Hortifruti: Queda na renda do consumidor final e restrições da Covid-19 mantêm cotações pressionadas
A demanda de hortifruti do Brasil segue pressionada pelas restrições impostas para o combate da pandemia da Covid-19. Segundo atualização do Cepea, com as medidas mais restritivas, os problemas continuam para os produtos que seriam destinados para escolas, cozinhas industriais e restaurantes, além de uma demanda mais fraca também foi observada um enfraquecimento no varejo.
"Sobretudo para aquelas frutas mais perecíveis. No varejo a gente tem observado o fechamento, atendimento via delivery". Atualizando os dados, Marcela Guastalli Barbieri, editora Econômica de Frutas do Cepea, destaca que a grande diferença entre as últimas semanas é justamente o recrudescimento das restrições de circulação, mas principalmente a diminuição do orçamento do consumidor final, fatores que acabam impactando principalmente em frutas de maior valor agregado como melão e uva.
Além da circulação limitada de pessoas, a pesquisadora do Cepea destaca o período de fim de mês, com orçamento do consumidor final mais apertado. "Já era um período que a gente esperava uma venda não tão boa. Então temos esses dois fatores, a questão do orçamento do consumidor e também essas medidas de restrição que têm diminuído a circulação de pessoas que acabam afetando principalmente mais os produtos períciveís, como alface e mamão", comenta.
Até o final deste março, a tendência é que o mercado se matenha com a demanda enfraquecida, pressionando as cotações. "Isso vai depender também de cultura para cultura. Por exemplo, no caso da maçã, a gente está em período de colheita, então há uma boa oferta. Melão estava com uma demanda mais controlada, final de safra, mas mesmo assim as cotações ficam pressionadas", comenta.
Restrições e baixo poder aquisitivo pressionam as cotações pelo Brasil
Confira as últimas análises divulgadas pelo Cepea:
Mamão:
Segundo agentes consultados pelo Hortifruti/Cepea, o volume disponível de mamão formosa está limitado nas principais regiões produtoras, sendo sua oferta ainda mais baixa do que a do havaí. Mesmo assim, os preços da variedade caíram nesta semana (22 a 26/03), já que as vendas não têm sido favoráveis diante da economia enfraquecida e dos entraves da covid-19, que estão afetando sobretudo o comércio de perecíveis não essenciais.
No Norte do Espírito Santo, o formosa foi cotado a R$ 1,89/kg, recuo de 18% em relação à semana passada. No Sul da Bahia, a queda foi parecida, de 21% na mesma comparação, registrando média de R$ 1,84/kg. Destaca-se que os preços do formosa foram recuando no passar dos dias e podem seguir essa tendência até a próxima semana devido ao fim de mês e à permanência das restrições – em SP, por exemplo, a fase emergencial foi prolongada para até o dia 11/04.
Manga:
Os preços da manga tommy registraram expressiva queda na região do Vale do São Francisco (PE/BA) nesta semana (22 a 26/03): os valores médios foram de R$ 1,70/kg, recuo de 45% em relação à semana passada. Este cenário está associado às medidas restritivas adotadas para conter o avanço da pandemia do coronavírus – como a circulação de pessoas está limitada, a procura pela fruta diminuiu.
Além disso, segundo colaboradores do Hortifruti/Cepea, em decorrência do lockdown em alguns estados, parte dos envios foi cancelado. A presença de mangas verdes no mercado também prejudicou as negociações. Por fim, os volumes do Vale do São Francisco se elevaram um pouco, visto que alguns produtores já começaram a colher a nova safra.
Maçã:
Com receio de não conseguir escoar o produto, diversos atacadistas reduziram a entrada de maçã na Ceagesp nesta semana (22 a 26/03). De acordo com colaboradores do Hortifruti/Cepea, o ocorrido se deve às restrições de funcionamento de alguns setores, diante das medidas mais severas que estão sendo adotadas na maioria das cidades do estado.
Este cenário acarretou, inclusive, na suspensão da atividade presencial de supermercados, sobretudo aos finais de semana, o que levou a muitos varejistas a reduzir os seus pedidos a fim de não haver estoque de mercadorias - especialmente das mais perecíveis, mas a maçã não “escapou” desta situação.
Além disso, é importante lembrar que agora é fim de mês e a demanda na ponta final se encontra desaquecida. Isso tudo pesou sobre as vendas da Ceagesp e, consequentemente, nos preços obtidos, que voltaram a cair. A fuji 110 Cat 1 foi vendida a R$ 73,75/cx de 18 kg no entreposto, recuo de 5% frente à passada.
Citrus:
No mercado doméstico, a preocupação de produtores se volta às restrições devido à pandemia de coronavírus, cenário que vem impactando na comercialização de cítricos. Embora a demanda ainda seja considerada positiva por parte dos colaboradores consultados pelo Hortifruti/Cepea (principalmente devido à necessidade de abastecimento da população), outros agentes já relatam maior lentidão no mercado.
No mercado de laranja, uma possível retração da demanda pode não impactar significativamente os preços neste mês e no início de abril, tendo em vista que a colheita das precoces de 2020/21 deve se intensificar somente na segunda quinzena do próximo mês. Nesta semana (22 a 26/03), a média da pera foi de R$ 39,42/cx de 40,8 kg, na árvore, leve desvalorização de 2,4% frente a semana passada. Já a variedade precoce hamlin apresenta média de R$ 30,03/cx de 40,8 kg, na árvore, alta de 1,2% no mesmo comparativo.
No entanto, para a tahiti, cuja oferta ainda segue mais elevada em São Paulo, as menores demandas interna e externa podem pressionar as cotações nas próximas semanas. A retração dos preços permaneceu, atingindo média de R$ 15,37/cx de 27 kg, colhida, valor 7,2% inferior ao da semana passada.
Cebola:
Esta semana (22 a 26/03) foi caracterizada por uma leve melhora nas vendas de cebola em Santa Catarina, porém, não foram suficientes para elevar os preços em meio às medidas de restrição ao covid-19. As cotações marcaram R$ 1,69/kg ao produtor em Ituporanga (SC) e R$ 1,67/kg em Lebon Régis (SC), a quarta redução consecutiva de 4,9% e de 17,3%, respectivamente. Uma parcela dos colaboradores de SC relatou que a demanda do Nordeste diminuiu, uma vez que a região iniciou a colheita.
Além disso, devido ao período de finalização da safra no Sul somado à lentidão no escoamento nas últimas semanas, alguns bulbos tiveram a qualidade prejudicada por estarem a longo tempo armazenados, o que também contribuiu para a queda das cotações. O cenário incerto acarretado pela pandemia, o aumento da oferta no Nordeste e a menor qualidade de parte dos bulbos impediram uma elevação nos preços, mesmo diante da oferta controlada. Por outro lado, como a cebola é um produto essencial, a demanda pela mercadoria tende a se estabilizar.
Cenoura:
Em São Gotardo (MG), as cotações das cenouras seguiram em ritmo de queda nesta semana (22 a 26/03). Segundo colaboradores consultados, as raízes foram comercializadas a R$ 6,00/cx de 29 kg de “suja”, redução significativa de 35% frente ao último levantamento realizado.
Além do maior volume disponível no mercado, as vendas mais fracas diante do fechamento de estabelecimentos por conta da pandemia do coronavírus têm dificultado ainda mais o escoamento das raízes. Além da oferta expressiva na região de Cristalina (GO), a produtividade também tem apresentado uma melhora em relação aos meses anteriores. Diante disso, os preços devem continuar em baixa, uma vez que não é esperado melhora nas vendas nas próximas semanas e volume não deve ter alterações.
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