Soja: Fatores apontam para uma China mais compradora nos próximos meses, mas impacto para preços é incerto
"Alguns indicadores mostram que a demanda da China pode crescer no curto prazo. A soja americana é a mais barata posto China para a janela de setembro aaté dezembro", afirma o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities. Um levantamento da consultoria aponta que a nação asiática já teria comprado cerca de 20 barcos da oleaginosa na semana passada e, nesta, de 11 a 13.
Os chineses têm pulverizado suas compras entre as principais origens, buscando garantir melhores preços e oportunidades de negócios. Em seu reporte semanal de vendas para exportação divulgado nesta quinta-feira (18), o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) informou boas vendas de soja para a nação asiática, com volume que poderia chegar a 16 navios.
Além do grão norte-americano, os chineses teriam comprado ainda 8 navios de soja do Brasil e dois engtre Argentina e Uruguai.
"O que tem ajudado os EUA é a queda dos prêmios, a queda dos fretes e a redução do spread do frete entre o Golfo e Santos. O spread normalmente gira em torno de 9 a 10 dólares por tonelada, e tem estado agora em 6 dólares", diz.
Mais do que isso, o analista fala ainda que o mercado trabalha com informações de negócios com a oleaginosa para embarque em dezembro com prêmios de até US$ 3,03 de prêmio por bushel sobre o contrato janeiro na Bolsa de Chicago - cotado nesta quinta-feira (18) a US$ 14,11 por bushel - a partir do Golfo. Este prêmio apresenta uma queda de 40 cents desde o começo de agosto.
"A soja importada está ficando mais barata, melhorando a margem para as indústrias chinesas. A combinação é boa com a queda do custo da matéria-prima, aumento da produção de rações, baixa cobertura das fábricas e queda dos estoques internos de farelo e alta dos basis internos", completa Vanin.
Também analista de mercado da Agrinvest Commodities, Marcos Araújo explica que as margens que vinham negativas para as processadoras de soja na casa de US$ 80,00 por tonelada negativas passaram a US$ 40,00, mas ainda no vermelho. O prejuízo diminui diante, justamente, diante da recente baixa dos preços da soja na Bolsa de Chicago, movimento que vem, inlusive, incentivando uma melhora importante da demanda que, segundo o especialista, "ainda está doente".
"A China precisa comprar de 23 a 24 milhões de toneladas de soja até janeiro. Os estoques de farelo estão baixos na China. A boa notícia para dar alguma sustentação para a alta do preço em Chicago vem, principalmente, suinocultura, que é o grande segmento consumidor da soja no país", diz. "Portanto, essa margem positiva do suinocultor em torno de US$ 100,00 por animal gordo abatido, que é muito boa, embora longe de repor o prejuízo, dám suporte ao complexo soja".
Assim, os próximos meses deverão ser de uma "queda de braço interessante" para ser observada pelo mercado e absorvida pelos preços, ainda na análise de Araújo. Na semana, os futuros do suíno vivo negociados na Bolsa de Dalian acumularam uma alta de 5,43%, enquanto o contrato novembro da soja na Bolsa de Chicago perdeu, da última sexta-feira (12) até esta (19), 3,30%, passando de US$ 14,54 para US$ 14,06, e janeiro recuou 3,29%, de US$ 14,60 para US$ 14,12 por bushel.
A Agrinvest relatou ainda que foi registrado também um crescimento na produção de rações na China em julho - sendo o primeiro incremento mensal de 2022 - além de um aumento das vendas de farelo de soja, queda nos estoques e cobertura baixa das indústrias.
A SECA PODE IMPACTAR A DEMANDA?
Nesta semana, as notícias sobre uma severa seca na China ganharam as manchetes e começaram a intensificar os questionamentos sobre a possibilidade do atual quadro climático impactar na demanda do país asiático não só por soja, mas por grãos e cereais de uma forma geral. Afinal, a agressiva estiagem já alcança importantes áreas de produção, em especial de milho e arroz.
"A questão da seca é importante. Até o presente momento o impacto tem sido maior para os preços do arroz, mas soja ainda não. Não podemos ainda falar de impactos para a produção de soja. Mas este é um fator que tem potencial para trazer surpresas mais a frente se tivermos um problema produtivo grande, com um mudanças que podem ser agressivas para a demanda", explica o analista de mercado Luiz Fernando Gutierrez, da Safras & Mercado.
Nesta sexta-feira, Pequim emitiu um primeiro alerta nacional sobre a seca - o alerta amarelo - e diversas frentes do governo têm trabalhado para se prevenir das perdas de produção que serão sentidas na temporada que está em desenvolvimento. A China estima colher 650 milhões de toneladas de grãos.
Leia mais:
+ China emite primeiro alerta nacional de seca e luta para salvar colheitas em calor extremo
"Agosto e setembro são períodos críticos para a formação da produção de grãos no outono, portanto, deve-se prestar muita atenção ao impacto de desastres naturais e pragas na produção de grãos", disse Fu Linghui, porta-voz do Departamento Nacional de Estatísticas.
De acordo com dados levantados pelo Ministério de Recursos Hídricos da China, são, aproximadamente, 645 mil hectares com plantações que sofrem com a onda de calor severa e a falta de água. Neste quadro, como noticia o South China Morning Post - um portal de mídia local - o governo já destinou mais de US$ 44 milhões para fundos de auxílio à produçao agrícola da nação.
Tais fundos serão aplicados em sementes, fertilizantes, pesticidas, e outros insumos para áreas que foram mais duramente afetados pela seca, bem como nos reparos e manutenção de instalações agrícolas que tenham sido prejudicadas. Mais do que isso, o Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais já enviou técnicos e representantes da pasta a diversas regiões para que possam orientar os produtores quanto ao manejo de suas culturas e já se preparem para possíveis novas intempéries.
"Com cerca de 50 dias antes da colheita do outono, esforços devem ser feitos para evitar desastres naturais", disse Tang Renjian, Ministro da Agricultura da China.
Em julho, durante o o Fórum Econômico Mundial, Renjian já havia se posicionado sobre a necessidade que o país tem de focar em sua segurança alimentar, bem como em preços 'adequados' dos alimentos e o impacto que isso tem na administração da segunda maior economia do globo.
"Com uma colheita abundante, os preços dos grãos ficarão estáveis na China. O preço dos alimentos é um elemento-chave no [índice de preços ao consumidor] da China, pois ainda somos um país em desenvolvimento. Vamos confiar principalmente em nós mesmos para atender à demanda de grãos de 1,4 bilhão de chineses", disse.
0 comentário
Soja volta a perder os US$ 10 em Chicago com foco no potencial de safra da América do Sul
USDA informa nova venda de soja - para China e demaisa destinos - e farelo nesta 5ª feira
Bunge alcança monitoramento de 100% da cadeia indireta de soja em áreas prioritárias no Brasil
Soja volta a subir na Bolsa de Chicago nesta 5ª feira, se ajustando após queda da sessão anterior
Complexo Soja: Óleo despenca mais de 3% na Bolsa de Chicago nesta 4ª e pesa sobre preços do grão
Óleo intensifica perdas em Chicago, cai quase 3% e soja vai na esteira da baixa nesta 4ª feira