Saúde diz que provavelmente mudará orientação sobre cloroquina; infectologistas cobram que seja abandonada

Publicado em 18/07/2020 17:46

(Reuters) - O Ministério da Saúde afirmou nesta sexta-feira que avalia diariamente as novas evidências relativas ao uso da cloroquina no tratamento da Covid-19 e reconheceu que provavelmente mudará sua orientação atual, depois que a Sociedade Brasileira de Infectologia cobrou que os medicamentos sejam abandonados no tratamento de qualquer fase da doença.

"Estamos vendo quais são as evidências mais novas publicadas na literatura universal, então já somamos mais de 1 mil evidências em quase 70 boletins de evidências científicas, esses boletins são atualizados diariamente. E se mudará as orientações? Provavelmente sim. A ciência, ela muda dia após dia", disse Hélio Angotti Neto, secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do ministério, em entrevista coletiva.

Ele não detalhou qual tipo de mudança de orientação pode ser feita pelo ministério, mas disse que muitos artigos têm se posicionado contra o uso da cloroquina em pacientes em fase tardia da doença, quando "o vírus praticamente já não está mais presente" e a pessoa está sofrendo processos inflamatórios muito fortes.

"O ministério vai continuar acompanhando essas evidências diariamente e trazendo o melhor que se tem de informação atualizada. Se houver informação a favor, pode ser que uma nota informativa vire até uma orientação mais formalizada. Se vier uma orientação contra, pode ser que a nota informativa traga uma orientação diferente daquela que hoje se encontra. Da nossa parte não há problema nenhum em mudar a orientação", acrescentou.

Atualmente, o Ministério da Saúde recomenda o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19 em todas as etapas da doença, apesar da falta de comprovação científica de eficácia.

Inicialmente o medicamento era recomendado pela pasta apenas para casos graves, mas o ministério ampliou a orientação em maio para todas os estágios da Covid-19 por pressão do presidente Jair Bolsonaro, um defensor do medicamento assim como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Desde que anunciou ter testado positivo para coronavírus na semana passada, Bolsonaro afirmou que estava tomando o remédio e tem defendido o uso pelas pessoas contaminadas, mesmo reconhecendo a falta de comprovação científica de eficácia.

Nesta sexta-feira, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) divulgou um informe em que disse ser urgente e necessário que a hidroxicloroquina seja abandonada no tratamento de qualquer fase da Covid-19, citando dois estudos internacionais divulgados nesta semana que se somaram a outros afirmando que o medicamento não é eficaz e pode provocar efeitos colaterais.

Segundo a SBI, os estudos completam a avaliação de eficácia e segurança do seu uso nas três fases da doença: profilaxia, tratamento precoce e pacientes hospitalizados, sem mostrar qualquer benefício clínico e ainda provocando eventos adversos.

"Com essas evidências científicas, a SBI acompanha a orientação que está sendo dada por todas sociedades médicas científicas dos países desenvolvidos e pela Organização Mundial de Saúde (OMS) de que a hidroxicloroquina deve ser abandonada em qualquer fase do tratamento da Covid-19", afirmou.

A nota da SBI foi divulgada após a revelação, na véspera, de que o Ministério da Saúde enviou ofício à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) pedindo que a instituição dê ampla divulgação ao tratamento com cloroquina nos primeiros dias de sintomas de Covid-19.

A recomendação foi dada apesar de a OMS ter suspendido testes com o medicamento em vários países, inclusive o Brasil, depois que os resultados de outros estudos não mostraram benefício do medicamento contra malária para tratar a doença respiratória provocada pelo novo coronavírus.

"A Fiocruz está ciente das orientações do Ministério da Saúde sobre o uso ´off label´ (quando o fármaco é utilizado para uma indicação diferente daquela que foi autorizada pelo órgão regulatório, a Anvisa) da cloroquina e da hidroxicloroquina contra a Covid-19. A Fiocruz entende ser de competência dos médicos sua possível prescrição", disse a Fiocruz em nota.

(Por Pedro Fonseca; Reportagem adicional de Maria Carolina Marcello)

Brasil registra mais 1.163 mortes por Covid-19 e se aproxima de 78 mil óbitos

SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil registrou nesta sexta-feira 34.177 novos casos de coronavírus, o que eleva o total no país a 2.046.328, e mais 1.163 mortes em decorrência da Covid-19, atingindo a marca de 77.851 óbitos, informou o Ministério da Saúde.

O país havia superado na véspera os 2 milhões de infecções pelo vírus, patamar que levou apenas 27 dias para ser alcançado após o registro do primeiro milhão de casos.

O Brasil é o segundo do mundo com maior número de infecções e óbitos por Covid-19, atrás apenas dos Estados Unidos.

Apesar dos números elevados, nesta sexta-feira a Organização Mundial da Saúde (OMS) destacou que o Brasil deteve o crescimento exponencial da doença e verificou uma estabilização na contagem de casos, o que indica um platô.

"Não estamos vendo os aumentos diários que vimos nos meses de abril e maio. Nós vimos uma taxa muito elevada de crescimento, e em meados de junho e a partir de julho temos visto o platô ocorrendo", disse em entrevista coletiva o chefe do programa de emergências da OMS, Mike Ryan.

Ele acrescentou, porém, que o Brasil ainda "não está descendo a montanha", ou seja, reduzindo de maneira firme o número de casos, o que faz com que o país continue "no meio da luta".

São Paulo segue como o Estado brasileiro mais afetado pela doença, atingindo as marcas de 407.415 casos e 19.377 óbitos. O governo paulista estima que o Estado chegará ao final de julho com entre 510 mil e 600 mil casos, enquanto o número total de mortes no fim do mês é projetado entre 21 mil e 26 mil.

Ceará e Rio de Janeiro dividem o segundo lugar da lista divulgada pelo Ministério da Saúde. Embora o Estado nordestino tenha mais casos (145.938 infecções, 7.165 mortes), o Rio possui maior número de óbitos (135.230 casos, 11.919 mortes).

O Pará --que está bem próximo do Rio de Janeiro em relação à quantidade de casos--, a Bahia e o Maranhão são os outros três Estados do país que possuem mais de 100 mil infecções confirmadas.

O Brasil conta com 1.321.036 pacientes recuperados da Covid-19, além de 647.441 em acompanhamento, segundo o Ministério da Saúde.

A taxa de letalidade da doença no país é de 3,8%.

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Fonte:
Reuters

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