Brasil será determinante para China completar suas compras de soja nos próximos meses, avalia Pátria Agronegócios
A demanda chinesa por soja - e commodities de uma forma geral - passa por uma clara transformação e o mercado agora busca entender se trata-se de um movimento definitivo ou não. Os números de 2022 tem se mostrado mais contidos em relação a anos anteriores, todavia, a nação asiática vem buscando soja para os meses mais distantes, referentes à oleaginosa da safra 2022/23 dos Estados Unidos, como já aconteceu algumas vezes nesta semana.
Nesta quarta-feira (10), o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) informou uma nova venda de 196 mil toneladas de soja da safra nova para os chineses, e na última segunda (8), 132 mil. Em ambos os casos, os volumes são da nova temporada. Ainda assim, o Brasil continua no jogo e será determinante para que a China complete suas compras de soja nos próximos meses, na avaliação da Pátria Agronegócios.
Boa parte deste processo se deu com a chegada da pandemia de Covid-19, que testou novos surtos em 2022 - começando em meados de março -, exigindo duras medidas e longos lockdowns nos últimos meses, resultando em uma redução no ritmo das compras e nos estoques portuários de soja no país asiático.
"Hoje os estoques portuários na China são os mais baixos desde o decreto dos lockdowns. E com o processo de flexibilização destes lockdowns, a demanda interna por soja está se acelerando e a campanha da China foi de baixo desempenho de compras desde março. Ou seja, a demanda está crescendo e os estoques hoje são baixos", explica o diretor da Pátria Agronegócios, Matheus Pereira.
O reaquecimento do ritmo de compras chinesas deixa mais evidente também a necessidade que de cobertura a que o país ainda tem pelos próximos meses, ainda segundo o analista de mercado. Dados levantados pela Pátria mostram que para setembro a China tem apenas 38% do volume necessário já adquirido. "Temos outros cinco milhões de toneladas de soja a serem compradas para atenderem a necessidade do próximo mês", afirma Pereira. "É uma necessidade grande, a boca bem aberta, o estômago vazio, eles estão famintos por soja com essas retomadas das atividades populacionais pós lockdowns".
Para outubro, a China está apenas 46% coberta, enquanto para novembro, porém, já alcança 64% de sua demanda, tendo adquirido boa parte desse montante de soja da nova safra norte-americana. "Em novembro os americanos já terão soja disponível, nada diferente do comum, movimento que se repete todo ano", complementa o executivo.
Para dezembro e janeiro as coberturas também são baixas, mostrando-se em 35% e 15%, respectivamente. E o mercado monitora agora de onde a China trará esse volumes de soja, olhando para disponiblidade e, claro, preços competitivos.
"Ainda temos de 23 a 25 milhões de toneladas de soja 2021/22 para serem vendidas e a soja brasileira ainda é a mais barata do planeta em relação aos nossos concorrentes contabilizando os fretes. Embora a Argentina tenha uma soja mais barta, quando somado o frete, a nossa ainda é mais barata, onde há uma grave crise econômica, o que leva os produtores a usarem a soja como um seguro, uma proteção contra a super inflação, evitando grandes volumes de venda agora, encarecendo a soja base porto", relata Matheus Pereira.
MUDANÇAS NO CENÁRIO DA SUINOCULTURA
Ao analisar a demanda chinesa pela soja, o diretor da Pátria destaca ainda os números da suinocultura, indicando que o plantel atual do país só é menor do que o de 2021, sendo o segundo maior da história. Mais do que isso, reforça ainda o crescimento projetado nos abates de quase 9% para 2022 em relação ao ano passado, refletindo uma melhora expressiva das margens do setor, depois de os suinocultores terem amargado meses de prejuízos bastante agressivos. Trata-se de um cenário de lucro na engorda dos leitões nos melhores níveis desde 2019.
"Existe uma demanda crescente por proteína animal na China, o consumo se reestabelecendo, preço de prateleira confortável para o consumidor, mais do que isso, preço de farelo, de ração animal na China, caíram com agressividade diante dessas quedas recentes que tivemos da soja no mercado internacional. Os lockdowns serviram como uma luva para os chineses retrairem as compras quando os preços estavam elevados, voltando agora com mais apetite, com um desconto de quase US$ 100,00 por tonelada hoje para a rota de embarque com destino China", detalha o executivo.
Nesta quarta-feira foram divulgados dados atualizados sobre a inflação na China, os que mostraram que boa parte da puxada veio, inclusive, da carne suína. Enquanto a inflação subiu de 2,5% para 2,7%, a inflação de alimentos saltou 6,3%, equanto a proteína registrou uma alta de 20,2 na variação anual.
"A carne suína em várias localidades quase dobrou desde março. O risco é que o governo chinês acabe com a festa dos produtores de suínos. A China recompôs seus estoques de reserva nos últimos meses e pode liberar a qualquer momento, o que voltaria a jogar os preços para baixo. Aliado a isso, as grandes operações estão aumentando o número de matrizes, o número de abate e o peso médio. A curva dos futuros em Dalian já sinaliza esse cenário", ressalta o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities.
O executivo complementa lembrando que "sazonalmente janeiro é o pico do consumo e maio é ressaca, momento em que o clima começa a esquentar e o consumo de carne suína vai lá embaixo", o que, portanto, também vai exigir acompanhamento do mercado.
Vanin é o convidado do mais recente episódio do Conversa de Cerca Podcast, do Notícias Agrícolas, e primeiro do Especial China. Ouça mais sobre esse momento da China e sua demanda por alimentos:
PAPEL DO BRASIL
Dessa forma, o papel do Brasil é cada vez mais relevante para atender a demanda chinesa por soja, bem como o papel da China para garantir um bom programa de exportação não só no ano comercial 2021/22, como no 2022/23. Entretanto, é sabido que as exportações brasileiras de soja serão menores neste ano em função da quebra histórica registrada no país nesta temporada devido às adversidades climáticas.
O total já embarcado e nomeado de soja pelo Brasil, ainda segundo dados compilados pela Pátria Agronegócios, chega a 54,56 milhões de toneladas, 25% menos do que há um ano e 14,4% menos do que o volume da média dos últimos cinco anos.
"Sob um cenário de redução de oferta, não temos como manter a projeção de demanda, em decorrência da falta do produto disponível. Então, as exportações de soja brasileira sofreram esse grande corte não foi em consequência de uma falta de demanda - a demanda está agressiva - porém, a redução de oferta limitou a capacidade de exportação e de consumo doméstico", explica o analista.
Apesar do volume menor, o complexo soja continua sendo um dos principais itens da pauta exportadora do Brasil, já tendo gerado uma receita de mais de US$ 42,7 bilhões.
"No câmbio atual, isso representa mais de R$ 218,3 bilhões em divisas que chegaram de janeiro até agora e que ajudam a economia brasileira a andar, a sair da pandemia e da crise que o mundo vem passando. O faturamento nas exportações deste mês de agosto, em apenas uma semana, está na casa dos US$ 7,24 bilhões contras as importações do mesmo período de US$ 6,01 bilhões. Ou seja, um saldo positivo de US$ 1,2 Bilhão até agora", explica Vlamir Brandalizze.
Ainda de acordo com o consultor de mercado da Brandalizze Consulting, a importância da oleaginosa é tanta para a economia nacional - além da chinesa - que, "novamente, o saldo total do Brasil está sendo sozinho superado somente pela soja, que faturou US$ 1,4 bilhão. Isso mostra que o agro não para de trazer dinheiro do mercado internacional para irrigar a economia brasileira".
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