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Plantio de feijão após soja intensifica bacteriose em lavouras

Publicado em 20/10/2021 10:06
Pesquisadora da Embrapa fala sobre o risco da Murcha de Curtobacterium presene em várias regiões produtoras

A rotação de culturas é uma das práticas recomendadas para viabilizar o manejo em áreas já contaminadas com agentes causais de doenças. Contudo, essa rotação realizada em cultivos de leguminosas em sucessão, como no caso de feijão logo após soja, está favorecendo a intensificação da Murcha de Curtobacterium. Este é um patógeno conhecido como Curtobacterium flaccumfaciens pv. Flaccumfaciens (Cff), que acomete a soja e que frequentemente ocasiona também perdas nas lavouras de feijão. 

A pesquisadora da Embrapa da área de fitopatologia, Adriane Wendland, chama a atenção para esse fato que vem ocorrendo no campo. “A Murcha de Curtobacterium tem se tornado uma ameaça ao cultivo do feijão. A primeira constatação da doença no Brasil foi em 1995 e, hoje, o patógeno encontra-se distribuído em várias regiões produtoras, devido à baixa disponibilidade de cultivares resistentes e ainda à inexistência de produtos registrados que possam ser aplicados para o controle da doença. A recomendação é que, em áreas com histórico dessa bacteriose, deve-se evitar o plantio dessas duas culturas em sucessão, pois favorece o aumento expressivo da Murcha de Curtobacterium e a maioria dos produtores ainda não sabe que o cultivo de feijão sobre soja é que tem agravado essa situação”.

Ela explica que a bacteriose, quando ataca o feijão, promove o bloqueio pela colonização dos vasos do xilema, que são as estruturas que transportam a seiva. O caule torna-se escurecido e, por consequência, há o amarelecimento e flacidez da área foliar, com o posterior subdesenvolvimento e morte de plantas. Os sintomas de escurecimento vascular se assemelham aos danos gerados por outra doença, a Murcha de Fusarium, o que dificulta o seu diagnóstico. “A semelhança entre os sintomas da Murcha de Curtobacterium e a Murcha de Fusarium, provavelmente, é um dos motivos que atrasa a constatação da doença”, considerou Adriane.

A pesquisadora da Embrapa observa também que estudos mais recentes evidenciam que não só as estruturas vasculares do xilema são infectadas pela Murcha de Curtobacterium, mas também existem lesões foliares. Ela cita que, em uma recente pesquisa realizada em conjunto com o programa de pós-graduação da Universidade Federal Goiás (UFG) e financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), foi constatado esse tipo de dano, assim como na soja. Tanto bactérias isoladas de plantas de soja quanto de plantas de feijão causam sintomas foliares e vasculares em ambas as culturas.

O trabalho de investigação científica que evidenciou também lesões foliares causadas por Murcha de Curtobacterium chama-se: “Avaliação de sintomas foliares de Murcha de Curtobacterium em feijoeiro inoculado com isolados oriundos de soja”, e foi realizado pela mestranda Suellen Rodrigues Ferreira, com orientação de Adriane Wendland.

Combate à doença 

O principal meio de transmissão de Murcha de Curtobacterium é via semente contaminada, o que impõe grandes dificuldades para a contenção da bactéria, sendo a erradicação das plantas a única forma de controle pós-infecção.

De acordo com Adriane, alguns microrganismos estão sendo testados com grande potencial para uso no biocontrole da Murcha de Curtobacterium, mas ainda na fase inicial de pesquisa e, em breve, deve-se ter um bioinsumo registrado para essa finalidade. Portanto, até o momento, o uso de sementes de qualidade, livres da bactéria, e de variedades resistentes são uma opção prática para o produtor rural.

"Dispositivos portáteis para detecção rápida da bactéria no campo também estão em fase avançada de desenvolvimento, que facilitam o diagnóstico imediato e a tomada de decisão quanto ao manejo mais adequado no controle da doença em feijão ou soja", complementou a pesquisadora. 

Segundo ela, a Embrapa possui a cultivar de feijão carioca BRS FC409 com intermediário nível de resistência à Murcha de Curtobacterium. Apesar disso, devido à existência de muitas cepas da bactéria, Adriane observa que essa ampla diversidade genética do patógeno dificulta a estabilidade e a durabilidade da resistência das variedades de feijão e mesmo sementes de cultivares resistentes podem conter a bactéria e contaminar uma área livre da doença. No caso, as melhores medidas de controle são o manejo conjunto adotando a utilização de sementes sadias, a rotação de culturas com gramíneas (e não a sucessão das duas leguminosas) e o uso de cultivares resistentes.

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Fonte:
Embrapa Arroz e Feijão

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