Real forte derrete o preço do açúcar de exportação e ameaça o etanol (Archer)
Uma semana de muita ansiedade com os mercados aguardando o resultado da eleição americana que – embora ainda sem números oficiais – deve dar a vitória ao candidato democrata Joe Biden. O mercado de açúcar em NY teve o vencimento março/21 encerrando a semana a 14.91 centavos de dólar por libra-peso, alguns pontos abaixo do fechamento da semana passada. Já os demais meses ao longo de toda a curva que vai de maio/21 até julho/23 encerraram em alta que variou entre seis e nove dólares por tonelada.
O real teve uma espetacular valorização em relação ao dólar, com mais de 6.6%, fazendo com que o valor médio do açúcar para a safra 21/22 despencasse R$ 118 por tonelada na semana enquanto a safra 22/23 encolhesse R$ 111 por tonelada. Agora, para poder recuperar os mesmos valores da semana anterior, em tese, NY teria que subir 100 pontos.
Há muito temos comentado que o real é – junto com a moeda da Turquia – a que mais se desvalorizou durante a pandemia. E que em algum momento essa desvalorização acima do normal teria que corrigir. Não dá para afirmar que a reversão veio para ficar, mas lucro no bolso nunca fez mal a ninguém. Precisamos observar como o mercado mundial vai se comportar a partir da confirmação da eleição de Biden.
Real mais forte com o petróleo circulando entre 40-45 dólares por tonelada vai forçar a Petrobras a reduzir o preço da gasolina na bomba pressionando o etanol. Por outro lado, as vendas de etanol continuam se recuperando e devemos ter preços remuneradores na entressafra em função da previsão de um estoque de passagem bastante reduzido.
A equação de equilíbrio sofrerá mudança nas suas variáveis caso o caminho do real seja o de continuada valorização. E o esperado mix maximizando a produção de açúcar para o ano que vem pode não ocorrer.
O governo indiano tem indicado que não vai estender o subsídio na exportação para o ano safra recém iniciado naquele país. Segundo o ministro do Comércio e Alimentos, Piyush Goyal, os subsídios ocorreram nos últimos anos para reduzir os estoques excedentes e compensar as usinas no pagamento de cana aos fornecedores. Tem uma tal lei da oferta e da procura que diz que quando a quantidade ofertada de certo produto ocorre (açúcar indiano que iria para a exportação, mas sem subsídio vai ficar em casa) os preços caem. Se essa lei não foi “revogada” os preços internos da Índia vão cair. Rumores circulavam na semana que o subsídio poderia ser reduzido para 5,000 rúpias dos atuais 10,448.
Os fundos finalmente reduziram um pouco a posição comprada em 17,000 lotes. Agora, possuem 245,500 lotes.
A vitória de Biden vai obrigar o presidente Bolsonaro a entender que os países não tem amigos e, sim, interesses. O prejuízo à imagem do Brasil lá fora capitaneado pelo governo se configura em alarmante possibilidade de o País perder espaço na liderança do agronegócio - entre outros motivos - pela declarada sinofobia do ocupante da presidência.
O fortalecimento do real fica em constante xeque porque até o momento o governo não tem um orçamento aprovado para o ano que vem, não existem políticas públicas de investimento, o ministro da economia é um triste fantoche do presidente, e nenhuma das inúmeras promessas de campanha de Bolsonaro foi cumprida. O que há, de sobra, é o gosto pelo enfrentamento com quem quer que seja que ouse confrontar suas parvoíces.
Ainda bem que o pujante agronegócio brasileiro carrega o Brasil nas costas torcendo para que nossos parceiros comerciais, em especial a China, não prestem atenção às falas do presidente brasileiro. Bolsonaro ignora que em 2019 nossas exportações para a China somaram US$ 63.3 bilhões e que em 2020 já somam US$ 53.3 bilhões. Imagine a destruição que causaria à nossa economia um eventual embargo chinês aos produtos brasileiros em represália às grosserias e bravatas do capitão. Esse estrago só não seria maior do que a herança que Bolsonaro vai deixar para os brasileiros que nele confiaram.
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Tenham um excelente final de semana.
Arnaldo Luiz Corrêa.
Unica vê fracas compras de CBios; IBP fala em vendas represadas e flexibilização
SÃO PAULO (Reuters) - O número de créditos de descarbonização (CBios) gerados pelos produtores de biocombustíveis do Brasil e registrados na B3 superou a marca dos 13 milhões, enquanto as compras pelas distribuidoras estão fracas e não atingiram nem metade da meta obrigatória para o ano, apontou nesta sexta-feira a Unica, uma das entidades que representam empresas emissoras dos títulos.
O setor de distribuição de combustíveis teria de comprar este ano 14,9 milhões de CBios, para compensar as emissões de carbono pelos derivados de petróleo vendidos, conforme meta revisada para baixo por conta da pandemia, que inclui também obrigações relativas a alguns dias de 2019.
Mas, até o momento, as distribuidoras têm em mãos 7,28 milhões de créditos, menos da metade do objetivo traçado pelo programa RenovaBio. Esse volume bem inferior à meta do ano indicaria que está havendo um represamento de vendas de CBios pelos produtores de biocombustíveis, disse à Reuters uma representante do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP).
A União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), que representa as usinas de cana --importantes emissores de CBios--, afirmou por outro lado que a procura das distribuidoras de combustíveis por compras "ainda está aquém do esperado".
"Apesar da oferta expressiva de CBios por parte dos produtores, nas últimas semanas estamos observando baixa procura pelas distribuidoras", afirmou o diretor técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues, em nota.
Segundo ele, o mercado de etanol está se recuperando e os produtores continuarão ofertando CBios, com a expectativa de superar a meta prevista para este ano já em novembro, acrescentou.
A meta dos produtores, estabelecida pela reguladora ANP, é de gerar 15 milhões de CBios.
Segundo a entidade que representa produtores de etanol e açúcar no centro-sul do país, o setor investiu em certificação e está cumprindo o seu papel na oferta de CBios. Já são mais de 200 unidades certificadas para emissão de créditos.
A Unica não entrou em detalhes sobre as causas das compras abaixo do esperado pelas distribuidoras de combustíveis.
O volume de negociação de CBios começou a crescer a partir de setembro, após um questionamento sobre tributação dos créditos e uma revisão das metas por conta da pandemia.
O objetivo original para 2020 era praticamente o dobro do atual.
Conforme informações do mercado, o preço do CBio subiu de 30 reais em setembro para mais de 60 reais ao final do mês passado.
REPRESAMENTO DE VENDAS
A diretora de Downstream do IBP, Valéria Amoroso Lima, avaliou em entrevista que há uma "indicação de represamento" de vendas de CBios pelos produtores, uma vez que o preço dos créditos disparou para 68 reais ao final de outubro, mais que o dobro do verificado um mês antes.
Segundo ela, isso dificulta as compras por parte das distribuidoras, o setor que é obrigado a comprar os CBios para cumprir a meta no ano, enquanto o produtor não tem obrigação de vender.
O IBP disse ainda em nota que essa valorização dos CBios "pode impactar o valor do combustível para o consumidor final e o fluxo de caixa das empresas do setor, dado o prazo curto para cumprimento das metas obrigatórias até o fim deste exercício".
Dessa forma, acrescentou o instituto, "alguns ajustes são necessários para que este novo mercado funcione adequadamente", como uma flexibilização do cumprimento de 15% da meta estipulada em um ano para o ano seguinte, conforme prevê a Lei 13.576 de 2017, regulamentada pelo Decreto 9.888/2019.
"A simples aplicação deste disposto legal já garantiria um melhor equilíbrio entre oferta e demanda de CBios", destacou o IBP, acrescentando que é preciso "reflexão urgente sobre a mecânica do mercado de CBios e a flexibilização de suas metas neste ano de estreia, o que trará equilíbrio e previsibilidade para o setor, e ganhos para a sociedade".
Adicionalmente, o IBP defende a implantação de outros mecanismos que possam conferir maior controle e transparência ao processo de comercialização desses certificados, como avaliação de prazo máximo para o produtor disponibilizar os CBios para comercialização na B3, a partir da data de sua emissão.
"Para o mercado funcionar, não é suficiente ter CBios escriturados pelo emissor, é necessário que esses títulos estejam disponíveis para comercialização", afirmou o IBP.
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