Dólar perde fôlego após superar R$5,35 com melhora externa e tensão local dividindo foco
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar mostrava instabilidade nesta terça-feira, perdendo fôlego depois de mais cedo flertar com os 5,36 reais, à medida que a melhora no humor dos mercados internacionais compensava, ainda que possivelmente de forma temporária, o noticiário eleitoral doméstico tenso.
Às 11:18 (de Brasília), o dólar à vista avançava 0,06%, a 5,3045 reais na venda, em sessão marcada por volatilidade.
Mais cedo a moeda norte-americana chegou a saltar 1,08%, a 5,3587 reais, mas perdeu fôlego na esteira de enfraquecimento de um índice que compara o dólar a uma cesta de seis rivais fortes. Por volta de 11h10, esse índice caía 0,80%, abrindo espaço para a recuperação de várias divisas emergentes ou sensíveis às commodities, enquanto os principais índices acionários de Wall Street e da Europa aceleravam seus ganhos para até mais de 1%. [.NPT] [.EUPT]
O humor externo era amparado por esperanças de que o Federal Reserve possa estar tendo sucesso em sua tentativa de esfriar a economia e conter a inflação, o que justificaria eventual desaceleração de seu ritmo de aperto monetário. Quanto mais agressivo é o banco central dos Estados Unidos na alta dos juros, mais o dólar tende a se beneficiar globalmente, e vice-versa.
Na B3, às 11:18 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,05%, a 5,3095 reais.
Apesar do arrefecimento do dólar em relação aos maiores patamares do dia, investidores alertavam para possibilidade de instabilidade e reviravoltas no mercado de câmbio, conforme continuavam monitorando a cena política doméstica.
A prisão turbulenta de Roberto Jefferson, ex-deputado e apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), desencadeou forte onda de aversão a risco nos mercados brasileiros na segunda-feira. A moeda norte-americana à vista fechou a última sessão em alta de 2,94%, a 5,3012 reais, maior valorização diária desde 22 de abril (+4,07%) e patamar de encerramento mais alto desde segunda-feira da semana passada (5,3014 reais).
Agravando um cenário eleitoral já tenso, a campanha à reeleição de Bolsonaro afirmou na segunda-feira que rádios do país não têm veiculado adequadamente as inserções eleitorais do atual presidente, supostamente favorecendo o adversário no segundo turno da corrida pelo Palácio do Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em resposta à denúncia, o presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, cobrou a apresentação de provas, alertando que uma falsa acusação poderá ser encarada como crime eleitoral.
"A situação me parece grave e uma escalada razoável na situação eleitoral", avaliou em nota Dan Kawa, CIO da TAG Investimentos. "Caso a campanha de Bolsonaro não apresente provas, a medida será vista como tentativa de fraude eleitoral e tentativa de 'bagunçar' e criar ruídos às vésperas da eleição."
Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital, também citou incômodo dos mercados com novas críticas de Lula às atuais regras fiscais do país. O petista voltou a se manifestar contra o teto de gastos e também disse que não anunciará sua equipe econômica antes de ganhar o segundo turno da eleição presidencial.
"Cenário eleitoral está pesando aqui hoje", disse Bergallo. "Acredito que o mercado deve operar sem direção única até o final da semana. Principalmente pela agenda, e por conta do cenário externo, mas com a volatilidade acentuada em alguma medida por conta desta derradeira semana antes das eleições."
Ainda no Brasil, investidores aguardavam a conclusão da reunião de política monetária do Banco Central, com expectativa de que a autarquia mantenha a taxa Selic em 13,75% ao ano na quarta-feira. Dados desta terça mostraram que o IPCA-15 teve em outubro alta de 0,16%, acima do esperado, depois de apresentar deflação por dois meses seguidos.
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