Minerva e Marfrig atenderão China com plantas do exterior após "vaca louca" no Brasil
SÃO PAULO (Reuters) -As gigantes Minerva e Marfrig afirmaram nesta quinta-feira que seguirão atendendo a demanda chinesa de carne bovina por meio de unidades de abate no Uruguai e na Argentina, após um "autoembargo" do Brasil devido a um caso de "mal da vaca louca" no Pará.
Segundo a Minerva, essa estratégia evitará que sua participação de mercado seja afetada, já que as unidades brasileiras que antes embarcavam a carne aos chineses agora estão suspensas. Serão utilizadas três plantas no Uruguai e uma argentina.
A Minerva, líder na América do Sul na exportação de carne bovina, comentou que a suspensão se deu em função da confirmação de um caso da Encefalopatia Espongiforme Bovina, em um animal de 9 anos, conforme tinham relatado autoridades na véspera.
As ações da Minerva, que chegaram a cair 2,7% no pregão, operavam em alta 3,25% por volta das 17h10. As da Marfrig, por sua vez, estavam em alta 0,64%.
A Marfrig, que é a maior produtora global de hambúrgueres, disse em comunicado que o atendimento realizado pelas sete plantas brasileiras da empresa será redirecionado para as seis unidades habilitadas aos chineses, localizadas no Uruguai e na Argentina.
"A Marfrig acredita que a situação do EEB está dentro dos parâmetros regulares envolvendo questões sanitárias e espera que as exportações sejam retomadas em breve", afirmou.
A empresa ainda pontuou que recentes habilitações recebidas pela companhia também irão contribuir com a diversificação dos destinos de exportação da proteína do Brasil.
No acumulado dos últimos doze meses reportados, as exportações brasileiras da Marfrig para o mercado chinês representaram 6,4% de sua receita líquida consolidada.
VACA LOUCA
Brasil e China, maior importador do produto brasileiro, têm um protocolo de suspensão de negócios para casos de EEB atípica, algo que já aconteceu no passado.
Amostras do animal foram enviadas para laboratório referência em Alberta, no Canadá, "que poderá confirmar se o caso é atípico", quando a doença ocorre de forma espontânea em animais mais velhos, sem apresentar riscos para a cadeia alimentar.
"Importante salientar que desde 2015 a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) exclui a ocorrência de casos de EEB atípica para efeitos do reconhecimento do status oficial de risco do país", disse a Minerva.
Em função disso, a empresa disse acreditar que, "tal qual em períodos anteriores, a suspensão das exportações brasileiras é temporária e deverá ser retomada em um curto espaço de tempo".
Em nota, a Safra Corretora disse a clientes que a "probabilidade de ser uma variante atípica sem contágio é alta", mas que a "retomada de embarques para a China fica agora a critério do país oriental".
"Hoje temos um cenário de queda de preço na carne bovina, e com a reabertura da economia vemos que a China não deve conseguir ficar tanto tempo sem o produto brasileiro", disse.
A Safra Corretora, assim como outros analistas, disseram que a "Minerva é a mais afetada", já que tem 30% de sua receita atrelada à exportação para o país.
A JBS tem em torno de 3% de sua receita ligada à China, e a BRF, zero.
"Se assumirmos que o embargo leva dois ou três meses, o impacto para Minerva seria mais 'pelo newsflow' negativo do que efetivamente no bottom line".
A Guide Investimentos lembrou que o país asiático é hoje o maior parceiro brasileiro na importação de carne bovina, sendo responsável por mais de 50% dos envios no ano passado.
"O governo chinês deve avaliar as informações fornecidas pelos órgãos responsáveis aqui no Brasil antes de efetivar a liberação dos embarques novamente", disse a Guide.
Analistas do banco Santander disseram acreditar que a China vai usar o caso para barganhar preços mais baixos de carne.
A Reuters informou na véspera que o mercado do boi gordo "travou" e deixou frigoríficos no Brasil em compasso de espera, com abates suspensos em diversas regiões do país, especialmente aqueles que vendem carne para China.
(Por Roberto Samora e Nayara Figueiredo; com reportagem adicional de Gabriel Araujo e Paula Arend Laier; edição de Letícia Fucuchima)
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