Dólar avança contra real após decisão tributária de Bolsonaro; BC faz leilão à vista
O dólar era negociado em forte alta contra o real nesta terça-feira, aproximando-se da marca de 5,70 reais mesmo depois de um leilão de moeda à vista realizado pelo Banco Central, com os investidores reagindo à decisão do presidente Jair Bolsonaro de zerar alíquotas incidentes sobre o óleo diesel e elevar os impostos para instituições financeiras.
Bolsonaro editou um decreto e uma medida provisória para reduzir a zero as alíquotas do PIS/Cofins incidentes sobre a comercialização e a importação do combustível, por dois meses, e do gás de cozinha, sem um prazo definido.
Parte da compensação pela redução dos tributos, estimada pelo governo em 3,67 bilhões de reais para este ano, virá do aumento da Contribuição Social sobre Lucro Liquido (CSLL) de instituições financeiras como os bancos, o que foi recebido negativamente pela maior parte dos investidores.
"Essa decisão gera uma incerteza institucional", disse à Reuters Paloma Brum, economista da Toro Investimentos."Pode ser que agora sejam os bancos, mas depois outras instituições podem ter a tributação elevada."
Além disso, "num cenário de crise econômica, isso gera a incerteza de que possivelmente o governo não vai seguir uma agenda tão liberal assim."
A adoção de uma agenda econômica liberal, voltada para reformas e privatizações, foi promessa eleitoral do presidente da República.
Brum chamou atenção ainda para os riscos que essa decisão tributária pode ter nas pressões inflacionárias, principalmente levando em consideração o baixo patamar da taxa Selic. "Isso pode levar a saída de dólares do país", alertou.
Às 10:39, o dólar avançava 1,45%, a 5,6830 reais na venda, enquanto o dólar futuro de maior liquidez ganhava 0,63%, a 5,683 reais.
Mais cedo, logo após a divisa norte-americana spot tocar o patamar de 5,6940 reais, seu maior nível intradiário desde 4 de novembro do ano passado, o Banco Central anunciou um leilão à vista, em que vendeu 1 bilhão de dólares.
"A atuação do BC nesse momento está correta, porque visa corrigir a distorção causada por uma medida que não está alinhada com as pautas do Congresso", opinou Alejandro Ortiz, economista da Guide Investimentos. "O Banco Central está tentando corrigir os efeitos colaterais."
Apesar de o dólar ter cedido algum terreno logo após o anúncio do leilão, a divisa já passava a recuperar força, e renovou a máxima da sessão ao tocar 5,6980 reais às 10h23, maior patamar também desde 4 de novembro.
A autarquia já havia anunciado para este pregão leilão de swap tradicional para rolagem de até 16 mil contratos com vencimento em junho e dezembro de 2021.
No radar dos investidores domésticos ficava também a leitura do parecer da PEC Emergencial no Senado, prevista para as 16h. Diante do acirramento da crise do coronavírus e do aumento das medidas de restrição de atividades adotadas por diversos governadores, a pressão pela liberação do auxílio emergencial deu uma escalada, com senadores articulando para desidratar o texto da PEC e aprovar nesta semana somente o retorno do benefício.
Enquanto isso, a força do dólar no exterior colaborava para o comportamento do mercado de câmbio doméstico. O índice do dólar contra uma cesta de partes fortes operava em leve alta, enquanto peso mexicano, peso chileno, lira turca e rand sul-africano, alguns dos principais pares do real, registravam perdas nesta manhã.
Sob os holofotes dos investidores internacionais ficavam os rendimentos dos títulos globais, especialmente os dos Treasuries. O aumento dos 'yields' assustou os mercados nas últimas semanas, com os participantes preocupados com a possibilidade de uma recuperação econômica diante da Covid-19, combinada com o estímulo fiscal, causar um salto na inflação.
Na véspera, o dólar à vista ficou praticamente estável, a 5,602 reais na venda.
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