Falta de chuva e calor excessivo no café: Pelo menos 50% das floradas que já abriram não devem vingar, diz pesquisador da UFL
Assim como vem sendo observado no sul de Minas Gerais, as condições das lavouras de café no Cerrado Mineiro também gera muita preocupação para o produtor local. Após terminar uma colheita volumosa e de muita qualidade, a nova safra já começa com potencial de perda de produtividade, consequência da falta de chuva e das altas temperaturas.
Marcelo Barbosa, produtor de café em Campos Altos/MG, afirma que "a situação é de calamidade e que o setor ainda não entendeu a gravidade do problema". Segundo Barbosa, não chove de maneira expressiva na região desde março e a última precipitação na sua lavoura foi há duas semanas, mas com acumulado de apenas 7 mm.
Confira no vídeo as altas temperaturas registradas no dia 10 de setembro:
"Posso te dizer com toda certeza que nossa produção vai ser muito inferior que em 2019", comenta. Complementa ainda que na safra passada a colheita não ultrapassou 10 sacas por hectare. Os números chamam atenção, tendo em vista que para a safra 2020, o produtor atingiu uma média de 60 sacas por hactare.
"O mercado ainda não entendeu a calamidade que estamos passando e o que está por vir caso não volte a chover. É importante lembrar que o Brasil não tem mais estoques de café e a situação é muito séria", afirma Marcelo. Nos últimos dias as condições do clima devolveram volatilidade ao mercado de café, com negociações acima dos 130 centavos por libra-peso na Bolsa de Nova York (ICE Future US), mas também finalizou uma sessão com valores abaixo de 130.
A última chuva, em Agosto, não aliviou as condições do solo, mas foi suficiente para abertura de florada em diversas regiões do estado mineiro. De acordo com José Donizeti Alves, professor e pesquisador da Universidade Federal de Lavras (UFL), a florada abriu entre 20 e 30% da área de produção de café de Minas Gerais. Deste montante, devido às condições climáticas, pelo menos 50% não deve ter um pegamento de florada satisfatório para a próxima produção.
"O Inverno foi muito seco e com temperatura muito elevada. Tivemos essa chuva que abriu a florada e a dúvida agora é saber se vai ter o pegamento ideal. As previsões nos indicam chuvas apenas no dia 30 de setembro e pode ser muito tarde", comenta o pesquisador.
Destaca ainda que as condições são graves tanto para as lavouras com irrigação e para os produtores que ainda produzem em sequeiro. "Depois que a flor abriu, durante os próximos 15/20 dias nós precisamos de umidade e temperaturas mais amenas, o que não está acontecendo", complementa.
Imagens registradas em Patrocínio/MG:
Para os produtores que não trabalham com irrigação a preocupação é dupla, tendo em vista que não há formas para lidar nem com a umidade do solo e nem com o calor excessivo. Caso as previsões se confirmem, o tempo neste final de semana pode agravar a situação. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu durante esta semana um alerta laranja de onda de calor para todo o Sudeste brasileiro, onde as temperaturas podem ficar 5 graus acima da média esperada.
"Infelizmente não há nada o que o produtor possa fazer para minimizar esses problemas agora. Claro que as lavouras bem nutridas e que tiveram os tratos no pós colheita vão sentir menos o impacto. Mas também me preocupa lá na frente, quando o fruto começar a crescer e quando chegar em outubro e novembro, não haverá enchimento de grão", complementa.
Alta Mogiana também enfrenta problemas
Segundo dados avaliados pela Fundação Procafé, localizada em Varginha, o produtor de Minas Gerais e da Alta Mogiana conta hoje com um baixo volume de água no solo, apesar de chuvas volumosas registradas em fevereiro. "O normal pra gente é chover 200 mm e neste ano choveu 500 mm em fevereiro e a partir de março as chuvas começaram a reduzir", comenta Rodrigo Naves Paiva, engenheiro agrônomo do Procafé.
Em Varginha/MG, o déficit hídrico já é de 100 mm, Araguarí/MG já tem déficit de 155 mm e Franca/SP já registra déficit hídrico de 155 milímetros de precipitação. Vale lembrar que os dados são coletados em estações meteorológicas do próprio Procafé. "O défict está acentuado pro período e de maneira bem generalizada em toda a região do parque cafeeiro", comenta.
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