China compra mais de 1 mi de t de milho dos EUA, buscando garantir ofertas com dificuldades na própria safra
A China voltou ao mercado norte-americano nesta segunda-feira (11) para uma nova compra de milho. De acordo com o reporte do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), foram 1,020 milhão de toneladas do cereal, sendo 680 mil toneladas da safra 2021/22 e 340 mil da 2022/23. E todas as vendas feitas no mesmo dia, para o mesmo destino e com volume igual ou superior a 100 mil toneladas devem sempre ser informadas ao departamento.
Há uma semana, a nação asiática já havia feito outra compra de milho, neste caso de 1,084 milhão de toneladas, com os demandadores olhando as oportunidades que o mercado tem lhe oferecido neste momento. As compras mais agressivas dos últimos dias, como explica Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting, a China tenta se proteger e garantir bons volumes do grão diante dos problemas que vêm sendo registrados em sua nova safra.
Por conta de condições adversas de clima há regiões de produção onde há perdas de semente, outras com dificuldade de plantio e frente a tantos desafios, eles já buscam se proteger. Enquanto a safra anterior de milho da China passou de 270 milhões de toneladas, para esta nova temporada se espera, ainda como explica Brandalizze, algo entre 250 e 260 milhões.
De acordo com a equipe da Agrinvest Commodities, este é o ciclo de compras chinesas mais agressivo desde março de 2020, "quando a China em quatro semanas comprou 11 milhões de toneladas de milho americano". A consultoria explica também que o país possui 14 milhões de toneladas do cereal norta-americano e o recebimento de 7 a 8 milhões de toneladas de milho na Ucrânia.
Além das questões climáticas, os produtores chineses enfrentam os mesmos problemas que os demais produtores mundo a fora, em especial os do hemisfério norte, que estão começando suas novas temporadas agora. E entre os desafios estão os altos custos de produção, a escassez de fertilizantes, de mais insumos, elevadas despesas logísticas e com combustíveis.
Assim, além do milho sofrem ainda soja, trigo e arroz, principalmente nas províncias mais a nordeste chinês.
Enquanto todos estes problemas se acumulam, o produtor rural na China ainda encara um outro desafio: regras rígidas anti-poluição, segundo noticia a Bloomberg, em especial a queima da palha.
"A prática - ainda amplamente utilizada em todo o mundo - é vista pelos agricultores como a maneira mais rápida e barata de limpar a terra de sobras de palha e resíduos da colheita anterior antes da próxima estação de plantio. Mas, também é visto como uma importante fonte de partículas de ar perigosas. E o governo chinês pediu aos agricultores que, em vez disso, usem máquinas para coletar os resíduos e enviá-los para usinas de energia próximas, onde podem ser queimados como combustível", informa a agência internacional de notícias.
Muitos produtores locais têm rejeitado a campanha, afirmando que a prática deixa a terra mais pobre, com a maior probabilidade de sofrer com a incidência de pragas e de perdas de sementes. O governo da província de Heilongjiang pediu aos agricultores que acelerem a limpeza dos campos removendo palha e outros materiais restantes, enquanto reitera que a queima é estritamente proibida.
Na medida em que os desafios vão se apresentando, cresce na China um temor de que a produção desta nova safra não seja suficiente para atender sua demanda, com a possibilidade ainda de um aumento de suas importações. Os primeiros números e estimativas da safra 2022/23 já começam a ser reportados em maio.
DEMANDA POR SOJA
Sobre a demanda por soja, Vlamir Brandalizze volta a afirmar que as compras nesta temporada estão mais cadenciadas, acontecendo, como o mercado diz "da mão para a boca", diante dos preços muito elevados. "A China não quer pagar mais de US$ 18,00 por bushel, já que com esse preço não dá margem de esmagamento. E com os atuais preços de Chicago e mais os prêmios aqui no Brasil fica complicado", explica o consultor.
Ainda de acordo com o especialista, a China está bem abastecida para este primeiro semestre de 2022, com cerca de 35 milhões de toneladas de soja em estoque e bons volumes de produto que deverão chegar do Brasil nos próximos meses.
Além disso, os compradores chineses estão buscando garantir mais volumes para o segundo semestre, como explica Brandalizze, acreditando em preços menores diante de uma safra maior nos Estados Unidos. O país deverá cultivar uma área recorde com a oleaginosa e, caso o clima contribua, pode colher 130 milhões de toneladas de soja.
"Caso uma super safra se confirme nos EUA o mercado acredita que o mercado se acomode entre US$ 14,50 e US$ 15,50 por bushel, o que já é mais vantajoso para os compradores", diz.
De acordo com um levantamento da Agrinvest Commodities, a China comprou de 12 a 15 navios de soja na semana passada, sendo pelo menos três deles com produto para embarque no início de 2023 pelo Golfo.
"A estatal chinesa Sinograin gestora das reservas sabe que dessa vez não vai ter o Brasil competindo com os EUA no final do ano. Essa soja para janeiro está bem mais barata em relação ao spot, apresenta um desconto de mais de US$70 por tonelada posto China. Isso se deve à inversão da curva da soja na CBOT e também do petróleo, barateando o frete futuro", explica Eduardo Vanin, analista de mercado da Agrinvest.
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