Brexit começa e Reino Unido busca negócios com EUA
Um dia antes de o Reino Unido deixar a União Europeia (UE), o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, recebeu ontem o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, que enfatizou os "enormes benefícios" para os dois países do acordo comercial pós-Brexit que eles estão prestes a negociar.
Três anos e meio após a decisão britânica de deixar a União Europeia, o Reino Unido experimenta uma situação econômica paradoxal: os investimentos caíram e o crescimento é lento, mas o desemprego está em um mínimo histórico. A aproximação com os EUA é uma aposta de Johnson para compensar as perdas do Brexit.
É difícil saber quanto a saída da UE custou ao Reino Unido até agora, mas é certo que o crescimento da economia tem patinado: de 1,8%, em 2017, para 1,4%, em 2018, de acordo com o Escritório de Estatísticas Nacionais (NSO).
A reunião de Johnson e Pompeo, em Londres, durou meia hora. Ao sair, o chefe da diplomacia americana disse que tinha sido um encontro "fantástico".
"Estou otimista, porque havia coisas que o Reino Unido tinha de fazer como membro da UE e agora eles podem fazê-lo de maneira diferente", disse Pompeo.
"Tudo isso será visto no acordo de livre-comércio que queremos começar a negociar imediatamente. Quando você olha pelo espelho retrovisor, verá os enormes benefícios para nossas duas nações."
Depois que o Parlamento Europeu ratificou o acordo de saída, na quarta-feira, o Reino Unido deixará o bloco hoje à meia-noite (20 horas de Brasília), embora na prática quase nada mude durante o período de transição planejado até o final de dezembro.
Londres encerrará quase 47 anos de relacionamento com a UE, que, pela primeira vez em sua história, perderá um membro e conquistará um poderoso concorrente comercial e financeiro à sua porta.
Um dos principais argumentos dos defensores do Brexit tem sido - desde a campanha do referendo de 2016 em que ele foi decidido por 52% dos votos - recuperar o controle de sua política comercial para negociar livremente acordos com outros países.
É certo que a esmagadora vitória de Boris Johnson nas eleições legislativas de dezembro deu ânimo à economia. A primeira estimativa dos índices que medem o crescimento da atividade econômica indicou na semana passada uma recuperação em um nível que não era visto desde setembro de 2018, após cinco meses de queda.
Além disso, uma pesquisa publicada pelo principal sindicato patronal, o CBI, mostrou uma recuperação do otimismo entre os empresários. A confiança aumentou para 23% no período de três meses encerrado em janeiro, algo que não ocorria desde 2014, em comparação com 44% negativos da pesquisa anterior.
Prioridade
O presidente americano, Donald Trump, considera "uma prioridade absoluta" alcançar um ambicioso acordo de livre-comércio com o Reino Unido, e seu secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, disse que espera concluí-lo ainda neste ano.
Mas Washington e Londres terão percalços. A decisão britânica de permitir que a fabricante chinesa de telecomunicações Huawei participe, mesmo que limitadamente, de sua rede 5G é uma das principais.
Washington acusa a gigante tecnológica chinesa de ser espiã do governo de Pequim, o que a empresa nega. Com esse argumento e em um contexto de rivalidade comercial, ele pediu a seus aliados que excluíssem a Huawei do desenvolvimento da próxima geração de sua rede de internet móvel de alta velocidade.
"O Partido Comunista Chinês representa a principal ameaça do nosso tempo", afirmou Pompeo em Londres. Johnson havia defendido o direito dos britânicos de acessar a tecnologia de ponta da Huawei, e disse que isso não vai prejudicar a cooperação com os Estados Unidos.
Europa. Ao mesmo tempo em que costura acordos com Washington, Johnson deve negociar o futuro relacionamento com a UE após o Brexit. Até agora, seus 27 parceiros temem que o Reino Unido se torne um concorrente injusto, exigindo que respeitem um certo número de normas de direitos trabalhistas, ou ecológicas, para acessar o mercado europeu. Esse exercício será delicado.
Nas negociações com os EUA, Londres poderá ter de aceitar, por exemplo, produtos com padrões menos rígidos para a saúde, ou para o meio ambiente, em relação aos alimentos, do que os impostos pela UE.
Entre outras questões que complicam as relações anglo-americanas, estão o projeto britânico de taxar gigantes da internet, a recusa dos EUA em extraditar a mulher de um diplomata envolvido em um acidente de trânsito que matou um adolescente na Inglaterra, assim como a denúncia de um procurador de Nova York de que o príncipe Andrew, filho da rainha Elizabeth II, não estaria cooperando com uma investigação do FBI sobre o pedófilo Jeffrey Epstein, morto em agosto. (Com agências internacionais)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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