BC vê redução da ociosidade, mas espera queda mais forte da atividade à frente
Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central avaliou que houve uma redução recente do grau de ociosidade da economia brasileira, mas ponderou que o impacto defasado da política monetária aponta para uma queda mais forte da atividade econômica à frente.
"Houve alguma diminuição da ociosidade estimada desde sua última atualização", disse o BC na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) publicada nesta terça-feira.
"O Copom reforça que incorpora, em sua projeção, um aumento da ociosidade ao longo do horizonte de política monetária, como reflexo do ajuste monetário empreendido nos últimos trimestres."
A ociosidade é um indicador que analisa a capacidade de ampliação da produção nacional considerando a estrutura produtiva instalada no país em dado momento. Uma redução da ociosidade pode indicar que a capacidade de produção está mais próxima de seu limite, o que pressionaria a inflação.
De acordo com o BC, os dados de atividade já indicam um ritmo de crescimento mais moderado na margem, com fatores que influenciam o crescimento em direções opostas.
"Por um lado, o ímpeto da reabertura da economia no setor de serviços e os estímulos fiscais ainda impulsionam o crescimento do consumo, embora esses impulsos devam arrefecer. Por outro, o impacto da política monetária e suas defasagens apontam para uma redução do ritmo da atividade econômica, que tende a se acentuar nos próximos trimestres", afirmou.
A autoridade monetária ressaltou que o mercado de trabalho --que também pode indicar pressões adicionais sobre a inflação-- seguiu se recuperando, mas em menor ritmo do que em meses anteriores.
Em relação ao efeito já observado após o aperto monetário, o Copom afirmou ter notado impacto em dados das concessões de crédito às famílias e no aumento moderado da inadimplência, com dinâmica que sugere retração da renda real disponível.
RISCO FISCAL
Na ata, o BC também demonstrou preocupação com o cenário fiscal do país em meio a uma ampliação de gastos permanentes do governo e incertezas sobre a condução das contas públicas em 2023, ressaltando que o cenário pode ampliar riscos e pressionar a inflação.
“O Comitê avalia que o aumento de gastos de forma permanente e a incerteza sobre sua trajetória a partir do próximo ano podem elevar os prêmios de risco do país e as expectativas de inflação à medida que pressionem a demanda agregada e piorem as expectativas sobre a trajetória fiscal”, disse.
Segundo o documento, há vários canais pelos quais a política fiscal pode afetar a inflação, incluindo seu efeito sobre a atividade, preços de ativos, grau de incerteza na economia e expectativas de inflação.
A gestão Jair Bolsonaro promoveu forte ampliação de gastos do governo neste ano eleitoral, inclusive aprovando um estado de emergência para liberar despesas sociais por fora do teto de gastos.
Além de o atual governo já ter proposto no Orçamento de 2023 a continuidade de parte dos programas que impactam as contas públicas, como a desoneração de tributos de combustíveis, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva fez promessas para 2023, como a manutenção do valor do Auxílio Brasil em 600 reais por família.
Ainda em relação às contas públicas, o Copom reforçou mensagem do comunicado da reunião da semana passada, no qual incluiu avaliação de que há uma maior sensibilidade dos mercados a fundamentos fiscais, inclusive em países avançados, o que inspira maior atenção para países emergentes.
"A conjunção de taxas de juros mais altas com endividamentos soberanos em patamares historicamente elevados suscita questionamentos sobre a sustentabilidade do endividamento público em diversos países", disse, ressaltando que a menor liquidez nos mercados de títulos eleva a percepção de riscos.
O BC decidiu manter a Selic em 13,75% ao ano em reunião na semana passada, quando avaliou que a inflação continua alta apesar de reduções de preço concentradas em uma parcela dos itens, ressaltando que indicadores sinalizam um ritmo mais moderado de crescimento da atividade no país.
A autoridade monetária reafirmou que se manterá vigilante, avaliando se a manutenção da taxa de juros nesse nível por período suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação para as metas.
Segundo a ata, as projeções de inflação apresentaram leve aumento nos horizontes mais longos, refletindo revisões de alta para a inflação de preços livres no curto-prazo e pequena elevação na estimativa para preços administrados.
O BC ponderou, no entanto, que as projeções se mantêm em valores compatíveis com a estratégia de atingir o redor da meta ao longo do horizonte relevante, embora riscos sigam elevados.
Na semana passada, a autoridade monetária revisou suas projeções para a inflação, informando que as estimativas estão em 5,8% para 2022 (contra 5,8% na reunião anterior), 4,8% em 2023 (contra 4,6% antes) e 2,9% em 2024 (ante 2,8%).
As metas para o IPCA estão definidas em 3,50% para este ano, 3,25% em 2023 e 3,00% em 2024, com margem de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos nos três casos.
No cenário externo, o BC disse que houve um ajuste na extensão e na velocidade do ciclo de aperto de política monetária em alguns países avançados, o que provocou um novo aperto de condições financeiras.
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