado, ele avaliou que a alimentação não é vista como um "grande problema" para a inflação em 2024 e reafirmou que o resultado fiscal para o ano pode ser "um pouco melhor" do que o mercado projeta.
Ao tratar do cenário global, Campos Neto lembrou que, durante evento em fevereiro, alguns participantes se mostraram "muito otimistas" sobre a desinflação naquele momento. No entanto, conforme o presidente do BC, o cenário se mostrou mais difícil até o momento.
"Se o corte de juros pelo Fed não for em junho, vamos entrar em fase de reprecificação da taxa terminal (nos EUA)", avaliou. "Continuamos olhando o processo de convergência que está lá... mas há mais incertezas."
SUCESSÃO NO BC
Questionado durante o evento sobre sua sucessão no comando do BC, Campos Neto evitou tratar de possíveis substitutos, mas prometeu fazer a transição "mais suave possível".
Ele defendeu ainda que a sabatina de seu sucessor, a ser realizada no Senado, ocorra ainda em 2024 e disse que o prêmio de risco ligado à mudança na gestão do BC "diminuiu bastante".
"A coisa mais importante para quem senta na cadeira (do BC) hoje é ter a firmeza de dizer 'não'", pontuou Campos Neto, acrescentando que "o melhor plano econômico é ter inflação baixa e estável".
(Por Fabrício de Castro, em São Paulo; reportagem adicional de Bernardo Caram, em Brasília)
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