SNA debate as perspectivas para o agro e os efeitos da crise na economia
Membros da Academia Nacional de Agricultura e da diretoria da SNA, entre outros convidados, participaram de uma ‘live’ para debater questões de interesse do agronegócio e analisar os efeitos da pandemia do Coronavírus na economia brasileira.
A reunião online foi coordenada pelo presidente da SNA, Antonio Alvarenga, e pelo presidente da Academia Nacional de Agricultura, Caio Carvalho.
“A imagem do agro brasileiro ganhou relevância extraordinária com a pandemia”, disse Carvalho, fazendo referência ao potencial exportador do País e à sua capacidade de abastecimento de diversos mercados. Por outro lado, ele se mostrou preocupado com a situação de alguns setores que ficaram fragilizados com os efeitos da crise, registrando queda nos investimentos.
Ao comentar sobre as metas do governo, Carvalho defendeu melhorias no setor de pesquisas. “É preciso um esforço privado, ao lado do Estado, para uma produção maior de pesquisas no País”.
Em tom otimista, a senadora e acadêmica Kátia Abreu ressaltou que a “nova ordem mundial” do agronegócio será a defesa agropecuária.
“A qualidade dos alimentos estará em alta, mas precisamos fazer com que a defesa agropecuária também chegue às pequenas agroindústrias”, destacou a senadora. “O Brasil deve se organizar para priorizar esse tema, traçar um plano estratégico e passar a exigir de outros países o mesmo rigor que temos para exportar”.
Sanidade e qualidade
Nesse contexto, Márcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), destacou que as cooperativas estão preparadas para atuar em defesa da sanidade e da qualidade dos alimentos.
“Temos condições de trabalhar com padrões que são adotados em poucos países. As cooperativas também estão com agilidade para lidar com um mercado mais competitivo”, afirmou o acadêmico, acrescentando que “a OCB está empenhada em fazer com que as cooperativas também sejam um exemplo de produtividade depois da porteira”.
Freitas salientou ainda que, nesse ano, mais de 20% do crédito rural brasileiro está sendo concedido por cooperativas financeiras.
Regulação e comércio exterior
Gustavo Diniz Junqueira, secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, afirmou que a defesa agropecuária deve ser considerada um desafio. Para ele, o setor precisa de regulação própria e de investimentos em parcerias público-privadas. Junqueira disse ainda que “o País precisa trabalhar na diversificação de mercados e ficar atento às demandas”.
Por sua vez, o Diretor da SNA, José Augusto de Castro, comentou que, de maneira geral, as exportações vão continuar a sustentar a Balança Comercial brasileira. “O Brasil está atendendo perfeitamente à demanda internacional”.
Etanol
Preocupado com o setor sucroalcooleiro, um dos mais afetados em razão da pandemia, Jacyr da Costa Filho, presidente do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag/Fiesp) afirmou que, apesar da boa safra de cana, houve uma queda em torno de 40% na demanda por etanol em razão do isolamento social provocado pelo Covid-19.
Segundo Jacyr, para que o setor se estabilize, é necessário estocar o combustível para que ele seja comercializado no momento adequado e não fique dependendo das variações de preços no mercado. “A estocagem é uma garantia real para facilitar o financiamento”, complementou Kátia Abreu.
Ainda segundo Costa Filho, não deverá haver aumento da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre a gasolina, pois o preço do combustível já está se recuperando, diante da redução significativa da oferta por parte da Rússia e da Arábia Saudita.
O Presidente da Cosag explicou ainda que, com o fim do isolamento social em alguns países europeus e da Ásia, o consumo de gasolina está voltando a aumentar, assim como o preço do petróleo.
Regularização fundiária
Outro ponto em destaque na reunião virtual foi a retirada de pauta do Projeto de Lei (PL 2633/20), da Câmara dos Deputados, que estabelece critérios para a regularização fundiária de imóveis da União, incluindo assentamentos.
A diretora da SNA, Maria Cecília de Almeida, reforçou que a titulação é necessária. “Temos problemas fundiários muito sérios no País. É preciso acabar com essa discriminação em relação à terra, que começou no século 19”.
Ao defender o direito de propriedade, Kátia Abreu disse que o Projeto de Lei poderá voltar à pauta da Câmara. “Existe um grande número de pessoas a favor dessa questão”.
O agrônomo e pesquisador Evaristo de Miranda, chefe-geral da Embrapa Territorial, lamentou a retirada do PL e disse que, “no caso do bioma Amazônia, que comporta mais de 500 municípios, é insustentável continuar com essa situação de ilegalidade que atinge cerca de 4.000 pequenos produtores responsáveis pela economia local”.
Rebatendo as críticas sobre os desmatamentos na Amazônia, o pesquisador informou que, nos últimos dez anos, foi registrada a média de 29.000 a 31.000 casos anuais, sendo que a maioria deles (91%) ocorreu em pequenas áreas. “Os desmatamentos que eventualmente surgem em grandes áreas estão dentro das regras estabelecidas pelo Código Florestal”, esclareceu Miranda.
Ele acredita que o interesse do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, pela preservação do bioma amazônico, possa favorecer a elaboração de um plano estratégico para a região.
Alternativas
Ao comentar os efeitos da crise entre os pequenos produtores, a diretora da SNA, Sylvia Wachsner, enfatizou a importância de se pensar na questão
da segurança alimentar, com alternativas de produção e comercialização.
“O Brasil tem capacidade de exportar produtos diferenciados, como por exemplo o camu-camu (fruto), e isso também seria uma saída para os pequenos produtores”, afirmou Sylvia. Ao mesmo tempo, disse ela, setores como o do etanol e de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta deveriam ser mais valorizados no âmbito da Economia Verde e poderiam fazer parte de uma nova “Marca Brasil” de promoção do País.
Queda do PIB
No contexto macroeconômico, alguns debatedores estimaram que a crise deverá provocar uma queda de 5% a 8% do PIB. O acadêmico e economista Roberto Fendt alertou que “o País terá de conviver com um aumento expressivo da dívida pública”.
“Crises geram oportunidades, mas também geram instabilidade no meio econômico. A queda do crescimento global é de 3%. A dívida brasileira deverá chegar a 140% do PIB, e o financiamento dessa dívida será feito com monetização, para reduzir pressões, e aumento de impostos, por um período de pelo menos cinco anos”, informou o economista e membro da Conselho Fiscal da SNA, Ney Brito.
Por outro lado, ele destacou que as principais economias globais já estão começando a retomar suas atividades. No caso do Brasil, Brito criticou a crise no sistema político brasileiro que, segundo ele, está sendo percebida pela comunidade internacional. “Faltam lideranças políticas no País”, destacou.
Propostas para o governo
Ao chamar a atenção para os entraves do atual governo, o vice-presidente da SNA, Maurílio Biagi Filho, propôs à instituição a formação de um grupo de trabalho para elaborar um plano de Comunicação a ser entregue à Presidência da República.
Segundo Biagi, o governo precisa aprimorar sua forma de se expressar para a sociedade. A ideia ganhou o apoio do também vice-presidente da SNA, Osaná Sócrates de Almeida.
Já o presidente do Sistema OCB defendeu o desenvolvimento de um plano de planejamento agropecuário de médio e longo prazo, incluindo assuntos de interesse como o financiamento agrícola. “E precisamos também comunicar isso como um projeto do País”, concluiu Freitas.
Presenças
Também participaram do encontro os ex-ministros Márcio Fortes de Almeida e Roberto Rodrigues; a presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), Angela Costa; o presidente do Sebrae-SP, Tirso de Salles Meirelles; os vice-presidentes da SNA, Hélio Sirimarco e Tito Ryff; os diretores da instituição Alberto Figueiredo, Antonio Freitas, Frederico Grechi, Francisco Villela, Márcio Sette Fortes, Chequer Jabour Chequer, Jorge Ávila, Marcos Fava Neves, Cláudio Contador, Hélio Meireles, Thomás Tosta de Sá, Roberto Ticoulat, Túlio Arvelo Duran, Paulo Protásio e Claudine Bichara Oliveira; o economista Cláudio Pereira e o advogado Antenor Barros Leal.
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