Cepea: preços do trigo sobem no País com ausência de vendedores e dólar alto
São Paulo, 20 - A ausência de vendedores no mercado de trigo tem impulsionado os preços internos do cereal. O patamar elevado do dólar, acima de R$ 4,17 no mercado futuro da B3, também pesa, ao encarecer as importações.
Segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) antecipado ao Broadcast Agro, a oferta do trigo de qualidade - com PH 78 ou superior - é baixa e as cotações continuam elevadas mesmo com a demanda da indústria enfraquecida, já que os moinhos mantêm estoques que atendem, em média, dois meses.
Com base em dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Cepea destaca que, até a primeira dezena de janeiro, o cereal importado da Argentina era negociado a R$ 993,08 por tonelada, enquanto o trigo brasileiro, no Paraná, estava em R$ 879,77 por tonelada. Para o Rio Grande do Sul, o trigo importado era cotado a R$ 963,56 por tonelada, contra R$ 804,03 por tonelada no Estado.
Nesse cenário, entre 10 e 17 de janeiro, os preços do trigo no mercado de lotes subiram 0,7% do Rio Grande do Sul, 1,4% no Paraná, 2,6% em São Paulo e 5,3% em Santa Catarina, conforme cálculos do Cepea. Quanto ao mercado de balcão (valor pago ao produtor), as cotações subiram 2,1% no Rio Grande do Sul e 0,9% no Paraná.
Na Argentina, o Ministério da Agroindústria registrou avanço de 9% no preço FOB, a US$ 230 por tonelada na sexta-feira, 17.
"Este é o maior valor desde o final de outubro/19, período que antecedeu a colheita. A alta está atrelada à maior demanda pelo cereal. A Bolsa de Rosário indica, contudo, que o valor do produto que será embarcado em janeiro é referente a contratos fechados anteriormente e, atualmente, não há interesse significativo em realizar novos negócios", mostra a análise.
Por outro lado, já foram comercializadas 14,8 milhões de toneladas de trigo argentino - sendo 13,44 milhões de toneladas para exportação e 1,4 milhão de toneladas, para o mercado interno, o que deixa menos de 5 milhões de toneladas para serem comercializadas.
Área plantada de trigo nos EUA recua aos níveis de 1909 e impulsiona cotaçõesNova York, 20 - As plantações de trigo nos Estados Unidos atingiram a menor área em mais de um século, provocando elevação dos preços para acima de US$ 5,60 por bushel. Nesta temporada, foram cultivados cerca de 30,8 milhões de acres (12,46 milhões de hectares) com trigo de inverno, área 1% menor em relação ao ano anterior, mas não muito maior do que o semeado em 1909, 29,2 milhões de acres (11,93 milhões de hectares), de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). A redução da área com trigo ocorre porque o trigo está perdendo espaço para culturas mais rentáveis, como o milho e a soja. Essa substituição é observada no centro-oeste, como a oeste do Rio Mississippi, particularmente nas planícies do sul do Texas, Oklahoma e Kansas, segundo o executivo-chefe do grupo industrial Kansas Wheat, Justin Gilpin. As quedas ocorrem ao mesmo tempo em que a Rússia se estabelece como grande fornecedor mundial. Problemas de qualidade com as recentes colheitas de trigo de Chicago também fizeram os preços subirem. O tempo úmido e de chuvas atrasou os cultivos e colheitas de milho e soja no Centro-Oeste no ano passado, o que prejudicou a cultura do trigo, normalmente plantado após as colheitas do fim do verão. O clima também reduziu a qualidade do cereal, esgotando o teor de proteínas e desencorajando novas plantações. A expectativa é que os preços mais altos do trigo afetem mais as empresas Campbell Soup Co. e a Kellogg Co., que dependem do cereal para fazer biscoitos e cereais, segundo analistas da Bernstein Research. As exportações do cereal também tornaram-se cada vez mais difíceis com o dólar forte, avalia o corretor de futuros da Daniels Trading em Chicago, John Payne. "Se você não está exportando trigo, não faz sentido cultivá-lo", disse. "Não podemos processar o suficiente neste país para realmente usá-lo." A alta das cotações do produto também ocorre, em parte, por causa da diminuição da produção na Austrália, onde a seca e os incêndios prejudicaram a safra, assim como na Rússia. Os traders também continuam atentos à possibilidade de redução da oferta russa, com as notícias de que o País deve limitar as exportações este ano. Fonte: Dow Jones Newswires
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