Dólar tem maior queda semanal em 3 meses com BC e fiscal; atenção se volta para Copom e Fed
O dólar teve leve alta ante o real nesta sexta-feira, num dia de força da moeda norte-americana no exterior e ao fim de uma semana de fortes oscilações no câmbio, marcada por noticiário fiscal, político e ativa presença do Banco Central no mercado.
Após intenso vaivém, o dólar acumulou na semana a maior queda em mais de três meses.
A cotação no mercado à vista subiu 0,33% nesta sexta, para 5,5594 reais na venda, após oscilar entre 5,5872 reais (+0,83%) e 5,5455 reais (+0,08%).
Diferentemente de vários dias neste ano, o real teve desempenho superior a seus pares, numa sessão em que o dólar se fortalecia globalmente em meio a uma nova rodada de alta nos rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americano --movimento que eleva a atratividade da moeda dos EUA.
O índice do dólar frente a uma cesta de rivais ganhava 0,24% no fim da tarde, enquanto o dólar saltava 1,5% ante o peso chileno, 1,3% contra a lira turca e 0,6% frente ao peso mexicano.
Na semana, porém, o índice do dólar caía 0,3%. No Brasil, a moeda acumulou baixa de 2,19%, a maior desde a semana finda em 4 de dezembro passado (-3,77%).
Apesar de cercada de ruídos, a aprovação da PEC Emergencial pelas duas Casas legislativas foi determinante para o alívio na taxa de câmbio, bem como a mão mais pesada do BC.
Pelos cálculos do Citi, o Bacen ofertou nesta semana 3,2 bilhões de dólares em contratos de swap cambial tradicional --750 milhões de dólares apenas nesta sexta. O swap cambial tradicional é um derivativo cuja venda equivale a uma injeção de liquidez no mercado futuro, ajudando a amenizar pressões de alta sobre o dólar.
O BC também fez venda de dólar à vista nesta semana, diversificando os instrumentos de atuação num período em que a moeda chegou a quase 5,90 reais, nas máximas em dez meses.
Para estrategistas do Citi, o maior ativismo do BC pode ter como razões desejo de um dólar mais baixo antes da decisão do Copom, receios sobre o repasse da desvalorização cambial aos preços e tentativas de diminuir o incentivo para locais usarem o dólar como "hedge" para operações em outros mercados.
"Acreditamos que pode ser uma combinação dos diferentes motivos, mas certamente somos simpáticos à visão de que eles estão preocupados com a inflação. Independentemente disso, até que se prove o contrário, acreditamos que o BCB continuará a ser mais proativo em suas intervenções", disseram profissionais do Citi em nota.
O dólar acumula baixa de 0,77% em março, mas ainda sobe 7,09% em 2021. O real tem o segundo pior desempenho global neste ano --melhor apenas que o peso argentino--, mesmo depois de já ter caído mais de 20% em 2020.
Na próxima semana, o mercado vai voltar as atenções para as reuniões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos.
No caso do Copom, do Banco Central, a expectativa do BTG Pactual é de um BC mais duro visando, entre outros objetivos, aliviar a pressão sobre o real.
"Esperamos que o ciclo de normalização da taxa Selic seja antecipado para março e o tom do comunicado do Copom mude consideravelmente, indicando que o comitê atuará incisivamente para manter a inflação ancorada no horizonte relevante de política monetária", disseram Álvaro Frasson, Leonardo Paiva e Luiza Paparounis.
A taxa nominal de juros está em 2,00% ao ano, mínima recorde, enquanto a taxa real está negativa. Essas condições favorecem a tomada de empréstimos em real para investimentos em outras moedas de risco ou proteção de carteiras em outros ativos via câmbio.
Ambas as estratégias têm efeito de compra de dólares, dinâmica que, segundo analistas, o BC tentou quebrar com a maior intervenção recente e pode querer minar em caso de um comunicado de política monetária mais duro.
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