Jair Bolsonaro entre EUA, OCDE e China (por MARCOS YANK)

Publicado em 30/03/2019 19:53
Avançamos com os EUA; é hora de dar passos equivalentes na OCDE e na China, diz Marcos Sawaya Jank, especialista em questões globais do agronegócio.

A missão de Bolsonaro aos Estados Unidos representou uma quebra de paradigmas após décadas de desconfiança mútua ou distanciamento explícito entre as duas maiores economias das Américas.

Além do Acordo de Salvaguarda Tecnológica, que vai repaginar o centro de Alcântara (MA), foram lançadas iniciativas relevantes de cooperação em temas como inovação, energia e segurança, além da retomada do Fórum de CEOs.

O grande destaque da área econômica foi o apoio dos EUA ao nosso pleito de ingresso na OCDE, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Fundada em 1961, a OCDE conta hoje com 36 membros e uma fila de 8 países lutando pelo título de acesso ao chamado “clube dos ricos”.

Ocorre que, para entrar na OCDE, o Brasil teria de convergir para um “patrimônio normativo” (chamado de “acquis”) de 250 instrumentos entre decisões, recomendações e declarações. Acredita-se que não teremos maiores dificuldades para cumprir com 90% dos instrumentos solicitados.

Participar da OCDE seria um “divisor de águas” para o Brasil. Vale citar pelo menos três benefícios:

a) influência na administração da entidade e na elaboração de normas e padrões que tendem a se tornar referência global;

b) comparação internacional de dados, legislações, políticas e resultados que permitiriam ao Brasil se alinhar com as melhores práticas internacionais em áreas que vão de economia a segurança, saúde e ambiente;

c) reconhecimento internacional como país favorável aos negócios, ganhando credibilidade e contribuindo para a recuperação do grau de investimento, que perdemos em 2015.

No agronegócio, criticou-se que as concessões feitas estariam desbalanceadas a favor dos EUA. Na realidade, todos os assuntos tratados na visita constituem velhos conflitos bilaterais, sendo que os avanços em acesso a mercados dependem de pequenas barganhas (trigo x carne bovina, açúcar x etanol etc.). A verdade é que os EUA são “concorrentes”, e não “clientes” do Brasil.

A verdadeira cooperação no agro seria construir uma visão e uma agenda de longo prazo entre os EUA (1º exportador mundial) e o Brasil (3º exportador) em temas globais como segurança alimentar, acesso a mercados, inovação, biotecnologia, bioenergia e outros. Essa visão poderia, inclusive, ser compartilhada com outros grandes exportadores agrícolas (Canadá, Austrália, Tailândia e Argentina), que comungam da mesma agenda e preocupações.

Porém, infelizmente, o ambiente internacional de hoje dificulta a cooperação com os americanos, que estão para assinar um acordo grande envergadura com a China que pode inaugurar uma nova era de “comércio administrado” por interesses unilaterais e geopolíticos. Esse acordo poderá afetar o nosso acesso à China em pelo menos cinco cadeias agroindustriais.

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, tem demonstrado grande lucidez, pragmatismo e habilidade para navegar nos mares revoltos que marcam o início do novo governo. Ela irá à China em maio, precedendo uma visita que Bolsonaro fará ao país ainda neste ano.

Há três assuntos cruciais a serem tratados:

- garantir que o acordo EUA-China não cause prejuízos para as exportações brasileiras;

- oferecer solidariedade e apoio do Brasil num momento que a China enfrenta uma gravíssima epidemia de peste suína africana, que pode derrubar a produção local em até 30%, gerando aumentos de preços e a necessidade de importações de diferentes carnes;

- discutir as oportunidades da “Belt and Road Initiative” (BRI), que nasceu em cima do traçado da antiga rota da seda, que uniu China e Europa por mar e terra, mas pode se estender à América do Sul com grandes investimentos em infraestrutura de transportes e portos.

Demos um passo importante na consolidação da parceria estratégica com os EUA. Agora é hora de dar passos paralelos e equivalentes na direção da OCDE e da China.

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Fonte:
Notícias Agrícolas

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1 comentário

  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    Pessoal, ontem eu estava de bobeira aqui, pensando no que é um discurso politico? A diferença que existe entre a impressão que se quer causar e a própria realidade. Nesse negócio de estudar o mercado financeiro, aprendi muitas coisas, como o fato de pessoas despejarem dados feito cachoeira na cabeça dos leitores. E pensando nisso, lembrei de que dados podem ser utilizados para qualquer coisa, para provar algo ou seu contrário, e para isso basta esconder qualquer contradição. Usa-se apenas o que reforça o nosso ponto de vista, desprezando aquilo que o enfraquece. Então eu peço a voces que prestem atenção ao discurso dos politicos. Ontem assisti o "debate" entre a Kátia Abreu e outro senador que nem sei o nome, mas esse sujeito dizia que a reforma da previdencia ia atingir as entranhas do país, destruindo a sociedade brasileira de modo irremediavel, e que obviamente o próprio autor do discurso tinha soluções melhores para o povo brasileiro do que as apresentadas pelo ministro Paulo Guedes. Então, numa linguagem mansa ele ofendia incessantemente o ministro, desqualificando, esforçando-se para pregar no ministro a pior impressão possivel, e se possivel fosse, destruir completamente o discurso e também a própria autoridade que o cargo conferiu ao Paulo Guedes. Isso sem falar na senadora Kátia Abreu que mentiu descaradamente afirmando que a aposentadoria de um senador tem o teto máximo de 5800 reais. E ainda deu uma pancada nos militares dizendo que são eles os marajás brasileiros que ganham mais de 30000 por mes de aposentadoria. E aí fui pensando e lembrando dos produtores que reclamavam da falta de respeito da sociedade em relação à classe. E pensei em como a sociedade pode respeitar produtores que apoiam esse tipo de politico? Falsos, cinicos, mentirosos, trapaceiros, não dá para ter respeito por essas pessoas e por tabela por aqueles que lhes oferecem apoio moral e politico. Tive a idéia de fazer esse comentário pensando no que escreveu o articulista acima, de que a china "pode" perder 30% da produção de suinos do país, e eu não creio que os chineses sejam um povo tão desorganizado assim, mas de qualquer forma uma pessoa que le e incorpora isso ao pensamento, pode ficar esperando a materialização disso, sem lembrar que mesmo que isso ocorra provavelmente não será no tempo exato em que necessita ou espera que isso ocorra. E eu agora vou contar para voces o que ninguém conta, que as exportações brasileiras são feitas em sua maioria pela indústria nacional e não por "exportadores" que exploram o pobre produtor. Que a indústria compra soja para estocar praticamente nos meses de janeiro até fim de abril, numa média aproximada de 30 mi de toneladas. Então nos cálculos que fiz utilizando dados de 3 instituições, o Brasil tem para embarcar ainda 50 mi de ton até fim de dezembro, utilizando uma previsão de mais 17 mi de ton de aquisições pela indústria nacional para moagem até o fim de dezembro. E vou repetir, embora isso seja cansativo para mim, que NÃO é possivel comparar dados do USDA com dados da Conab, pelo fato de que o ano safra americano é de 30 ago até 01 setembro, tenham a santa paciencia, os estoques do USDA para o Brasil indicam o estoque no final de agosto, inicio de setembro e os da Conab fim de dezembro, inicio de janeiro. Então o seguinte, eu vou repetir de novo aqui,...o ano safra brasileiro deve ser modificado para refletir melhor a realidade. Voces acham que vai resolver alguma coisa a ministra Tereza Cristina ir para a china? Ela vai passear lá com suas comitivas como fez Kátia Abreu, como fez o Blairo Maggi, para nada e com o nosso dinheiro. Temos problemas muito graves e importantes aqui para deixar de lado e procurar no lugar disso fazer propaganda politica. A safra de grãos do Brasil ainda não foi colhida, e é perfeitamente possivel que a Conab modifique o ano safra para 30 abril até 1 de maio, por exemplo refletindo assim, de uma maneira correta estoques, consumo, exportações etc... É só isso...

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