Por que mudar a metodologia de cálculo do preço do leite ao produtor?
Buscando diminuir os riscos envolvidos na comercialização, aumentar a transparência e estimular relações de médio a longo prazos, produtores de leite, indústrias e cooperativas do setor têm recorrido cada vez mais ao uso, especialmente nos últimos cinco anos, de referências de preços nas negociações do leite.
O Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”), da USP (Universidade de São Paulo), levanta preços de leite ao produtor há 24 anos. Atualmente, o total de leite negociado das empresas amostradas pela pesquisa do Cepea nos estados de Goiás, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul corresponde a cerca de 76,3% do volume para os mesmos estados da Pesquisa Trimestral do Leite, do IBGE[1]. Por conta disso, o trabalho do Cepea tem ganhado visibilidade e auxiliado na tomada de decisão e no planejamento de agentes do setor.
Diante das transformações do sistema agroindustrial do leite e das novas demandas que têm surgido para melhorar a acurácia do levantamento, o Cepea adotará uma nova metodologia de cálculo do preço do leite ao produtor a partir de janeiro de 2019.
A principal mudança metodológica será a forma de coleta de dados, que passará a ser realizada de modo desagregado. Isso significa que, todo mês, os colaboradores cadastrados encaminharão via e-mail ao Cepea o preço líquido pago ao produtor (sem frete nem impostos) e o volume captado de cada um de seus produtores, assim como a cidade em que o produtor está localizado (utilizando-se como base o código do IBGE para o referido município). Além disso, os colaboradores também enviarão o valor médio de frete. Essa coleta desagregada permitirá ao Cepea calcular as médias de preços de forma padronizada entre os colaboradores. Assim, será possível agrupar os dados de acordo com o município em que o produtor está localizado, refletindo com mais exatidão as médias de preços mesorregionais.
Também será possível agregar os dados conforme os estratos de produção, ou seja, de acordo com a captação diária do produtor. Sabe-se que podem ser grandes as diferenças de qualidade do leite e consequentemente do preço líquido praticado.
Na metodologia a ser utilizada até 31 de dezembro de 2018 são calculados os preços mínimos, máximos e médios. Com a nova metodologia a ser implementada a partir de 1º de janeiro de 2019, o Cepea passa a calcular o preço médio do menor estrato de produção (definido como a média ponderada dos preços pelos volumes negociados com produtores cuja captação diária seja menor ou igual a 200 litros de leite por dia) e um valor médio do maior estrato de produção (definido como a média ponderada dos preços pelos volumes negociados com produtores cuja captação diária seja maior que 2.000 litros de leite por dia). Será divulgado, também, o preço médio ponderado considerando todos os estratos produtivos.
Os cálculos das médias estaduais também passarão por mudanças, tendo como base a ponderação dos preços mesorregionais pela participação do respectivo volume em relação ao total captado no estado. Para isso serão utilizadas informações de volume colhidas pelo Cepea e não mais as originárias da Pesquisa Pecuária Municipal (PPM) do IBGE, que apresentavam defasagem de divulgação que impunha a utilização do volume produzido de dois anos anteriores à pesquisa.
O mesmo vale para a “Média Brasil”, que deixará de ser ponderada pelos volumes da Pesquisa Trimestral do Leite (PTL) do IBGE e passará a utilizar a própria amostra do Cepea para seu cálculo.
TESTES – Com o apoio financeiro e parceria dos associados da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e da Viva Lácteos (Associação Brasileira de Laticínios), o Cepea, desde fevereiro de 2018, aplica essa nova metodologia em paralelo à atual, como uma forma de teste (“piloto”). Os resultados têm sido satisfatórios. Na opinião de agentes de mercado e de pesquisadores do Cepea, a nova metodologia deve elevar a qualidade e a acurácia dos dados.
Agora, o desafio é ampliar a rede de colaboradores para mitigar, ainda mais, as assimetrias de informações e viabilizar a divulgação de médias de preços para outras importantes mesorregiões produtoras de leite. Como resultado, espera-se gerar dados mais estratégicos para o setor e contribuir para o processo de coordenação do sistema agroindustrial do leite, que vem ganhando força ano a ano.
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