Café: Alta nos preços altera perfil de compra no mercado interno, mas consumo segue firme
Com passos mais lentos do que nos anos anteriores, a safra 2022 de café do Brasil começa avançar nas principais áreas de cultivo. Após seca prolongada e geadas, o volume da produção ainda é incerto. Com um mercado que continua apresentando volatilidade intensa, muito tem se falado sobre o consumo interno no Brasil.
Com a quebra do café arábica no ano passado e que será sentida de alguma forma na produção atual, no ano passado os preços da matéria prima, ou seja a saca de café cru, avançaram 130% e consequentemente chegou até o consumidor final. Seis meses após o primeiro reporte da Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC), indicando preocupação com a alta nos preços, os números atualizados mostram que até o mês de maio o consumo de café permaneceu estável no mercado nacional.
De acordo com informações de Celírio Inácio da Silva, diretor executivo da ABIC, no acumulado do ano o consumo de café registrou apenas 0,1% de baixa, o que em volume representa três mil sacas. Ao Notícias Agrícolas, Inácio explicou que atualmente a ABIC faz o acompanhamento através de dois sistemas, o de produção - que não significa necessariamente que aquele volume foi comercializado e também pelo sistema "Horus" - que se tratam das informações repassadas pelos pontos comerciais à ABIC.
"Tecnicamente não tivemos queda de venda, apesar do mercado ter se assustado com a alta nos preços. O café tem um elemento específico que é o consumidor reagindo na primeira compra, na segunda, se necessário, ele procura por outra marca", explica.
Os números da ABIC mostram que apesar da crise que foi campo à xícara, o consumo de café no mercado interno se manteve firme. O Brasil fechou o ano com o consumo 21,5 milhões de sacas, o que representou alta de 1,71%. Neste período, o único alerta emitido oficialmente pela ABIC foi em dezembro de 2021, justamente quando os preços subiram 40% para o consumidor final. Na época, a ABIC registrou queda de aproximadamente 14%.
Nos primeiros primeires meses de 2022, no entanto, Inácio explica que o brasileiro adotou uma nova forma de comprar o produto, mas não deixou de tomar o café. "É esperado que o consumidor busque por outras marcas e vá se adaptando. Claro que nos primeiros meses que sentiu a alta nos pontos de venda, houve essa queda. O Brasil muda o padrão de compra, mas não deixa de consumir", complementa. A ABIC segue trabalhando em ações para fomentar o consumo da bebida e também com foco em garantir a segurança do consumidor final através dos selos de qualidade.
Já em relação ao cenário atual das indústrias de café, Inácio destaca que o setor acompanha o avanço da colheita da safra 22, que inclusive está atrasada em relação aos anos anteriores. Mas, comparando o mês atual com dezembro do ano passado, o porta-voz afirma que o cenário continua sendo de oferta restrita e com negócios sendo fechados a medida que o produtor precisa fazer caixa, mesmo com o avanço do café conilon no mercado interno.
"Falando sobre as indústrias o cenário continua exatamente da mesma forma que estava. Quem comprou, se abasteceu no final do ano passado ainda tem uma janela confortável. O produtor vende aos poucos, o café continua muito disputado", conclui. De acordo com analistas ouvidos pelo Notícias Agrícolas, após recuo nos preços também do conilon nas últimas semanas, a tendência é que o mercado siga "travado" no mercado interno até que se entenda o tamanho da safra brasileira.
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