Orlando Ribeiro: não acreditamos em embargo da China à carne do Brasil

Publicado em 24/08/2020 11:51

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O secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, embaixador Orlando Ribeiro, disse não acreditar em um possível embargo às carnes brasileiras pela China, após os episódios recentes de suspensão de frigoríficos e suposta presença de traços de coronavírus em asa de frango importada do Brasil. “Risco sempre há, mas não creio que isso vá acontecer. Não podemos garantir risco zero de contaminação nos frigoríficos, mas podemos garantir que adotamos procedimentos que visam a atingir risco quase nulo”, afirmou Ribeiro em entrevista exclusiva ao Broadcast Agro .

O diplomata relata que o governo brasileiro mantém contato diário com as autoridades chinesas, a exemplo do Departamento de Alfândegas do país (Gaac, na sigla em inglês) - órgão do governo chinês responsável pela habilitação de estabelecimentos exportadores e que também realiza o controle de mercadorias na aduana. “É difícil desvincular a situação das plantas da situação epidemiológica que vive o País. Mas o governo brasileiro tem adotado protocolos extremamente rígidos para garantir o funcionamento das plantas, com inocuidade e sanidade dos alimentos e preservação da saúde dos trabalhadores”, disse Ribeiro.

Para o secretário, os protocolos adotados pela indústria brasileira atendem aos mercados mais exigentes. “O Brasil tem plenas condições de atender às novas condições chinesas. Por isso, os testes (para coronavírus feitos pela China) estão dando todos negativos”, afirma. Segundo o secretário, o Ministério da Agricultura vem, junto com os frigoríficos, aprimorando os protocolos de segurança conforme a nova realidade sanitária, fazendo, por exemplo, a desinfecção de contêineres e das embalagens dos produtos.

Quanto à testagem em massa de alimentos para covid-19, que está sendo solicitada pela China a alguns fornecedores, Ribeiro descartou a possibilidade de o governo brasileiro exigir, assim como fez o argentino, que frigoríficos testem os produtos antes da exportação. “Não cabe ao governo pedir testagem para os produtos. O País não vai alterar legislação sanitário por conta do pedido de um cliente, por mais importante que ele seja”, afirmou.

O secretário acrescentou que o governo brasileiro segue a posição científica da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e da Organização Mundial de Saúde (OMS) de que alimentos e embalagens de alimentos não são vetores ou transmissores da doença. “Na nossa percepção, não haveria necessidade de testes. Mas se a iniciativa privada quiser adotar programa de testagem por amostragem com custo adicional para atender ao cliente é plenamente compreensível”, observou o diplomata, acrescentando que não há risco na ingestão de alimentos sem testes para consumidores nacionais e nem internacionais. Ribeiro mencionou ainda que, como grande exportador, o setor privado brasileiro procura atender às demandas dos clientes Ele citou como exemplo a produção de frango de menor tamanho para o mercado árabe.

Ribeiro também reiterou a posição do governo de não suspender o registro de exportação de estabelecimentos que tiveram funcionários contaminados pelo coronavírus. “Não vemos base legal para tomar tal iniciativa e não teríamos como explicar para consumidores locais e para outros destinos o porquê de suspender para a China e não para todos”, explicou. Segundo ele, o caso de uma planta da JBS que teve seu registro suspenso temporariamente passou por uma decisão do Ministério Público e não do Executivo.

Quanto ao caso da suposta detecção de coronavírus em asa de frango produzida no Brasil pela administração municipal de Shenzhen, na China, o diplomata afirmou que o ministério ainda não possui todas as informações necessárias para avaliar o caso. “Os adidos agrícolas vão na segunda-feira (24) até a cidade para conversar com o governo local e apurar o ocorrido. Ainda não sabemos o teste que foi realizado ou se os traços foram identificados no produto ou na embalagem. Também não está claro o momento da possível contaminação”, argumentou.

Repercussões - Após o município de Shenzhen ter informado sobre a presença de traços de coronavírus em frango brasileiro, o governo de Hong Kong suspendeu a importação de produtos da Aurora Alimentos de Xaxim (SC) - responsável pelo lote envolvido no caso. Ontem, o Centro de Segurança Alimentar da província autônoma informou que todas as amostras de carne de frango importadas do Brasil testaram negativo para covid-19, porém não retirou o veto à planta brasileira. “O governo brasileiro não esperava nem que houvesse suspensão temporária. A atitude de Hong Kong foi precipitada. Agora, esperamos que retirem a suspensão”, comentou Ribeiro.

De acordo com o diplomata, a resposta do ministério ao pedido de informações de Hong Kong está sendo enviado. “Eles agiram tal qual as autoridades das Filipinas com base em notícias de jornal sem que o caso fosse explicado, antes de solicitar os esclarecimentos”, alegou o secretário. Ele considera que a motivação de Hong Kong foi por “uma questão cultural”, com a população receosa quanto ao ressurgimento da pandemia.

Já no caso das Filipinas, que embargou o frango brasileiro, a resposta do governo brasileiro “será dura”, afirma Ribeiro. “Foi uma medida equivocada, desproporcional e sem se atentar às regras da Organização Mundial do Comércio (OMC). Foi claramente um movimento de protecionismo e vão receber resposta dura por isso”, contou o secretário. O governo avalia acionar a OMC contra o embargo filipino.

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Fonte:
Estadão Conteúdo

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