Real descola com investidor mirando bolsa; Ibovespa fecha em alta de mais de 2%

Publicado em 17/07/2020 17:11 e atualizado em 19/07/2020 19:23

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SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em firme alta ante o real nesta sexta-feira, ganhando fôlego na parte da tarde enquanto a bolsa de valores brasileira renovava máximas da sessão e os juros futuros caíram, o que para analistas indica mais um dia de câmbio pressionado por operações de hedge em meio a juros baixos, elemento integrante do debate sobre a maior volatilidade cambial.

O dólar à vista subiu 1,02%, a 5,3824 reais na venda. A moeda oscilou entre alta para 5,3915 reais (+1,19%) e queda a 5,3164 reais (-0,22%). Com os ganhos desta sexta, o dólar fechou a semana com valorização acumulada de 1,10%. Em julho, a divisa recua 1,06%. No ano, o dólar dispara 34,13%. Mais uma vez, o real liderou as perdas globais a despeito do dia bastante positivo no mercado acionário brasileiro. O Ibovespa fechou a sexta em alta de 2,35%, segundo dados preliminares, somando ganhos de 2,9% na semana.

"Mais uma vez real depreciando enquanto a bolsa sobe. Esse combo reforça a análise de que o mercado compra dólar para proteção", disse Thomas Gilbertoni, especialista em investimentos da Portofino. A sexta também foi de queda nos juros futuros, o que pode indicar expectativas de novos cortes da Selic, atualmente na mínima recorde de 2,25% ao ano. No fim de 2019, o juro estava em 4,50%, contra 6,50% ao final de 2018.

A baixa nos juros diminui os retornos embutidos na renda fixa em reais, deixando a moeda brasileira em desvantagem em relação a seus pares emergentes --que oferecem rendimentos mais altos com menor nível de risco. Por outro lado, os menores custos de financiamento elevam o apelo das ações como ativos para investimento. O mercado compra bolsa, mas, para reduzir o risco associado a incertezas domésticas, ao mesmo tempo toma dólares, cujo custo de carregamento está mais barato por causa dos juros no piso.

A Selic perto do que seria um limite mínimo suscita debates sobre o risco de a taxa estar ou entrar em desequilíbrio com os patamares de risco macro, o que segundo algumas teses estaria contribuindo para a pressão cambial e volatilidade mais alta. Nesse contexto, analistas discutem os níveis de tolerância do Banco Central à volatilidade da taxa de câmbio doméstica, a mais alta entre as principais divisas emergentes.

Na véspera, quando a "gangorra cambial" prosseguiu e o real liderou a valorização entre cerca de 30 pares do dólar, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a autarquia ainda não tem uma boa explicação sobre as causas do aumento da volatilidade do câmbio no país e que continua investigando a questão. Mas Campos Neto afirmou ter a sensação de que a volatilidade tende a diminuir.

"Sem querer, Campos Neto acabou adicionando volatilidade à moeda, na medida em que você vê a autoridade monetária dizer que não sabe o que está causando (a volatilidade)", disse um profissional do mercado que preferiu não ser identificado.

"Isso acaba gerando incerteza para o investidor, porque se espera que a autoridade monetária tenha clareza do que está acontecendo para gerenciar a situação", completou.

A volatilidade implícita para o real dentro de três meses está em 17,2% ano, contra cerca de 14% do peso mexicano e 11% da lira turca.

Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, calculou que o real está cerca de 21 centavos de real desvalorizado em relação a uma cesta de emergentes, depois de, em março, a moeda ter mostrado sobra de valorização na casa de 40 centavos de real.

"Houve o choque da pandemia, o que mudou a dinâmica das contas públicas e gerou incerteza sobre a dívida pública no médio e longo prazo", disse, acrescentando que o fato de o real estar mais desvalorizado ante os pares não necessariamente indica que a moeda caminha para fechar esse "gap".

Ibovespa fecha em alta de mais de 2% e flerta com 103 mil pontos

SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em alta de 2% nesta sexta-feira, renovando máxima desde o começo de março, acima dos 102 mil pontos, embalado por uma combinação de fatores, incluindo a taxa Selic em patamar extremamente baixo.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa encerrou com elevação de 2,32%, a 102.888,25 pontos, maior patamar de fechamento desde 4 de março. Na máxima do dia, chegou a 103.016,60 pontos.

Na semana, registrou ganho de 2,86%, ampliando a alta no mês para 8,2%. No ano, ainda recua 11%.

O volume financeiro somou 29,5 bilhões de reais neste pregão, também refletindo últimos ajustes de posições antes do vencimento de opções sobre ações na bolsa paulista na segunda-feira.

Na próxima semana, também começa a temporada de resultados no Brasil, com WEG abrindo o calendário das empresas listadas no Ibovespa no dia 22.

Para o gestor Werner Roger, da Trígono Capital, a alta nesta sessão reflete um pouco de "mais do mesmo", uma combinação de fatores que partem de juros baixos e perspectivas de ainda mais fluxo para a bolsa, sem notícias ruins mais recentemente.

"Investidores institucionais não estão encontrando ativos de renda fixa para cobrir as metas atuariais e estão subalocados em bolsa. Ainda estão tímidos, mas poderão ser a 'segunda onda' após a migração de recursos de pessoas físicas", avaliou.

"Os estrangeiros viriam em um terceira onda. Há muito fluxo ainda por vir", acrescentou.

Dados da B3 mostram que a parcela de investidor pessoa física nas negociações - compra e venda - no segmento Bovespa neste mês já alcança 26,7%, contra 23,6% dos institucionais. Os estrangeiros respondem por 44,3%, conforme os dados até o dia 15.

Estrategistas do Itaú BBA citaram em relatório que veem os fundos de pensão no país aumentando a exposição a ativos mais arriscados em busca de retornos mais elevados para cumprirem suas metas atuariais.

A equipe liderada por Marcos Assumpção chamou a atenção para 60 bilhões de reais de NTN-B (papéis do Tesouro Nacional atrelados à inflação medida pelo IPCA) para vencer, com parte desses recursos podendo ser canalizado para a bolsa.

No mesmo relatório, eles rolaram para 2021 preço-alvo do Ibovespa a 118 mil pontos, citando além do efeito juros e de migração de recursos, potencial revisão positiva nas previsões de lucros de alguns setores com peso relevante no índice.

Em Wall Street, o último pregão da semana teve menos fôlego, com a safra de balanços repercutindo nos negócios, enquanto investidores continuaram avaliando perspectivas de mais estímulos fiscais contra temores de outras interrupções nos negócios em razão de um aumento recorde nos casos da Covid-19.

DESTAQUES

- ELETROBRAS ON e ELETROBRAS PNB avançaram 14,35% e 11,84%, respectivamente, em meio a expectativas sobre a privatização da estatal, apesar de sinais recentes de que se trata de uma matéria de difícil aprovação no Congresso.

- CIELO ON subiu 9,13%, embora analistas do Safra esperem que o resultado da companhia no segundo trimestre reflita efeito significativo do menor volume de transações por causa das medidas de distanciamento social contra a pandemia do Covid-19. Em Nova York, PAGSEGURO subiu 3% e STONECO subiu 0,45%.

- MARFRIG ON valorizou-se 8,71%, entre as maiores altas, em meio a expectativas positivas para o resultado do segundo trimestre. No setor, MINERVA ON avançou 4,18% e JBS ON fechou com elevação 4,06%.

- BRADESCO PN e ITAÚ UNIBANCO PN ganharam 0,49% e 0,89%, respectivamente, favorecidos pelo clima mais favorável, após perdas na véspera.

- PETROBRAS PN encerrou com variação positiva de 0,09%, enfraquecida pelo declínio dos preços do petróleo no mercado internacional. PETROBRAS ON terminou com acréscimo marginal de 0,08%.

- VALE ON avançou 1,53%. A companhia, que divulga na segunda-feira relatório de produção do segundo trimestre, também disse que está suspensa exigência de garantias de 7,9 bilhões de reais por Brumadinho.

- CVC BRASIL ON recuou 1,8%, entre as poucas quedas do Ibovespa na sessão, com AZUL PN e GOL PN também mostrando fraqueza, dado o cenário ainda nebuloso sobre o retorno de viagens e turismo após a pandemia.

(Edição Alberto Alerigi Jr.)

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Fonte:
Reuters

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