Incerteza geral empurra dólar acima de R$5,75; mercado debate modus operandi do BC
O dólar acelerou a alta na tarde desta sexta-feira, superando 5,75 reais, com a moeda brasileira na lanterna global, em meio a um forte movimento de compras defensivas diante de intensos ruídos sobre o modus operandi do Banco Central no câmbio e falta de perspectivas de fluxo e de melhora econômica de curto prazo.
"O que ninguém entende é o racional do BC para atuar no câmbio. Vendeu a 5,58 reais e agora não faz nada com a moeda tendo pior performance relativa?", comentou Sérgio Goldenstein, consultor independente da Ohmresearch Independent Insights.
Na quinta-feira, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse ser equivocada a visão de que intervenções no câmbio feitas pela autoridade monetária em dias em que o real está apreciando estariam ligadas ao cenário inflacionário.
"Gostaria de deixar bem claro que nós entendemos que o efeito que o câmbio traz para nós é o efeito inflacionário através dos canais, a gente tem olhado isso há bastante tempo", disse Campos Neto em entrevista à imprensa, em evento no qual sinalizou que os juros poderiam subir menos do que o projetado pelo mercado --o que seria um revés para o câmbio.
Em meio às dúvidas sobre a estratégia do BC, o mercado lida com a deterioração das expectativas econômicas no Brasil na esteira do recrudescimento da crise sanitária, que já afeta projeções para PIB, inflação e juros.
Investidores comentam ainda sobre uma constante tensão diante de recorrentes pressões de governadores por mais gastos em combate à pandemia e eventual volta do estado de calamidade pública --que livraria o governo de cumprir metas fiscais.
No meio disso há aumento do ruído político, com o Congresso mostrando mais contrariedade à gestão da pandemia pelo Executivo. Relatórios de instituições financeiras voltaram a lembrar nos últimos dias que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é o único que pode aceitar abertura de processo de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro.
Às 15h29, o dólar à vista subia 1,45%, a 5,7514 reais, um salto de 4,9% no acumulado da semana --alta mais forte desde junho de 2020.
O real tem o pior desempenho global, e a performance relativa mais fraca fica evidente contra o peso mexicano --considerado um termômetro do sentido mais geral com os mercados emergentes.
O real caía 2,2% ante o peso, para mínimas em 17 anos.
"O Brasil, com dívida próxima a 93% do PIB, tem juros reais negativo de 2,5%. Já o México, com o fiscal bem melhor, não tem esses juros negativos. Isso demonstra o quanto estamos errados", disse Alfredo Menezes, sócio-gestor na Armor Capital.
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