Pesquisa indica que não há dose segura de agrotóxico
Alvo de ataques constantes, a produção agropecuária no Brasil vem acumulando derrotas seguidas na batalha da comunicação. O mais recente alvo de críticas na mídia urbana é o avanço na liberação de defensivos agrícolas utilizados nas lavouras do país. O que deveria ser encarado como positivo, seja pela modernização dos princípios ativos aprovados ou pela redução na burocracia para liberação de produtos testados, aprovados e utilizados em outros países, deixando o Brasil na vanguarda da produção sustentável de alimentos, acaba sendo apresentado como retrocesso. Argumentos que amplificam o medo são divulgados a todo o momento. Vejam os dois exemplos mais recentes de terrorismo contra os defensivos agrícolas no país:
Um clássico da literatura e da televisão foi recriado no Zorra programa humorístico da TV Globo, exibido no último sábado, 3/8. Inspirado no 'Sítio do Picapau Amarelo', de Monteiro Lobato, o programa criou o esquete 'Sítio do Picapau com Sequela'. No clipe, o programa fez críticas ao uso dos agrotóxicos e o impacto de algumas decisões políticas.
Acompanhe o que diz a paródia:
Borrifada na goiaba
Pra agradar a tal bancada
Tem veneno na panela
tchu tchu tchu tchu
E a banana brilha amarela
Sítio do picapau com sequela
Espiga de milho transgênico
Caprichada no arsênico
E o saci criou três pernas
tchu tchu tchu tchu
Pra ruralista a vida é bela
Sítio do picapau com sequela
Agrotóxico na semente
Rabicó ficou doente
Dona Benta matusquela
tchu tchu tchu tchu
E a Emília ficou banguela
Sítio do picapau com sequela
tchuru tchu tchutu tchu tchu tchuru
No mesmo final de semana, foi veiculada pelo site UOL, reportagem produzida pelo Estadão Conteúdo, que repercute pesquisa elaborada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com o título : Pesquisa indica que não há dose segura de agrotóxico. Os estudos teriam sido feitos com 10 defensivos agrícolas de largo uso na produção agrícola brasileira. Os pesquisadores testaram diferentes concentrações dos pesticidas que foram diluídas na água de aquários contendo ovas fertilizadas de peixes-zebra. Em seguida, em intervalos de 24, 48, 72 e 96 horas, os embriões foram analisados no microscópio para avaliar se a exposição havia causado deformidades e também se tinha inviabilizado o desenvolvimento. E adivinhem o resultado da pesquisa.
No UOL: Pesquisa indica que não há dose segura de agrotóxico, por Estadão
RIO - Uma análise de dez agrotóxicos de largo uso no País revela que os pesticidas são extremamente tóxicos ao meio ambiente e à vida em qualquer concentração — mesmo quando utilizados em dosagens equivalentes a até um trigésimo do recomendado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Encomendado pelo Ministério da Saúde e realizado pelo Instituto Butantã, o estudo comprova que não existe dose mínima totalmente não letal para os defensivos usados na agricultura brasileira.
“Não existem quantidades seguras”, diz a imunologista Mônica Lopes-Ferreira, diretora do Laboratório Especial de Toxinologia Aplicada, responsável pela pesquisa. “Se (os agrotóxicos) não matam, causam anomalias. Nenhum peixe testado se manteve saudável.” A pesquisa foi originalmente encomendada pelo Ministério da Saúde à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Em gesto considerado corriqueiro entre institutos de pesquisa, a Fiocruz pediu ao Instituto Butantã que realizasse o estudo, uma vez que tinha mais expertise nesse tipo de trabalho.
Aprovação mais rápida de pesticidas no Brasil não prejudica ambiente, diz ministra
SÃO PAULO (Reuters) - A ministra da Agricultura do Brasil, Tereza Cristina, disse nesta segunda-feira, em resposta a críticas de ambientalistas, que a recente aceleração pelo governo de aprovações de pesticidas não é prejudicial para a segurança alimentar e nem para o meio ambiente.
Ela elogiou esforços de produtores rurais para a preservação de terras e disse que as aprovações mais rápidas dos defensivos agrícolas no país significam mais tecnologia à disposição do campo.
Ao participar de evento do setor em São Paulo, a ministra afirmou que o governo e empresas precisam cooperar para manter a reputação do Brasil como um produtor sustentável de produtos agrícolas.
"Nós precisamos ganhar a guerra de comunicação... nós precisamos que todos falem a mesma língua", disse.
Os comentários da ministra vêm em momento em que o Brasil enfrenta crescentes críticas, particularmente no exterior, devido a questões ambientais, como desflorestamento e regulação de pesticidas.
Dados do governo mostraram que o desflorestamento na Amazônia cresceu neste ano, com o presidente Jair Bolsonaro priorizando o desenvolvimento econômico e minimizando questões relacionadas à preservação.
O Brasil, maior exportador global de uma ampla gama de produtos alimentícios, como açúcar, café e carne bovina, não irá comprometer a segurança alimentar e nem o meio ambiente ao permitir o uso de mais pesticidas, disse a ministra.
"Nós estamos modernizando, trazendo novos pesticidas, quebrando patentes e aprovando novas moléculas", afirmou ela em coletiva de imprensa.
"O Brasil estava atrasado em relação (à aprovação) dessas moléculas. Quase todos países usam esses produtos, há muita informação errada", afirmou ela, durante o Congresso Brasileiro do Agronegócio 2019.
Outros participantes do evento, que reuniu produtores rurais e executivos de empresas que fornecem para o setor, expressaram preocupação com o que apontam como danos à imagem do setor causados pelo governo.
O chefe da área de pesquisa da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (Instituto CNA), Roberto Brant, afirmou que movimentos recentes, como a exoneração do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) após uma discussão com Bolsonaro sobre dados de desmatamento, são negativos para o setor.
"Esse governo está destruindo a imagem do setor agrícola brasileiro", afirmou ele.
O presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Marcello Brito, afirmou que produtores devem ajudar o Brasil a controlar o desmatamento ilegal.
"Isso às vezes acontece perto de nossas fazendas. Nós deveríamos denunciar os madereiros ilegais, deveríamos tomar uma posição de liderança contra o desmatamento", disse ele.
(Por Ana Mano e Marcelo Teixeira)
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