Cepea: colheita do café traz preocupação quanto à disponibilidade de mão de obra, em decorrência da pandemia de coronavírus.
Os preços do café arábica seguiram em forte alta em abril, impulsionados especialmente pela baixa disponibilidade do grão no mercado interno e pelo avanço do dólar frente ao Real.
No mês, o Indicador CEPEA/ESALQ do café tipo 6, bebida dura para melhor, posto na capital paulista, teve média de R$ 584,55/saca de 60 kg, avanço de 28,27 Reais por saca (ou de 5,1%) em relação à de março. Ressalta-se que, em relação a abril/19, a média do Indicador foi 177,19 Reais/sc superior (+43,5%), em termos reais – valores reais deflacionados pelo IGP-DI de mar/20.
Vale apontar que, no dia 16, o Indicador CEPEA/ESALQ do café arábica atingiu o maior patamar nominal de toda a série histórica do Cepea (iniciada em 1996), a R$ 591,03/saca. Em termos reais, no entanto, trata-se do valor mais elevado desde fevereiro de 2017 – o maior Indicador real da série do Cepea, por sua vez, é de R$ 1.352,61/saca, verificado em maio de 1997. O dólar teve média de R$ 5,33, avanço de 8,9% frente a março.
No mercado internacional, os futuros do café arábica oscilaram na maior parte do mês. As baixas estiveram atreladas ao câmbio, à aproximação da colheita da safra 2020/21 no Brasil e à expectativa de impacto negativo na demanda por café, devido ao covid-19 (menor consumo fora de casa). Já as altas ocorreram por fatores técnicos, pela demanda ainda aquecida, por preocupações quanto à logística e pela aceleração do consumo dos estoques de passagem em importantes países demandantes. Assim, a média de todos os contratos negociados na Bolsa de Nova York (ICE Futures) foi de 115,13 centavos de dólar por libra-peso em abril, queda de apenas 0,8% frente à de fevereiro.
O dólar elevado e a alta nos valores internacionais do arábica em boa parte do mês, por sua vez, estimularam o fechamento de alguns negócios no físico brasileiro, reduzindo ainda o mais o volume de café disponível. Conforme dados levantados junto aos colaboradores do Cepea, o percentual disponível da safra 2019/20 de arábica era de 5 a 10% no encerramento de abril. Regionalmente, esse volume é inferior aos 5% no Noroeste do Paraná e na Zona da Mata (MG). No Sul e Cerrado Mineiro e nas praças paulistas de Garça e Mogiana, restam cerca de 5 a 10% da safra 2019/20.
SAFRA 2020/21 – Nas lavouras, a maior parte dos produtores passou abril concentrada nos preparativos para a colheita, uma vez que os trabalhos devem ser efetivamente iniciados em maio. Porém, catações pontuais já começaram em todas as regiões. Na Zona Mata (MG), inclusive, uma boa parcela de produtores iniciou de fato a colheita da safra 2020/21. No entanto, as atividades nessa região mineira ainda estiveram em ritmo lento, devido ao elevado percentual de grãos verdes.
A maior parte dos agentes consultados acredita que os trabalhos de campo devem ganhar força apenas em meados de maio, com maior quantidade de café novo chegando ao mercado apenas em junho. Quanto ao clima, o tempo mais seco facilitou os trabalhos, mas agentes apontam que um período de estiagem mais prolongado pode prejudicar a condição de alguns cafezais, dificultando a recuperação após a colheita.
CORONAVÍRUS – Ainda que os trabalhos nas lavouras de arábica e robusta não tenham apresentado problemas, agentes se mostram preocupados quanto à disponibilidade de mão de obra, em decorrência da pandemia de coronavírus. Até o final de abril, trabalhadores familiares ou que residem nas proximidades das fazendas representavam a maior parte dos que realizam a colheita. Contudo, com a intensificação dos trabalhos e a maior necessidade de mão de obra, há dúvidas quanto ao bom andamento das atividades daqui para a frente.
Além dos problemas logísticos (deslocamento dos colhedores de suas origens até as regiões produtoras), cafeicultores se mostram preocupados com questões relacionadas ao controle do coronavírus, como adequações de alojamentos e de equipamentos de proteção e treinamento dos funcionários. Por um lado, o cenário econômico atual pode elevar a oferta de trabalhadores das próprias regiões produtoras. Por outro, essa mão de obra não é qualificada, o que pode prejudicar o bom andamento da colheita. Assim, muitos produtores têm levado em conta a possibilidade de atrasar as atividades ou seguir os trabalhos em menor escala, ao menos até a primeira quinzena de maio, a fim de se contornar as restrições impostas pela quarentena.
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