Tensão no Oriente Médio pressiona exportação de trigo dos EUA
A crescente tensão no Oriente Médio ameaçam dificultar ainda mais o mercado de exportação dos produtores de trigo dos Estados Unidos. Temores de retaliação do Irã após o ataque aéreo americano que matou o general iraniano Qassem Soleimani, em Bagdá, despertaram a preocupação de que os produtores dos EUA possam perder acesso aos mercados do Oriente Médio, destino importante para exportações de grãos americanos.
Sem demanda contínua do Oriente Médio, os agricultores, que já enfrentaram dificuldades por causa da recente guerra comercial entre EUA e China e do clima difícil no ano passado, podem enfrentar novos obstáculos em 2020.
Os futuros de trigo negociados na bolsa de Chicago já tiveram impacto desde o ataque aéreo, caindo 2,2% para cerca de US$ 5,50 o bushel nos últimos dois pregões. Antes do declínio, o trigo estava em alta, atingindo o maior nível desde o verão de 2019, a US$ 5,60 o bushel na semana passada. Esse nível de preço refletia o otimismo de que a assinatura de um acordo comercial preliminar neste mês destravaria a demanda da China.
O conflito também influenciou o Índice Jefferies Shipping, que acompanha o desempenho das companhias de navegação. O aumento da semana passada foi de 2,4%, com base na previsão de que o ataque levaria a um "pagamento de risco" para navios de carga que operam na área."Colocar um navio-tanque ou um cargueiro lá será mais arriscado. Não sabemos como os iranianos reagirão", disse Dan Basse, presidente da empresa de pesquisa agrícola AgResource Co.
Os países do Oriente Médio devem importar 17,3 milhões de toneladas de trigo no ano comercial de 2019/20, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), o que os tornará alguns dos maiores importadores da commodity fora do Sudeste da Ásia e do norte da África.
Em contrapartida, os EUA reivindicam apenas uma pequena parcela das exportações para a região. O Oriente Médio importou apenas 1,6 milhão de toneladas dos EUA em 2018, conforme dados da Comissão de Comércio Internacional dos EUA, o último ano de dados completos atualmente disponíveis.
Desses países, o Iraque e o Iêmen estão entre os maiores importadores de trigo dos EUA. Nesta semana, o Iraque - que importou cerca de 470 mil toneladas de trigo americano até outubro de 2019 - votou pela expulsão das tropas americanas do país em reação ao ataque aéreo que matou Soleimani em Bagdá. A votação estimulou ameaças de sanções do presidente Trump.
A expectativa dos comerciantes de grãos dos EUA é a de que eventos climáticos, como os incêndios na Austrália, aumentem a demanda por trigo e outras produções agrícolas dos EUA. Além disso, os traders mantiveram a esperança de um enfraquecimento do dólar americano em 2020 possa estimular ainda mais o interesse pelas commodities dos EUA. "(O trigo é) um mercado mundial, seria o maior beneficiário disso", disse Jason Britt, presidente da Central States Commodities, em Kansas City.
Em vez disso, as notícias do ataque aéreo impulsionaram os investidores em direção a ativos-refúgio, incluindo dólar e ouro. A incerteza prolongada em torno de um aumento das hostilidades na área pode fazer com que o dólar se fortaleça e, assim, atenue ainda mais a demanda de trigo, disse Britt.
Os agricultores dos EUA têm lutado para passar por uma estação de crescimento difícil, especialmente no Cinturão do Milho. O tempo chuvoso recorde, combinado com a demanda restrita de exportação durante a guerra comercial, levou a falências agrícolas em 2019. Mas apesar da situação incerta no Oriente Médio, alguns comerciantes de grãos disseram que acham cedo para julgar o efeito no trigo americano e nos outros grãos.
"O mercado precisa precificar com alguma preocupação, mas não tenho certeza de que isso impactará o mercado ainda", disse Rich Nelson, estrategista-chefe da corretora agrícola Allendale Inc. Os futuros de trigo negociados na Bolsa de Chicago (CBOT) fecharam em queda na segunda-feira, 6. O vencimento março caiu 4,50 cents (0,81%) e fechou em US$ 5,50 por bushel.
Fonte: Dow Jones Newswires
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