Com início ainda incipiente, colheita de soja do Brasil deve ganhar ritmo na 2ª quinzena de janeiro
Por Nayara Figueiredo e Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) – A colheita de soja da safra 2022/23 em Mato Grosso, Estado que dá a largada nos trabalhos no Brasil, deve ganhar ritmo a partir da segunda quinzena de janeiro, após um plantio realizado um pouco mais tarde do que no ciclo anterior em algumas regiões, disseram produtores.
O presidente da associação de produtores Aprosoja Brasil, Antônio Galvan, disse que os trabalhos são realizados ainda em poucas áreas, de forma isolada.
“(Houve) uma lavoura ou outra colhida, muito incipiente, a colheita deve começar mesmo no mínimo no dia 15 deste mês, ou mais”, afirmou Galvan.
A associação mato-grossense do setor Aprosoja-MT informou que os agricultores que estão em fase de colheita são de regiões com irrigação por pivô. Em geral, há o plantio de algodão segunda safra na sequência.
Algumas colheitas foram realizadas em dezembro, antes mesmo do Natal, informou o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), à Reuters. Entre as fazendas que tinham iniciado os trabalhos estão as do grupo Amaggi, do ex-ministro da Agricultura Blairo Maggi.
Mas em meio a chuvas tradicionais no Estado nesta época e um plantio mais tardio em parte das áreas, o total colhido ainda segue pouco representativo.
Do município de Vera, perto de Sorriso (maior produtor de soja do Brasil), o agricultor Elso Pozzobon confirmou que a colheita ainda está em estágio “embrionário”, mas a expectativa é positiva.
“A nossa região é a que colhe primeiro… não tem reclamação da safra até o momento, estamos com lavouras muito boas”, disse.
Ele afirmou também que havia uma expectativa por chuvas que dessem condições melhores para o plantio em setembro, mas elas foram muito “raras”, sem condições para uma antecipação da semeadura.
Por isso, em janeiro do ano passado os trabalhos para a colheita de 2021/22 estavam um pouco mais adiantados, em relação ao ciclo atual, lembrou Pozzobon.
Os produtores estão apreensivos com o clima, normalmente muito chuvoso nesta época do ano, mas até o momento não há problemas.
“Nos anos anteriores choveu mais, este ano voltou a praticamente à normalidade, com alternância entre chuva e sol, a gente tem momento (para entrar com as colheitadeiras nos campos)”, afirmou.
Neste contexto, o produtor acredita nos “próximos dez dias vai aparecer bastante lavoura para colher”.
Na região leste de Mato Grosso, casos mais extremos de atraso nas chuvas durante o plantio da soja podem postergar a colheita para fevereiro.
“Estou no Vale do Araguaia, em Nova Xavantina, a chuva retardou para começar, demorou pra começar, plantamos praticamente no final de outubro e novembro, a soja vai demorar bastante para ficar pronta”, disse o produtor Endrigo Dalcin.
“Querência plantou mais cedo, em alguns pivôs plantaram mais cedo, mas no sequeiro atrasou, Xingu atrasou, toda a região leste de Mato Grosso ficou mais tarde”, acrescentou.
Em outros Estados do Centro-Oeste, períodos de seca também podem levar a colheita para o mês que vem.
O produtor Bartolomeu Braz, da região central de Goiás, lembrou que houve um longo período de veranico em novembro que atrasou os trabalhos durante a safra.
“Agora está indo bem, haverá colheita em nosso entorno a partir de 15 de janeiro, mas a minha previsão, por exemplo, é só em fevereiro”, comentou sobre as propriedades dele.
SAFRA RECORDE, PRESSÃO DE PREÇO
Apesar das instabilidades climáticas ocorridas ao longo do plantio de soja, o Brasil ainda deve colher um recorde de 153,8 milhões de toneladas na safra 2022/23, que só não é maior devido à falta de chuvas no Sul, conforme estimativa divulgada nesta semana pela consultoria StoneX.
Segundo o analista da Safras & Mercado, Luiz Fernando Roque, os preços da soja ainda estão encontrando suporte na questão climática, em meio a preocupações do mercado com o que acontece no Sul e na Argentina.
“Mas lembro que estamos falando dos preços disponíveis, que nesse momento ainda representam os últimos volumes de safra velha…”, disse ele.
“A entrada da safra nova deve pesar sobre os preços a partir de fevereiro, ou até um pouco antes, mesmo com os problemas climáticos”, concluiu o analista, comentando sobre a expectativa de colheita recorde no Brasil, maior produtor e exportador global.
(Reportagem de Nayara Figueiredo e Roberto Samora)
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