Ibovespa recua, mas tem maior alta mensal desde janeiro de 2019

Publicado em 30/04/2020 17:54 e atualizado em 01/05/2020 09:21

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Por Peter Frontini

SÃO PAULO (Reuters) - O principal índice da bolsa paulista caiu nesta quinta-feira, mas o forte rali das últimas três sessões, em meio à melhora das expectativas mundiais para o pós-coronavírus, o levou a fechar abril com o melhor desempenho mensal em 15 meses.

O Ibovespa caiu 3,2% na sessão, para 80.505,89 pontos. Ainda assim, acumulou alta 10,25% no mês, marcando o maior avanço mensal desde janeiro de 2019, quando teve ganho de 10,8%. Na semana, o avanço foi de 10,8%.

O volume financeiro do dia somou 27,7 bilhões de reais, abaixo da média diária recente, antes do feriado que paralisa os negócios na sexta-feira.

Na sessão o Ibovespa foi pressionado por Wall Street, com agentes reagindo a dados de auxílio-desemprego dos EUA e à ausência de grandes medidas de política monetária do Banco Central Europeu. O índice S&P 500 caiu 0,92%.

Enquanto seguiram monitorando a evolução diária do Covid-19 no mundo, analistas também deram atenção a números trimestrais corporativos e de atividade econômica, assim como aos pacotes de governos, par tentar medir a dimensão e duração do estrago sobre os ativos financeiros consequentes das medidas de isolamento para tentar o avanço da pandemia.

Em meio a dados assustadores de retração econômica e a previsões sombrias de empresas, os agentes encontraram algum alívio em um punhado de balanços trimestrais acima do esperado, novas ofensivas de flexibilização monetária ao redor do mundo e na esperança de tratamentos eficazes para o coronavírus.

"Tendo passado por medidas que alteraram profundamente a forma de fazer negócios, as economias estão, cautelosamente, voltando à normalidade enquanto as pesquisas para encontrar uma cura avançam", afirmaram analistas da Levante Investimentos.

Nesta sessão, os agentes encontraram bons motivos para vender ações em embolsar parte dos lucros dos últimos três dias.

Os pedidos de auxílio-desemprego nos EUA somaram 3,84 milhões na semana encerrada em 25 de abril. No Brasil, a taxa de desemprego terminou o primeiro trimestre em 12,2%, com 12,85 milhões de desempregados, movimento sazonal, mas que já deu os primeiros sinais da pandemia.

Em outra frente, investidores também reagiram ao possível adiamento do alívio nas medidas de isolamento para combater o vírus. A pandemia deve chegar ao seu pico no Brasil em 10 de maio e há chance de se agravar depois com a queda no isolamento social em parte do país.

DESTAQUES

- BRADESCO PN desabou 7,22%. O banco provisionou 2,7 bilhões de reais para perdas esperadas com inadimplência e pode reservar mais nos próximos meses, avaliando a crise como mais severa que as anteriores. ITAÚ UNIBANCO PN recuou 3,76% e SANTANDER caiu 4,6%.

- MULTIPLAN ON caiu 6,6%. A empresa está vendo demanda reprimida na reabertura de shoppings do país e avalia que o desemprego causado pelas medidas de isolamento social vai pesar na capacidade de consumo da população.

- SUZANO ON ganhou 1,8%, em sessão era positiva para o setor de papel e celulose, com KLABIN UNT avançando 1,5%.

- PETROBRAS PN recuou 0,8%, enquanto PETROBRAS ON perdeu 1,84%, após subir mais de 14% na semana. A empresa aprovou um novo modelo de gestão para a assistência médica aos funcionários, que deve economizar pelo menos 6,2 bilhões de reais em dez anos (a valor presente).

- SMILES ON caiu 8,87%, na última sessão antes de sair do Ibovespa.

Dólar sobe 4,6% em abril e tem quarto mês seguido de alta

O dólar subiu 4,66% em abril, o quarto mês consecutivo de alta. No ano, a moeda americana tem valorização de 35,6%, e o real é a divisa com pior desempenho em uma cesta de 34 divisas. A pandemia do coronavírus, a perspectiva de mais cortes de juros e a turbulência política estão entre os fatores que fizeram o dólar testar níveis históricos este mês no Brasil. Mesmo com as fortes altas, há analistas prevendo que a divisa dos Estados Unidos possa subir mais e testar valores acima de R$ 6,00 nas próximas semanas, caso o cenário em Brasília piore.

Na semana que termina nesta quinta-feira, 30, o dólar acumula queda de 3,93%, a primeira de baixas desde o início do mês. Hoje, o dia foi marcado por uma realização de ganhos, após três quedas seguidas, movimento também observado nas outras moedas de países emergentes, em meio a nova rodada de divulgação de indicadores ruins na Europa e Estados Unidos. A compra de dólares foi estimulada ainda pela tradicional cautela antes de feriados, que fazem o investidor buscar refúgio em divisas fortes, especialmente neste momento de pandemia. O dólar à vista terminou a quinta-feira, dia que teve a definição do referencial Ptax de abril, em alta de 1,56%, a R$ 5,4387. O dólar junho, que passou a ser o contrato mais líquido a partir de hoje, subiu 2,84%, a R$ 5,4955.

"O real está no olho do furação, por conta do risco político e da covid", afirma o economista sênior para América Latina da consultoria inglesa Pantheon Macroeconomics, Andres Abadia. Ele comenta que o ambiente político piorou no Brasil, ajudando a depreciar ainda mais o real, em um momento que as perspectivas já não eram boas por conta do choque do coronavírus, que tem provocado frequentes cortes nas previsões para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. O economista projeta queda de 2,5% este ano, mas avisa que o número deve ser revisto.

Abadia prevê que o Banco Central vai cortar os juros em 0,50 ponto porcentual em maio, mas avalia que a própria disparada do dólar pode começar a ter impacto na inflação pela frente, limitando o espaço para novas reduções da Selic. No lado fiscal, o economista afirma não ter dúvidas de que as contas públicas brasileiras vão ter deterioração significativa pela frente e a dúvida é se a austeridade fiscal vai voltar ao foco do governo em 2021.

Nos últimos dias, vários bancos revisaram para cima suas projeções para o dólar no final do ano. O Morgan Stanley e o Asa Bank não descartam a moeda acima de R$ 6,00. O grupo financeiro ING vê a divisa voltando a casa dos R$ 5,80 nos próximos 30 dias e R$ 5,50 daqui a três meses. Intervenções do Banco Central, como a autoridade monetária tem feito diversas vezes nas últimas semanas, devem seguir fornecendo liquidez ao mercado, mas isso não deve impedir o real de testar novas mínimas, na medida em que os cortes de juros vão prosseguir, afirmam os estrategistas do ING.

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Fonte:
Reuters/Estadão Conteúdo

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