Investimento em infraestrutura beneficiará setor agropecuário
Enquanto diversos setores do Brasil sofrem com os impactos da Covid-19, o desempenho do agronegócio tem se destacado em 2020. O PIB do agro fechou o 1° semestre com alta de 5,3% em relação ao mesmo período de 2019, e completou 6 meses consecutivos de expansão, conforme dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP).
Esse desempenho poderia ser melhor, não fosse a falta de infraestrutura adequada ao transporte e armazenamento de produtos. De acordo com a EsalqLog, a combinação de rodovias com má conservação, transporte inadequado e necessidade de armazenamento faz o país perder milhões de toneladas de soja e milho colhidas - cerca de R$ 2 bilhões, todos os anos.
Nas últimas décadas, a produção agropecuária se concentrou na metade Norte do país, em especial no Mato Grosso, enquanto os principais portos utilizados para a exportação estavam no Sudeste ou Sul, o que implicava em um deslocamento dessas cargas por milhares de quilômetros. Essa distância era percorrida, majoritariamente, por estradas mal conservadas.
Nos últimos anos, a situação começou a mudar com o escoamento de grãos pelos portos do Arco Norte do país – Barcarena (PA), Miritituba (PA), Itacoatiara (AM) e Itaqui (MA). Segundo dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), a participação do Arco Norte saiu de 14% em 2010 para 35% no caso da soja em grão exportada, entre janeiro e agosto de 2020. No caso do milho, o percentual de participação cresceu para 31%.
Estes percentuais já são semelhantes aos do porto de Santos (SP), porém, em números absolutos, os portos do Sul e do Sudeste não perderam representatividade, uma vez que os volumes de produção e exportação cresceram na última década e os portos do Arco Norte passaram a absorver esse excedente.
Para a próxima década, a tendência é que o escoamento pelos portos do Norte se intensifique. O estudo “Outlook 2030”, do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), aponta que até 2030 a produção de soja no Mato Grosso deverá aumentar 66%, enquanto a de milho, 91,5%.
Assim, o estado que hoje responde por 30% da produção de soja e 34% de milho deve passar a responder por 37% e 54% do total, respectivamente, em 2030. Para escoar essa produção, o uso de novas tecnologias e a melhoria da logística no estado serão fundamentais. Neste sentido, a adoção de novas opções multimodais de transporte traz grandes resultados aos que utilizam o transporte de cargas agropecuárias.
Um exemplo é a saída pelo Arco do Norte utilizando os modais rodoviário e hidroviário. Com a conclusão do asfaltamento da BR-163, os grãos produzidos no Mato Grosso são enviados por rodovia até Miritituba e, em seguida, por barcaças até portos próximos a Belém (PA). Essa rota segue o modelo da hidrovia do Rio Madeira, que conecta Porto Velho (RO) a Itacoatiara, promovendo acesso ao Oceano Atlântico. As novas opções multimodais já permitiram redução significativa nos fretes de Mato Grosso.
O passo seguinte será a chegada das ferrovias ao Mato Grosso para facilitar o escoamento dos grãos. No momento, 3 projetos estão sendo discutidos. Um deles é a extensão da Ferronorte entre Rondonópolis e Lucas do Rio Verde, para transportar cargas até Santos. O segundo trata da construção da Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico), conectando o Vale do Araguaia, em Mato Grosso, à Ferrovia Norte-Sul, em Goiás, e podendo chegar até Ilhéus (BA) no futuro. Por fim, o projeto da Ferrogrão, que conectará a principal região produtora de grãos no estado aos portos do Arco Norte, complementando o transporte pela BR-163.
Investimentos em infraestrutura elevariam a competitividade e rentabilidade do agronegócio. É preciso aproveitar essa oportunidade para desenvolver o setor logístico e resolver, ainda que em parte, aquele que foi por muitos anos considerado o principal gargalo do setor no país.
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