Mercado de açúcar: PÉS NO CHÃO, por Arnaldo Luiz Correa, da Archer Consulting
A semana do açúcar foi encurtada pelo feriado nos Estados Unidos na última segunda-feira e antecipa a provável queda de volume que vai ocorrer em função do Carnaval no Brasil, que começa nesta sexta-feira e vai até quarta ao meio-dia quando recomeça o expediente em grande parte das empresas. Costuma-se dizer no Brasil que o ano começa pra valer depois do Carnaval. Vamos ver o que isso vai trazer efetivamente para o açúcar.
De concreto, nunca tivemos um volume de fixação tão extraordinário como esse, nem as usinas se anteciparam na fixação de preços na maneira agressiva que estamos observando. Existem muitas usinas, por exemplo, que estão fixadas 100% do volume comprometido para a exportação de açúcar para a safra 2020/2021, cuja cana ainda nem foi moída. E, sem nenhum receio, acredito que elas fizeram o que era correto. Não dá para jogar fora uma fixação de açúcar nos níveis atuais em reais por tonelada para este ano. Além do mais, como já dissemos aqui no último comentário, o dólar tem se valorizado além do que poderíamos supor e isso está ajudando as usinas a tomarem a decisão de fixar preços. E o petróleo está em queda. Imaginem se ainda tivéssemos acima dos 60 dólares por barril base WTI. Mas nós não estamos lá ainda.
Segundo a especialista em energia em NY, Patricia Hemsworth, “por causa da Líbia, é provável que a OPEP reduza a produção, em cerca de um milhão de barris por dia devido ao reinício dos combates na aparentemente interminável guerra civil. A China está comprando um grande volume de petróleo bruto aproveitando o que parece ser o fundo do poço. Isso vai pesar no mercado lá adiante. Os preços só vão se recuperar quando a China começar a voltar ao normal, quando a fase do coronavirus passar”. Ou seja, a recuperação de preços pode ocorrer mas com velocidade moderada.
A situação de redução substancial na disponibilidade de açúcar por parte da Tailândia já está devidamente refletida nos preços. O Centro-Sul ainda é uma incógnita para o mercado mundial. As apostas de aumento no mix de açúcar vão de 37.5 a 50.0% o que demostra que ninguém tem a menor idea do que se passa na cabeça das usinas. Com razão, elas comparam as curvas de preços do etanol ao longo do ano com as de açúcar levando em consideração o câmbio valorizado. Outras questões são de de difícil monetização e dependem de logística, fluxo de caixa, disponibilidade de armazenagem e tancagem e contratos comerciais já firmados. A decisão nem sempre passa apenas por melhor liquidação.
Os fundos aumentaram a posição comprada em cerca de 10,000 contratos elevando a posição total para 159,000 enquanto as usinas continuam hedgeando açúcar em NY numa escala de alta. Como a volatilidade das opções está razoavelmente palatável, fixar preços em reais por tonelada e comprar calls (opções de compra) fora do dinheiro para participar numa eventual continuação da alta é uma estratégia inteligente.
Digo isso porque, como já ocorreu em outras situações em que os preços na tela de NY eram bastante remuneradores, as usinas temem que o mercado continue subindo após a fixação de preços. É possível, claro. Ninguém tem bola de cristal para saber qual será o pico do mercado. No entanto, é bom observar os sinais.
Por exemplo, a Refinaria de Dubai Al Khaleej Sugar (AKS) entregou mais de 300,000 toneladas de açúcar branco contra a expiração do contrato branco de Londres. Como o prêmio atingiu mais de 100 dólares por tonelada, a disponibilidade se fez presente. Preços altos normalmente são excelente cura para preços altos. E esse nível de prêmio (100 dólares por tonelada sobre o açúcar bruto) certamente traz enorme rentabilidade para a AKS. Ele incentiva a compra de açúcar bruto para refino aproveitando os excelentes prêmios mas, por regra, estreita o prêmio de branco.
Na semana que vem ocorre a expiração do contrato de março que pode trazer mais elementos para a consolidação da trajetória de preços. As últimas entregas trouxeram pouca volatilidade ao mercado. NY precisa de eventos exógenos de alta magnitude para que encontre espaço além dos 15 centavos de dólar por libra-peso para o próximo vencimento, que é maio. No curto prazo, esses eventos poderiam ser, mas não se esgotam neles, uma redução expressiva na safra indiana ou um aumento extraordinário no preço internacional do petróleo. Nenhum dos dois, nesse momento, parece ter razoável probabilidade.
Mesmo que se tenha um incontrolável otimismo para o açúcar, não dá para ignorar o impacto do coronavírus nas commodities, nas moedas dos países emergentes, no consumo de energia de maneira geral e na provável redução do crescimento econômico mundial. É melhor ter os pés no chão.
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Bom carnaval.
Arnaldo Luiz Corrêa
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