Lira diz que explicações de Luna sobre combustíveis foram insatisfatórias
SÃO PAULO (Reuters) -O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse nesta quinta-feira que as explicações sobre os preços dos combustíveis no plenário da Casa nesta semana pelo presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, não foram satisfatórias, e defendeu que a estatal dê mais informações sobre o tema.
Em transmissão ao vivo realizada pela Necton Investimentos, Lira disse que não defende um tabelamento de preços, mas sim que a Petrobras divida com a população brasileira um pouco da riqueza que obtém.
"Precisamos saber onde está o problema dos preços dos combustíveis", disse Lira, acrescentando que "há quem diga" que a Petrobras repasse muito rapidamente a alta nos preços do petróleo no mercado internacional aos valores dos combustíveis que cobra no Brasil. Uma fala neste sentido foi feita recentemente pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Em audiência na Câmara na terça-feira, o presidente da Petrobras afirmou que, em momento de alta nos preços dos combustíveis e de crise energética, o Brasil pode contar com a estatal, e afirmou que o país ganha quando a empresa paga dividendos e tributos.
Em agosto, a Petrobras informou que seu Conselho de Administração aprovou o pagamentos de dividendos a acionistas, cuja parcela destinada à União somará ao todo 15,4 bilhões de reais em 2021.
Desde que a administração Luna assumiu a companhia em 19 de abril, após o presidente Jair Bolsonaro indicá-lo para o lugar de Roberto Castello Branco, a gasolina na refinaria da estatal acumula uma alta de 5,5%, enquanto o diesel de 1,8%, conforme dados da empresa compilados pela Reuters.
Essa variação foi obtida com quatro reajustes da gasolina, sendo duas reduções e dois aumentos mais recentemente, na esteira dos ganhos do mercado de petróleo, enquanto no diesel, foram apenas dois reajustes desde que Luna assumiu a companhia, sendo uma baixa de quase 2% e uma alta de pouco mais de 3,5% no início de julho.
A situação difere do ritmo de reajuste da administração anterior, que gerou descontentamento de Bolsonaro ao elevar em seis oportunidades o preço do diesel ao longo do ano até meados de abril, enquanto o valor da gasolina subiu sete vezes.
No acumulado do ano, a gasolina da Petrobras subiu cerca de 51% enquanto o diesel avançou cerca de 40%. Já o petróleo Brent acumula alta de cerca de 44,17%.
A administração Luna adotou uma posição de evitar repassar volatilidades dos mercados de petróleo para os seus preços, aguardando uma consolidação de tendência antes de anunciar reajustes, o que explica o menor número de movimentos.
O preço dos combustíveis da Petrobras também leva em conta o câmbio, fator importante na paridade de importação, enquanto os valores na bomba dependem ainda de tributos e margens de revendedores e distribuidores.
Na transmissão desta quinta, Lira afirmou que, como ainda permaneceram dúvidas após a presença de Luna em uma comissão geral do plenário da Câmara nesta semana, é possível que deputados se movimentem pedindo mais informações à Petrobras e a órgãos de controle.
"Mas é importante que Petrobras se antecipe", defendeu. "Não é possível que permaneçamos neste estado de letargia e de inércia em relação às coisas que estão acontecendo", afirmou.
As ações preferenciais da Petrobras operavam em baixa de cerca de 2% perto do meio-dia, enquanto o Ibovespa caía quase 1%.
GÁS
O presidente da Câmara também questionou o preço do gás natural cobrado pela Petrobras e, ao mesmo tempo que reconheceu que a petroleira é uma empresa de economia mista, e por isso tem de pagar dividendos aos acionistas, afirmou que a União é a maior detentora de ações da empresa. Assim, a Petrobras precisa, na visão de Lira, levar em conta "as questões estratégicas do Brasil".
"Não está claro qual a política da Petrobras neste momento de crise energética", afirmou Lira, insistindo ser contra o tabelamento ou o controle de preços.
Procurada para comentar as declarações de Lira, a Petrobras não se manifestou de imediato.
(Reportagem de Eduardo SimõesReportagem adicional de Marta Nogueira, no Rio de JaneiroEdição de Alexandre Caverni e Roberto Samora)
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