Safra brasileira de soja perde potencial diariamente com seca e calor
Lavoura de soja murchando em Birigui/SP
Com cerca de um mês de antecedência, a colheita da nova safra de soja do Brasil foi iniciada. Ainda são trabalhos prematuros - o relato vem de Nova Ubiratã, em Mato Grosso -, de lavouras de ciclo curto - 90 dias - e com produtividades estimadas, inicialmente, na casa de 52 a 53 sacas por hectare.
A colheita é iniciada, porém, sob estimativas que estariam superestimadas, segundo o que acreditam analistas, consultores e produtores brasileiros. Há, afinal, em mais de um estado entre os principais de produção, severos problemas climáticos que têm tirado, diariamente, o potencial produtivo das lavouras.
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O Paraná e o Mato Grosso do Sul já registram perdas consideráveis em função da seca; no Rio Grande do Sul há produtores que tiveram de partir para o quarto replantio e há ainda também 97 casos de ferrugem asiática em lavouras comerciais de soja, de acordo com dados do Consórcio Antiferrugem. O calor extremo também é uma preocupação.
Ainda assim, a Conab estima uma produção de 120,1 milhões de toneladas e o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) espera que o Brasil vá colher 122 milhões. Algumas consultorias privadas já estimavam até 130 milhões de toneladas, o que não bate com os relatos de sojicultores nacionais.
"Há lavouras com condições muito ruins. Oeste do Paraná, parte do Norte e Centro-Sul do estado, partes de Santa Catarina, Rio Grande do Sul já tem muitas lavouras com grandes problemas. Consideramos que no Paraná já tem 3 milhões de toneladas perdidas. Dos 18/18,5 milhões previstos, estamos com 15/15,5 milhões. Se hoje voltar a chover, esa é a previsão da safra", disse o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting.
Como explicou o executivo, a nova safra foi iniciada com muita chuva, muito tempo nublado - o que prejudicou o arranque inicial das lavouras e fez com que não fizessem uma raíz pivotante profunda - e agora os campos sofrem com o tempo excessivamente quente, sem chuvas ou com precipitações chegando em forma de pancadas.
"Se tivéssesmos condições ideais, como tivemos no ano passado, colheríamos 130 milhões de toneladas. Hoje, estamos vendo uma safra de 122 milhões, ela é um pouco maior do que no ano passado porque estamos com mais de 2 milhões de hectares a mais, mas a produtividade já é bem menor do que foi colhido no ano passado e isso é irreversível", diz Brandalizze.
Com a manutenção dessas condições, ainda como explica o consultor, as perdas no Sul do Brasil e parte de Mato Grosso do Sul, podem ser, diariamente, de 200 mil a 300 mil toneladas diante da falta de chuvas. "E isso vai se acumulando. Tem muita planta que já morreu, é o que chamamos de seca verde. A planta está verde, mas dessecada".
Hoje, até este momento, Mato Grosso é o estado onde a safra mosta maior estabilidade, com clima dentro do normal, chuvas chegando com boa regularidade e até agora as expectativas são positivas.
Enquanto no Sul houve desde geadas à temperaturas acima dos 40ºC. Assim, as lavouras estão com pouco vigor, poucas vagens e flores, mostrando sua debilidade.
Paraná
O produtor rural Valdir Fries, que está em Itambé/PR, afirmou, em entrevista ao Notícias Agrícolas, que a maior preocupação dos produtores este ano é, de fato, o clima. No entanto, pontua algumas outras condições que também influencia nessas perdas que já começam a ocorrer no estado.
"Então a questão de perda de produtividade vai depender muito da fertilidade do solo, estrutura de solo, condições de manejo, inoculação de semente, a escolha da própria cultivare planada e o período de plantio. Então existem perdas de 10 a 15% em algumas regiões e em outras próximas de 30 a 40%", diz.
Ainda segundo Fries, a colheita deverá ser antecipada na região, também função do clima, e está prevista para ser iniciada entre 7 e 10 de janeiro. "E muitos produtores que tiveram perdas mais significativas, a depender da cultivar, talvez estarão colheita ainda antes do que eu".
Rio Grande do Sul
Diretor da Farsul (Federação de Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul) e produtor em Santo Ângelo, Cláudio Duarte, chamou a atenção no Notícias Agrícolas à necessidade de diversos replantios no estado, em vários pontos por conta das chuvas excessivas.
"Tivemos uma concentração de chuvas de 140 a 200 mm, o que fez com que houvesse um replantio em algumas partes, e alguns produtores até deixaram parte das áreas. Outros tiveram que replantar toda a área", diz. No entanto, explica que são casos mais localizados.
E a irregularidade das chuvas preocupa bastante. Há propriedades onde choveu 50 mm, outras em que choveu 12 mm, em pouco espaço. Ainda assim, a região conta com boas perspectivas e potencial de recuperação das lavouras.
Em Tupanciretã, não chove há dias e as lavouras vão se perdendo com a falta de chuvas e o excesso de calor castigando as plantações de soja.
São Paulo
Há localidades na região de São Paulo onde as perdas também já começam a aparecer, como Birigui. Por lá, as lavouras já estão perdendo força com a falta de chuvas e o calor forte.
PREVISÃO DO TEMPO
O verão brasileiro, que será iniciado oficialmente em 21 de dezembro, deverá começar com chuvas abaixo da média em áreas do Paraná, Santa Catarina e Sul do Mato Grosso do Sul, segundo previsões do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).
Entre janeiro e março, a região Sul deve registrar chuvas abaixo do normal em quase toda Santa Catarina e em áreas centrais do Paraná e Rio Grande do Sul. As outras localidades dos estados do Sul devem registrar volumes precipitações dentre do normal a acima da normalidade.
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Ao mesmo tempo, institutos internacionais seguem elevando as chances de ocorrência do El Niño durante o verão brasileiro, momento de pico de desenvolvimento da safra de grãos do país.
"Na área central do Brasil, pegando o Mato Grosso do Sul, Paraná, Minas Gerais e Matopiba, a chuva deve ficar acima da média. Em alguns lugares mais ao Sul, a média registrada desses três meses deve ser mais baixa", disse em entrevista ao Notícias Agrícolas Mamedes Luiz Melo, meteorologista do Inmet.
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5 comentários
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Márcio José Gasparelo Rio Verde - GO
Ontem sai de Goiás vim até o noroeste do Paraná... da pra contar na palma da mão as lavouras que não estão sentindo com o veranico...pelo que vi, certamente a produtividade dificilmente chegará a 35 - 40 sc ha, no máximo, incluindo áreas de Goiás, São Paulo e Paraná e muitas área que não vão nem colher. Aí os sabichões do mercado falam em safra recorde. O MT , RS , MG e Matopiba devem fechar com médias acima dos 120 sc ha para chegar nos números desses analistas. O que tá por trás desse mercado de soja??? será que é pecado falar a verdade???; será que é difícil admitir que as lavouras de soja que já estão com mais de 15 dias sem chuvas estão derretendo???. Mas não adianta, a hora que as colheitadeiras entrarem colhendo vamos ver o tamanho do tombo.
Márcio, aqui no MT também estamos há quase 10 dias sem chuva ... e sol de 38 a 40 graus!
Rudinei Luis Erpen Lagoão - RS
O Rio Grande teve boas chuvas nos últimos dias, aliviando o stress nas lavouras -- pois várias localidades estavam passando por uma pequena estiagem. Mas ainda o que preocupa no RS é o stand de plantas, uma vez que são várias lavouras mal nascidas onde foram replantadas várias vezes e não está com uma quantidade de plantas suficientes para se ter uma boa produtividade... acredito que dificilmente se chegue na produção do ano passado e impossível de se falar em recorde de produção nessa safra.
Ivanio Effting Marechal Cândido Rondon - PR
Cadê os entendidos que, de dentro dos seus escritórios na sombra e água fresca, diziam que a super safra que o Brasil iria colher seria a maior super safra da historia. Todo ano é a mesma lenga-lenga.
Para os "entendidos", só tem super safra. Antes de plantar já falam em recorde. Quando tem um problema, fingem que não existe. A quem interessa essa visão vesga? Se eles são analistas, deveriam ser imparciais. Mas somente propagam notícias de super safra. Vão dizer que tem que ser cuidadosos com as informações. Mas por que não tem o mesmo cuidado para anunciar super produção? Antes de plantar a safra já falam em super aqui, super ali... Tudo fake news.
Alex Lopes Sorocaba - SP
Previsão de longo prazo é conversa para boi dormir!...
Cesar Sandri Mineiros - GO
Quero saber da opinião dos agricultores que aqui defenderam o fim do subsídio na agricultura,a respeito desse enorme prejuízo que muitos vão ter e não será por falta de competência.
Esse povo que fala contra ajudar o colono na hora da desgraça não tem um pote de iogurte pra plantar um caroço de feijão. Gente da cidade que acha que melancia dá em árvore. Não conhece a realidade do campo.
É muito triste ver as lavouras perdendo produtividade.. já se fala em plantar o milho sem nem colher a soja..., algum lugares já estão colhendo 20/30 sacos por ha, áreas que foram semeadas cedo, as áreas que precisariam de chuva essa semana já morreram e nem compensa passar a colhedeira, pois é só palha..., o milho vai dar uma quebra grande, e para atender o consumidor de milho, de onde virá de onde esse milho ? Vamos comprar milho dos EUA ? Da Argentina , do Paraguay?? ... e a Conab não está vendo a quebra na soja e no milho ??? Justamente nas área mais produtivas do país ???? A Conab gostam mesmo é de anunciar, antes mesmo do produtor plantar, que vai haver safra recorde.. e agora que está morrendo tudo nem uma nota sequer se fazem !!! Cadê a Conab ??????
Conab ou JBS? Seja mais específico...