Consultoria brasileira desenvolve estratégia de ESG para indústria de açúcar e álcool na Guatemala
Ao acompanhar debates globais sobre urgências climáticas e sociais, a Associação de Açucareiros do Guatemala – ASAZGUA, criada em 1957, sentiu a necessidade de definir uma visão de longo prazo e uma estratégia ESG, com práticas e padrões de sustentabilidade que transformassem positivamente o setor e, consequentemente, o país, já que a agricultura, incluindo o plantio da cana-de-açúcar, é sua principal fonte de receita e exportação. O projeto ficou sob responsabilidade da Collab formada pela CAUSE, consultoria brasileira especializada em causas e ESG, e pela Inpress Porter Novelli, agência de comunicação estratégica, para a criação de um plano de ação de ponta a ponta.
O objetivo principal da estratégia desenvolvida pela CAUSE é de que, em 2033, a indústria açucareira da Guatemala seja um modelo de sustentabilidade para para o mundo todo. Para alcançar esse resultado, foram estabelecidas 42 metas prioritárias, utilizando uma metodologia baseada nos anos de sua experiência em projetos de sustentabilidade. O plano faz parte frente de serviços dedicada a iniciativas de ESG e Programas de Impacto.
“A construção de uma estratégia ESG é um processo complexo, desafiador e que requer cuidado e profundidade, pois é extremamente importante para empresas e setores que desejam se manter competitivos e relevantes no mercado global"”, diz Leandro Machado, cientista político e sócio cofundador da CAUSE.
Contexto: Guatemala é o 5º país que mais exporta açúcar no mundo
A Guatemala é um país de natureza exuberante e o mais populoso da América Central, mas ainda é marcado pela pobreza e desigualdade, enfrentando dificuldades em diversas áreas como saúde e desenvolvimento. Visto como um importante vetor para a economia, o setor açucareiro é a principal indústria exportadora da Guatemala, e coloca o país na 5ª posição no ranking de exportador global do produto. No mercado internacional de produção de açúcar, é o terceiro colocado em produtividade – o que mostra o investimento histórico em inovação e tecnologia.
A Guatemala produz muito, em pouco espaço. Na safra de 2021/22, por exemplo, o país produziu mais de 2 milhões toneladas de açúcar. A cana de açúcar é um forte motor de geração de emprego e de fonte de renda para as famílias guatemaltecas: são mais de 56 mil empregos diretos e mais de 278 indiretos, atendendo a necessidade de 324 mil famílias que dependem da renda do setor.
Entretanto, apesar da enorme força e relevância, o setor açucareiro da Guatemala se encontra pressionado por diversos fatores de vulnerabilidade política, econômica, social e ambiental: clientes globais mais exigentes com práticas ambientais, mercado mais competitivo mundialmente, alto fluxo migratório para os EUA que gera escassez de mão de obra local, legislações mais restritivas para a redução do consumo do açúcar, exigência de relacionamento com comunidades do entorno, e a opinião pública que pressiona para que o setor faça cada vez mais. E, foi daí que surgiu a necessidade de criação de um plano a longo prazo e novas práticas sustentáveis.
“O desafio foi produzir um diagnóstico robusto, a partir do qual seria possível identificar gaps e oportunidades de atuação ESG, de forma que eles pudessem ser aplicados e executados pelos engenhos e cadeia de valor, a fim de reposicionar a cana de açúcar e atualizar suas práticas ESG relacionadas ao negócio”, conta Leandro.
A Associação dos Produtores de Cana de Açucar investiu muito ao longo dos anos em diversas ações, projetos e programas de Responsabilidade Social Corporativa, mas entendeu que era preciso criar uma nova estratégia para o novo contexto de pressões e oportunidades.
Metodologia do projeto ASAZGUA
A metodologia da CAUSE para projetos de sustentabilidade contempla alguns passos coordenados entre si, que orientaram o trabalho na Guatemala:
Realização de um diagnóstico completo
A CAUSE fez um diagnóstico profundo na associação, no setor sucroenergético, em pesquisas e materiais já existentes sobre o tema e realizou a visita in loco nos engenhos e plantações de cana da Costa Sul do país. Paralelamente, aconteceram entrevistas em profundidade com atores-chave e um mapeamento digital por meio de netnografia, além de benchmark com outras empresas e associações desse mercado. Na sequência, um antropólogo entrou em ação para fazer uma pesquisa de campo etnográfica, percorrendo mais de 50 comunidades, entrevistando pessoas e entendendo seus anseios e suas demandas, como forma de entender o contexto local e a relação com a cana de açúcar.
Revelação do propósito
O exercício de validação do propósito foi feito com o Conselho de Administração da associação e que ajudou a orientar toda a estratégia desenhada. O desafio de alinhamento foi enorme, uma vez que se trata de uma associação da indústria, que congrega a visão de quase duas dezenas de competidores sentados em torno de uma mesa para discutir propósitos e valores em comum.
Matriz de públicos e materialidade
Cerca de 200 stakeholders - entre colaboradores dos engenhos e da associação, empresários, CEOs, membros da comunidade do entorno, fornecedores, entre outros - foram entrevistados para que a matriz de materialidade do setor fosse reestruturada. No final dessa etapa, cerca de 7 temas materiais foram priorizados: uso de água, poluição do ar, uso do solo, e outros.
Mapeamento dos principais riscos
A partir da combinação das ações anteriores e de outros estudos, a CAUSE elencou e analisou os riscos de pelo menos quatro aspectos: sociais, ambientais, político-jurídicos e de mercado ou operacionais.
Definição de visão ESG de longo prazo
Coração de todo o trabalho, esse item foi a parte mais relevante do projeto, pois abrangeu a definição de uma visão ESG para os próximos 10 anos, ambições, objetivos e metas. Após mais de 40 horas de reunião com a equipe da associação e as lideranças de engenhos associados, foram definidas as 42 metas distribuídas nas três dimensões (ambiental, social e governança). As metas incluem a redução de pegada hidráulica, aumento de mulheres na indústria da cana, aumento acima da média da escolaridade de crianças e adolescentes da região, etc.
Detalhamento do plano de ação
Mais outras 40 horas de reunião e o plano de ação foi tratado em detalhes com a equipe dos engenhos e da associação e validado pelo Conselho da associação e CEOs das empresas envolvidas. Nessa fase, foram apresentados os programas e ações necessários, responsáveis por cada um deles, prioridades e a estimativa de recursos para entregar todas as metas estabelecidas, ao longo dos dez anos.
Indicadores e governança da estratégia
Neste estágio, foram de suma importância os técnicos da associação e os diretores e gerentes industriais dos engenhos, pois são as pessoas que acompanham alguns indicadores, como consumo de água, gestão de queimas e número de colaboradoras, por exemplo.
Plano de comunicação e engajamento
O time de comunicação estratégica da Inpress Porter Novelli desenhou e validou um plano de comunicação e engajamento para o setor e para as associadas, a partir da nova estratégia ESG, que vai além da definição de canais e mensagens-chave, alcançando inclusive o rebranding da associação.
“O caso da Associação dos Produtores de Cana de Açúcar da Guatemala é um exemplo inspirador de como uma organização pode se reinventar e construir uma nova estratégia ESG de ponta a ponta, levando em conta o contexto socioeconômico em que está inserida e as pressões e oportunidades de um mercado verdadeiramente global”, avalia Leandro Machado, sócio cofundador da CAUSE.
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